Uma pesquisa busca superar entraves e impulsionar a recuperação e o cultivo comercial do pau-rosa (Aniba rosaeodora), árvore nativa da Amazônia historicamente explorada de forma predatória. Valorizada por seu óleo essencial rico em linalol, composto usado nas indústrias de cosméticos e perfumaria fina, a espécie teve sua produção drasticamente reduzida, de 500 toneladas por ano na década de 1970 para apenas 1.480 quilos em 2021.
O projeto conduzido pela Embrapa Amazônia Ocidental (AM) tem como foco a seleção de matrizes de alta qualidade e o desenvolvimento e validação de protocolos de clonagem por estaquia, definição de práticas agronômicas para redução de perdas no plantio e maior uniformidade nos cultivos. Será estabelecida também uma coleção de trabalho, com materiais genéticos de diversas procedências, de forma a oferecer uma ampla base genética para apoiar as atividades de seleção e melhoramento da espécie.
A reprodução do pau-rosa já foi estudada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), porém ainda não foi aplicada em escala comercial. A meta da Embrapa é aprimorar o método de enraizamento para viabilizar a produção em larga escala de mudas clonadas, como já ocorre com culturas consolidadas como café, eucalipto e erva-mate.
A proposta é estabelecer um modelo completo de cultivo, que abranja desde a seleção genética até o manejo no campo, fortalecendo a cadeia produtiva regional. Isso inclui a escolha das melhores matrizes (com alto desempenho), clonagem eficiente para geração de mudas em grande quantidade e implantação com técnicas que garantam uniformidade nos plantios.
Ainda serão avaliados diversos parâmetros agronômicos para consolidar um sistema de produção robusto e sustentável, tais como: época ideal e altura da poda, espaçamento entre plantas, tipos e doses de adubação e estratégias para controle de pragas e doenças.
“Para plantar cinco hectares, são necessárias cinco mil mudas. Mas não há sementes suficientes e, quando há, o material genético é muito heterogêneo. As plantas crescem de forma desigual e o teor de óleo varia drasticamente”, explicou o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Edson Barcelos, líder da iniciativa.
A essência do pau-rosa é valorizada principalmente por ser uma fonte natural de linalol, composto químico que representa mais de 80% do óleo e possui diversas aplicações comerciais e potenciais. A pesquisa da Embrapa tem como foco a produção sustentável voltada para esses usos, extraindo o óleo de folhas e galhos, e mantendo a árvore viva.
O projeto também investiga o uso da banana como cultura de sombreamento nos primeiros anos do pau-rosa, oferecendo sombra ideal e retorno econômico para ajudar a custear o plantio. A pesquisa busca definir o melhor espaçamento, época e altura de poda, adubação e controle de pragas, com o objetivo de validar um sistema de produção eficiente e sustentável.
Desafios e perspectivas
Além da escassez de mudas de qualidade e a alta mortalidade de plantios, outro entrave da cultura é a burocracia excessiva na comercialização do óleo essencial de pau-rosa. Durante o Simpósio de Óleos Essenciais realizado em Manaus, em outubro de 2025, especialistas e empresários propuseram a “Carta do Pau-Rosa”, iniciativa que busca sensibilizar autoridades a destravar processos que dificultam o avanço da cadeia produtiva. As muitas exigências estão afastando os compradores que preferem substituir o pau-rosa por outros óleos.
Com a consolidação do sistema de produção, a expectativa é fortalecer a cadeia produtiva regional, promover a conservação da espécie e gerar novas oportunidades econômicas para comunidades amazônicas e empreendedores. “Estamos construindo um modelo que alia ciência, conservação e desenvolvimento regional. O pau-rosa pode voltar a ser símbolo de riqueza, desta vez, com sustentabilidade”, conclui Barcelos.