A colheita do café arábica em Minas já começou e deve se estender até agosto. Mas a qualidade dos primeiros grãos está preocupando produtores. Em Presidente Olegário, no Noroeste de Minas, por exemplo, o cafeicultor Airton Macedo conta que os grãos estão em tamanhos diferentes e não estão amadurecendo de forma homogênea.
Por causa disso, ele optou por fazer uma ‘coleta seletiva’, retirando os grãos secos e os que já estão maduros. “A ideia é dar mais um tempo - cerca de 30 ou 40 dias - para que as frutas verdes amadureçam”, disse ele à Itatiaia.
Em Carmo do Paranaíba, também no Cerrado, o cafeicultor Everaldo Gonçalves Siqueira falou sobre a diferença dos grãos no pé. De acordo com ele, têm prevalecido os “grãos miúdos”, bem menores que o tamanho padrão. “Em cada ramo, eles são uns 70%. É uma preocupação. Vamos gastar mais medidas para encher uma saca de café”, disse.
E a má qualidade dos grãos já fez até o preço cair na região. De acordo com Daniel Paulo de Oliveira, supervisor da Cooperativa Agropecuária de Carmo do Paranaíba (Carpec), há 30 ou 40 dias, o preço da saca estava há R$ 1400, agora está sendo cotada a R$ 150.
Amplitude térmica causa estresse na planta
A analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Gomes, disse que, infelizmente, isso está acontecendo em todo o estado. “Temos recebido relatos de maturação irregular e grãos miúdos de todas as regiões do estado, principalmente, as que iniciaram a colheita mais cedo”, comentou.
De acordo com ela, as adversidades climáticas - em especial a pouca chuva e as ondas de calor extremo - interferem em fases cruciais do desenvolvimento do grão e, pelo visto, terão um impacto negativo na atual safra de café. “Grandes amplitudes térmicas como, por exemplo, quarenta graus durante o dia e 20 ou 15 na madrugada, geram um estresse na planta e traz essa maturação desuniforme. “No mesmo ramo, temos tido grãos verdes, grão-cereja e grão que já fermentou no pé”.
A analista explica que esse cenário traz duas consequências para os produtores: menor volume de produção (uma vez que com os grãos menores, serão necessários mais grãos para encher uma saca) e a qualidade da bebida que, certamente, será afetada. “Os números só vamos ver lá na frente, mas o momento é de preocupação”.
De acordo com a Conab, Minas deve colher cerca de 29 milhões de sacas de café arábica, um crescimento de apenas 0,5% na comparação com o ano passado.