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Casal larga vida agitada em Brasília para fazer queijos no interior de Minas; entenda

Há cinco anos, o casal Tereza Rodrigues, jornalista, e Mateus Brandão, videomaker, deixou Brasília (DF) para viver uma vida simples no campo e morar na propriedade dos pais dela, em Ibertioga, no Campo das Vertentes. Tereza cresceu na fazenda, mas morou 20 anos fora, formou-se em Jornalismo e voltou casada e já à espera da primeira filha, Marcela.

Com a ajuda dos irmãos, Antônio Augusto e Hélio que já tocavam o ‘negócio do leite’ na fazenda Saudade, depois que o pai deles se aposentou, o casal decidiu fazer queijos, como forma de agregar valor ao leite. “Fizemos estudos, cursos e optamos pelo Queijo Minas Artesanal (QMA). Também visitamos algumas queijarias aqui perto e recebemos apoio de outros queijeiros que se tornaram grandes amigos.”

Receita do avô foi ponto de partida

Foram dois anos de testes’, tendo como referência a forma que seu avô, João Miranda, fazia queijos no início dos 1900. Só então eles acharam que já estavam prontos para entrar formalmente no mercado e inauguraram uma queijaria nos moldes exigidos pelos órgãos de inspeção. Era 2020. “Hoje a nossa principal proposta é produzir queijos de qualidade. Levar para a mesa dos nossos clientes um produto saudável, comida de verdade, com um sabor que nós, inclusive, adoramos apreciar!”

Pelo visto, está dando certo! O casal ganhou medalha de ouro com o Lasquinha, da Queijaria Fazenda Saudade, no 3º Mundial do Queijo do Brasil, concurso realizado na capital paulista, no mês passado. Concorreram cerca de 1,9 mil produtos e cada um recebeu notas individuais de 300 jurados. “Chorei demais! Foi muita emoção porque eu estava meio sem esperança. Tinha queijos maravilhosos na Feira e eu sabia que seria muito difícil conseguir uma medalha”, contou Tereza.

Detalhe da Medalha de Ouro, conquistada no 3º Mundial do Queijo em SP

Queijos são prioridade, o leite que sobra vai para os laticínios

O mestre-queijeiro oficial é o Mateus, mas Tereza também vai para a queijaria todos os dias, faz queijos e o auxilia em todos os processos. Com 50 vacas em lactação, a fazenda produz 1, 2 mil litros de leite por dia. “Utilizamos, em média, 150 litros para fazer os queijos, de acordo com a demanda, o restante segue para o laticínio. Com isso, não precisamos fazer queijos todos os dias, temos, pelo menos, o domingo de folga,” festeja a produtora.

Vida no campo também exige disciplina

Mas trabalhar no campo, segundo Tereza, não tem nada de moleza. Exige força de vontade, coragem e disciplina para acordar muito cedo e fazer tudo que precisa ser feito. “Se não produzir, não tem renda”. Uma rotina muito diferente da que experimentou nas cidades onde morou, como Belo Horizonte, Brasília e São João Del Rei.

Ainda assim, ela acha que vale a pena pela qualidade de vida, pelo reconhecimento que chega por meio dos consumidores e dos prêmios.

O casal já ganhou medalha de prata no 6o Prêmio Queijo Brasil, deste ano, com um queijo curado na cachaça, e uma medalha de bronze com um queijo curado no café. Os vencedores, porém, ainda não puderam ser comercializados porque falta construir uma sala de maturação separada para eles.

“Em 2019, recebemos premiações com o nosso QMA: uma medalha de bronze no Mundial [do Queijo Brasil] que aconteceu em Araxá e medalha de ouro no Prêmio Queijo Brasil que aconteceu em Florianópolis/SC.” Os prêmios ajudam muito na visibilidade dos produtos, garante: “Sempre chegam clientes novos que buscam listas de premiados, e isso, para nós, é motivo de muito orgulho”.

Dois tamanhos de queijo e doce de leite em bolinhas

A queijaria deles produz somente um tipo de queijo, o QMA, de leite cru, em dois tamanhos: o de 700 gramas e o de 300 gramas, chamado de Lasquinha. “Produzimos também doce de leite em formato de bolinhas, bem diferente e interessante, e pretendemos partir para outros tipos de queijos autorais,” conta, empolgada.

Tempo de maturação segue a lei

Sobre os tempos de maturação, Tereza diz que a queijaria segue a legislação, maturando os queijos por pelo menos 22 dias. “Mas com frequência deixamos alguns lotes maturarem por quatro a seis meses e vendemos por um valor maior.” Os produtos são vendidos principalmente em BH, São João Del Rei, Tiradentes e em outras pequenas cidades de MG, tendo parceiros lojistas também em SP e RJ, além da venda pelo Instagram (@fazendasaudade.queijaria).

‘Gosto de roça, de comida de vó e infância’

O segredo do sucesso, segundo Tereza, é a qualidade, o que exige muito cuidado e dedicação no dia a dia, “pois qualquer deslize pode comprometer a produção quando se
trabalha com queijo de leite cru”. Ela diz que se sente orgulhosa quando ouve dizer que o queijo que produz tem gosto de roça, de comida de vó e de infância. “Acho que contribuímos com a valorização do artesanal. Trazemos um gostinho especial que nenhum queijo industrializado consegue trazer.”

QMA veio para ficar e tem muita diversidade

Queijo artesanal, pra ela, é um desafio, “um bichinho teimoso e cheio de manias, muito vivo!” Ela fica feliz ao ver que o crescimento da ‘cena queijeira’ com cada vez mais produtores de qualidade. “Isso prova que o QMA não é um modismo. É um produto que veio para ficar e já conquistou seu espaço no mercado”. Tereza acredita que a diversificação tem sido outra marca importante no universo dos QMAs. “Temos queijos para todos os gostos. É só escolher o seu. E ainda há muito espaço para experimentações. Vêm coisas boas por aí”.

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.