O Brasil deve produzir em 2024, 58,08 milhões de sacas de grãos de café beneficiados, 5,5% acima da colheita de 2023, confirmando as expectativas do ano de bienalidade positiva da cultura cafeeira. Em Minas Gerais, as perspectivas são mais cautelosas e até mesmo um pouco frustrantes. A alta prevista é de apenas 0,6% na produção, que deverá chegar a 29,18 milhões de sacas. Os números são do 1º Levantamento da Safra de Café do ano, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 🍒
De acordo com o engenheiro agrônomo Willem de Araújo, coordenador estadual da Emater-MG, fatores climáticos têm prejudicado o desempenho da cafeicultura no maior estado produtor do Brasil, nos últimos anos. “Faltou chuva nas regiões produtoras na época de floração no ano passado. E as lavouras ainda estão se recuperando da geada de 2021. Devido a esses fatores, a produção em 2024 ficará abaixo do esperado, frustrando uma safra maior em Minas Gerais”, explica o especialista da empresa estadual de assistência técnica e extensão rural.
A cafeicultura mineira deve sentir em 2024 o efeito das fortes ondas de calor registradas em outubro e novembro do ano passado. “Esse período de calor intenso coincidiu com a fase de florescimento e pegamento das flores, e com o início da formação dos frutos (chumbinhos). O fenômeno climático causou baixo vingamento das flores, queda dos frutinhos e até de folhas”, relata Willem de Araújo. Mas o coordenador da Emater-MG ressalta que somente a partir deste mês de fevereiro será possível avaliar com mais precisão os impactos das intempéries dos últimos meses nas lavouras do estado.
2024 ainda sofrerá as consequências de 2023 🍒☕
De acordo com o mais recente boletim de estimativa de safra da Conab, nos ciclos de bienalidade negativa, como 2023, os produtores costumam realizar tratos culturais mais intensos nas lavouras. E tem havido ganhos de produtividade, com o aprimoramento tecnológico no setor cafeeiro nacional.
Entretanto, em Minas Gerais, o cenário ainda não é tão favorável quanto nos demais estados produtores, como explica o especialista da Emater-MG: "É porque em 2023 o cenário foi muito ruim. Além das ondas de calor intenso na época da floração, o preço dos fertilizantes esteve muito alto, o que prejudicou os investimentos na manutenção dos cafezais.”
Outro fator de preocupação para os cafeicultores mineiros é o período de chuvas deste início de ano. Com precipitações intensas e constantes, aumenta o risco de disseminação de doenças fúngicas. “Com as chuvas persistentes, há um aumento da umidade e, como estamos no verão, com temperaturas mais elevadas, isso favorece a ocorrência de doenças como a ferrugem, que causa a desfolha das plantas. Além disso, as chuvas também atrasam as práticas culturais como a adubação, o que pode acarretar aumento da queda de frutos e folhas, no período de maior demanda de nutrientes pela planta”, detalha Willem de Araújo.
O coordenador estadual da Emater-MG alerta que o constante monitoramento das pragas e doenças é uma das estratégias para minimizar os possíveis efeitos das intempéries climáticas, bem como a realização de análises foliares, para verificar os níveis de macro e micronutrientes nas plantas, e, consequentemente, orientar a suplementação para garantir a saúde das lavouras.
Expectativa em outros estados 🍒
O 1º Levantamento da Safra de Café da Conab mostra que há expectativa de crescimento de 15,4% na produção de café do Espírito Santo, que deverá chegar a 15,01 milhões de sacas em 2024. O cultivo naquele estado é predominantemente de café conilon, que tem colheita estimada em 11,06 milhões de sacas, o que se confirmado representará aumento de 9% em relação a 2023. Já o café arábica deve apresentar produção de 3,95 milhões de sacas no Espírito Santo (38,2% acima do volume colhido na última safra).
Em São Paulo, é esperada produção de 5,40 milhões de sacas da espécie arábica (crescimento de 7,4% em comparação ao resultado de 2023). Ainda de acordo com a estimativa divulgada pela Conab, a colheita na Bahia deve ser 6,4% maior, com perspectiva de 3,61 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado. Em Rondônia, onde o conilon também é predominante, o volume é estimado em 3,19 milhões de sacas, com acréscimo de 5,1% em comparação à safra anterior.
Entenda a bienalidade
Chama-se bienalidade a alternância de produtividade. Se numa safra, os cafezais tiveram uma produtividade alta, na próxima, devido à necessidade de recomposição do vegetal, a produção apresenta uma queda no rendimento.
Como no ano anterior a planta foi exigida para produção, com diminuição do número de folhas e ramos secos, o cafeeiro aproveita para recompor na safra seguinte toda a sua parte vegetativa e estruturas internas e de reserva. Isso impacta diretamente a produtividade e a rentabilidade do produtor.
(*) Com informações da Emater-MG