O setor leiteiro encerra o ano de 2025 sob forte pressão deflacionária. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), o preço do leite pago ao produtor caiu pelo oitavo mês consecutivo na “Média Brasil”. Em novembro, o valor fechou em R$ 2,1122 por litro, o que representa uma queda real de 8,31% em relação a outubro e uma retração severa de 23,3% na comparação com o mesmo período de 2024.
O cenário é reflexo de um mercado superabastecido. A produção de leite cru foi impulsionada por investimentos realizados no ano anterior e por condições climáticas favoráveis nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Oferta recorde e importações
A captação industrial deve atingir o recorde histórico de 27,14 bilhões de litros em 2025, uma alta de 7%. Somado a isso, o Brasil internalizou quase 2,05 bilhões de litros via importações ((leite em pó de países como Argentina/Uruguai) na parcial do ano, mantendo o abastecimento em patamares elevados, apesar de uma leve queda em novembro.
Enquanto a oferta sobe, as exportações brasileiras de lácteos recuaram 33% na comparação anual, agravando o acúmulo de estoques nas indústrias e canais de distribuição.
Pressão no atacado e derivados
Com os estoques cheios, os preços dos principais derivados no atacado paulista registraram desvalorizações significativas em novembro:
- Leite UHT: -11,1% (média de R$ 3,59/litro)
- Queijo mussarela: -3,7% (média de R$ 28,99/kg)
- Leite em Pó: -2,9% (média de R$ 28,57/kg)
Margem do produtor em queda
O cenário é crítico para quem produz. Enquanto a receita cai, os custos de produção seguem em trajetória oposta. O Custo Operacional Efetivo (COE) subiu 0,22% em novembro.
A perda de poder de compra do pecuarista é evidenciada pela relação de troca com o milho: em outubro, foram necessários 28,4 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg do grão, um aumento de 7,1% em relação ao mês anterior.
“Os resultados reforçam a perda de rentabilidade no campo e uma cautela crescente nos investimentos, o que deve provocar uma desaceleração gradual da produção nos próximos meses”, apontou a análise do Cepea.