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Casal mineiro produz cervejas com lúpulos frescos e faz sucesso; entenda

Em parceria com a cervejaria Koala e o sommelier de cervejas Saimon Bessa, Mariana Zaidan e Rodrigo Simões investiram na produção de uma bebida-teste com lúpulos recém-colhidos; agora se preparam para a produção comercial

Mariana e Rodrigo (agachados com os cachorros) e os amigos e sócios em São José do Jássen

Os silvicultores Mariana Zaidan e Rodrigo Simões, de São José do Jassén, um povoado que pertence ao município de Alvorada de Minas, entre Conceição do Mato do Dentro e o Serro, trabalham com o mogno africano, mas como se trata de uma cultura de longo prazo, ainda não tiveram nenhuma colheita. Então, buscavam outra produção com menor prazo e que já não estivesse saturada no mercado.

Um dia, viram uma entrevista com o produtor e agrônomo paulista Rodrigo Veraldi contando a história das tentativas frustradas dele em produzir lúpulo. Um dia, ele encontrou numa área de descarte, em meio a resíduos orgânicos, uma mudinha de lúpulo mais resistente. A própria natureza se encarregou de fazer uma seleção natural, desenvolvendo a matriz que viria a ser considerada o “lúpulo da Mantiqueira”, um marco na produção de lúpulo no Brasil.

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“Essa história nos chamou tanto a atenção que fomos visitar o Rodrigo em São Bento do Sapucaí (SP), divisa com Minas. Trouxemos algumas mudas de lá e nos encantamos mais ainda pelo universo do lúpulo e suas possibilidades”, conta Mariana.

Plantio-teste com cinco variedades 🌱🌱🌱🌱🌱

A qualidade do solo em São José do Jásssen, a disponibilidade de água e a paixão e o desejo do Rodrigo em movimentar a região foram determinantes para a decisão de iniciarem o plantio. Em 2020, eles fizeram um plantio-teste com cinco variedades: Cascade, Comet, Cluster, Nugget e Mantiqueira, sendo que a Comet e a Cascade foram as variedades com maior qualidade e produtividade.

Parceria com cervejaria e sommelier 👨‍🍳

Deu certo e assim nasceu a Lúpulos Jássen. Em parceria com a cervejaria Koala e o sommelier de cervejas Saimon Bessa, o casal fez uma cerveja com lúpulos frescos, colhidos e levados imediatamente para a fábrica. Segundo Mariana, cervejas produzidas com lúpulos frescos são raras no Brasil. “Colhemos Cascade e Comet pela manhã e saímos diretamente para a cervejaria Koala, fizemos uma American Pale Ale com uma base ligeiramente mais maltada.Ficou muito boa. O lúpulo fresco traz notas mais vegetais, úmidas e gramíneas”.

Mudas do viveiro Van de Bergen 🌱

Em 2023, eles reuniram um grupo de investidores para realizar o plantio comercial do produto. Vamos plantar um hectare com três cultivares: Comet, Cascade e Triumph. As mudas são certificadas e foram adquiridas do viveiro Van de Bergen, que fica em Sapucaí Mirim, no sul de Minas.

Expandir a produção e oferecer para as cervejarias 🍺

A próxima fase agora é expandir mais dois hectares da plantação, com o objetivo de comercializar o produto para micro e médias cervejarias. “As entrevistas que realizamos com algumas cervejarias foram excelentes e nos auxiliaram muito no planejamento do nosso negócio. A produção nacional de lúpulo tem um grande potencial e temos muito para avançar em pesquisas, práticas agronômicas e comerciais”, relata a produtora.

Iluminação artificial para garantir boa produtividade 🔦💡

Iluminação noturna da plantação de lúpulo em Uberaba na propriedade do grupo Petrópolis

“Precisamos que o manejo das plantas seja muito cuidadoso para garantir boa qualidade e produtividade. O lúpulo é uma planta que cresce muito rapidamente e precisa de bastante água e muitas horas de iluminação. Por isso, estamos providenciando iluminação artificial para suplementar as horas sem sol”, conforme a orientação do agrônomo Gabriel Fortunato, da Brazuca Lúpulo, que nos presta consultoria. Estamos em fase final da preparação da estrutura e no início de abril faremos o plantio, a expectativa é fazer a colheita em setembro”, contou Mariana.

Brasil tem carência de maquinário e estudos 🚜📚

A produtora ponderou que a cadeia de produção de lúpulo do Brasil ainda não está madura.Tanto que há até pouco tempo era impossível se falar num lúpulo brasileiro. Por isso, há carência de maquinário, estudos, insumos e linhas de crédito específicas para o segmento. “Também temos desafios durante o processo de comercialização, uma vez que a tradição de lúpulos importados ainda é muito forte”, explicou.

Máquinas virão da Polônia ✈️

Uma das máquinas que eles utilizarão para o beneficiamento virá da Polônia. “Em parceria com o Viveiro Van de Bergen estamos importando uma máquina usada da marca Wolf, que será utilizada no processo de pelagem da planta, uma vez que utilizamos apenas as flores que são produzidas”.

Ânimo, motivação e romantismo ❣️

Quem gerencia o plantio é Rodrigo Simões, que é engenheiro ambiental. Mariana fica mais na parte administrativa, de gerenciamento do projeto e interlocução com os investidores. “Estou animada com as possibilidades que essa cultura pode trazer para nossas vidas. Já morei em Alvorada de Minas, já trabalhei em alguns projetos por aqui e tenho muito carinho pelo município. Foi aqui também que eu e o Rodrigo nos conhecemos e é muito bom estarmos de volta, desenvolvendo juntos algo em que acreditamos. Além disso, a chance de trazer desenvolvimento para o município nos deixa feliz”, explicou.

Também são sócios de Mariana e Rodrigo: Aline e Daniel Simões, irmãos de Rodrigo; a engenheira de Minas, Cristina Almeida; a pedagoga, Márcia Costa; o comerciante Jânio Otoni e o administrador Enock Araújo.

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.