Um estudo mapeou o mercado de tilápia na Europa e nos Estados Unidos, indicando oportunidades e desafios para os produtores brasileiros. Realizado pela Embrapa, o estudo analisa o setor da tilápia, carro-chefe da aquicultura nacional, que tem crescido de forma consistente nos últimos anos. Apesar desse avanço, ainda há potencial a ser explorado, considerando características naturais do Brasil, como qualidade da água e disponibilidade de áreas que podem ser incorporadas à produção.
Os cenários são diferentes nas duas regiões. O consumo de tilápia por pessoa na Europa é muito baixo, ficando em média em 39 gramas por habitante por ano, bem abaixo da média de consumo nos Estados Unidos, que é de 460 gramas por habitante por ano.
Segundo o pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), Manoel Pedroza, nos Estados Unidos, chama a atenção a grande popularidade da tilápia junto aos consumidores, o que tem proporcionado o crescimento do consumo de diversos produtos de tilápia, tanto frescos como congelados. “A tilápia rompeu os nichos de mercados asiáticos e latinos e hoje é um produto consumido de maneira ampla. Por outro lado, no caso da Europa, percebemos um consumo de tilápia bem mais limitado, sendo focado nos nichos de mercados étnicos e em produtos congelados com preços mais reduzidos”, afirmou.
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Oportunidades no mercado
O pesquisador da Embrapa enxerga uma oportunidade de o Brasil aumentar suas exportações de tilápia congelada para os Estados Unidos, ampliando a presença, que hoje é mais forte no mercado de filé fresco. De acordo com Pedroza, apesar de o mercado de congelados ser mais competitivo em termos de preço, possui uma demanda bem maior. “Algumas empresas brasileiras já vinham investindo na exportação de tilápia inteira e de filés congelados para os Estados Unidos, mas o tarifaço atrapalhou esse processo”, complementou.
Com relação ao mercado europeu, quando a etapa de reabertura for vencida, há uma boa oportunidade para o Brasil exportar produtos frescos de tilápia. Pedroza projeta que “os exportadores brasileiros podem se beneficiar da boa reputação do filé fresco de tilápia do Brasil e também aproveitar a grande oferta de voos para diversos países da Europa, tendo em vista que o transporte aéreo é essencial para os produtos frescos. No entanto, será necessário um trabalho robusto de divulgação dos produtos brasileiros e desenvolver a demanda por tilápia fresca, que atualmente é baixa na Europa”.
Como oportunidade para a tilápia brasileira na Europa, a pesquisa indica que os exportadores podem investir numa estratégia de diferenciação que destaque a qualidade do produto nacional. Além disso, há necessidade de se abrir mercados além dos tradicionais nichos étnicos e também de competir com outras espécies que têm filés brancos, como panga, polaca do Alasca e perca do Nilo. Um fato que pode aumentar a competitividade de vários produtos é o aumento dos preços da tilápia chinesa, que estão subindo por conta de aumentos nos custos de ração e de transporte no país.
Já no mercado dos Estados Unidos, a pesquisa aponta como oportunidades: valorização da tilápia brasileira em nichos considerados premium por conta da qualidade do produto; crescente demanda por rastreabilidade; queda na oferta de tilápia da China e de alguns países da América Central; o segmento de tilápia congelada; e agregação de valor em produtos, a exemplo de novos cortes, empanados, tilápia vermelha e embalagens prontas para consumo.
Desafios nos mercados internacionais
Como desafios, a pesquisa lista, na Europa: tornar a tilápia mais conhecida por meio de ações de comunicação e de marketing junto a diferentes públicos, além da participação em eventos relevantes sobre pescado; estabelecer preços competitivos para que seja mais viável acessar o mercado daquele continente; e focar, de maneira estratégica, na qualidade como diferencial frente a outras espécies que também têm carne branca.
Já os desafios para os produtores brasileiros de tilápia no mercado dos Estados Unidos envolvem, de acordo com a pesquisa: o conhecido e recente aumento das tarifas de exportação, o chamado tarifaço; a necessidade de redução de preços para aumento da competitividade do produto naquele mercado; a logística para exportação de produtos frescos, que exige agilidade e um processo cada vez mais dinâmico; e a exigência de certificação internacional.
A pesquisa gerou a publicação de dois informativos especiais e foi feita no âmbito do projeto “Fortalecimento das exportações brasileiras da aquicultura”, coordenado e executado pela Embrapa Pesca e Aquicultura.