Toda morte precoce é comovente. Sobretudo a de uma celebridade que, diferente de várias outras, tentou fazer do seu câncer um alerta para todos. “Cuidem-se e olhem mais para os sinais que seu corpo expressa”, disse a cantora Preta Gil, em uma de suas diversas declarações nos 2 anos de luta contra um câncer intestinal. Seu falecimento, no dia 20 de julho de 2025 deixou sensibilizados os brasileiros.
O problema é que o câncer de intestino só dá sinais no corpo quando já está muito avançado. A ocorrência de sangue nas fezes; de perda de peso; de alteração no formato habitual das fezes (em fita); de diarreia e de prisão de ventre não habituais; e de dor abdominal, podem ser sinais de alerta bastante tardios. O câncer intestinal é silencioso.
O que poderia, então, ter sido feito para evitar uma morte tão precoce por câncer – aos 50 anos?
Acessar a lesão quando ainda estiver “oculta”!
Seguir as recomendações internacionais e nacionais mais recentes: iniciar o rastreio, com Colonoscopia, aos 45 anos! E, para quem não tem plano de saúde: fazer um exame de fezes, anualmente: a pesquisa de sangue oculto nas fezes, a partir dos 45 anos.
Essa triagem pode salvar vidas.
Drible os fatores de risco para câncer intestinal
Outras atitudes, mais trabalhosas e não menos importantes, são também fundamentais. Combater sobrepeso e obesidade; praticar 150 minutos semanais de atividade física; consumir 25 a 30 gramas de fibras por dia (frutas e vegetais); reduzir a ingestão de gorduras de origem animal; reduzir o consumo de álcool e cessar o tabagismo. Essas são as recomendações para se evitar o câncer intestinal.
O rastreio é fundamental
Rastrear o câncer intestinal é identificar, precocemente, pólipos (lesões na mucosa intestinal) com características malignas ou mesmo o câncer inicial, já instalado no intestino. Isso permite retirar as lesões e atingir a cura.
A pesquisa de Sangue oculto nas fezes é um teste que verifica a presença de sangue não visível ao olho nu, mas que está presente nas fezes, sendo identificada laboratorialmente. Deve ser feita anualmente.
Já a Colonoscopia é um aparelho com câmera de vídeo introduzido pelo ânus, que percorre um metro e meio do intestino grosso e alguns centímetros do íleo, porção final do intestino delgado. Seu objetivo é localizar e retirar esses pólipos. Algumas etapas são necessárias para o êxito desse exame, como um preparo intestinal bem feito usando laxantes específicos que provocam diarreia e ingestão de uma dieta leve, orientados pelo médico Gastroenterologista. Também é preciso fazer consulta com cardiologista, realizar exames de sangue e de coração para o risco cirúrgico e levar um acompanhante no dia do exame. Durante o procedimento, o paciente é sedado e não sente incômodo. A periodicidade do exame vai depender do tipo de pólipo encontrado. Se tudo correr bem, é feita a cada 10 anos.
Então, para a população geral, a Colonoscopia está indicada a partir dos 45 anos. Para quem já teve um parente de primeiro grau com diagnóstico de câncer intestinal, deve iniciar o rastreio aos 40 anos (ou 10 anos antes da idade em que o seu familiar teve diagnosticado o câncer). Caso tenha tirado apenas um pólipo, essa regra não é necessária.
Os vilões chamados Adenomas
Existem diferentes tipos de pólipos. Alguns são compostos somente por glândulas intestinais e nunca virariam cânceres. Outros, chamados Adenomas são mais perigosos e podem proliferar até a formação de câncer no decorrer de alguns anos. Todos são retirados durante a colonoscopia e avaliados, posteriormente, por microscópio para definir as características, sendo classificados.
Uma amostra do problema no Brasil
A grande questão é que nem todos os brasileiros têm acesso fácil à Colonoscopia. Mas, fazer rotineiramente o exame de sangue oculto nas fezes pode amenizar o problema.
Em março desse ano, uma campanha avaliou milhares de moradores de Goiás (GO). A iniciativa, liderada pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), disponibilizou exames de sangue oculto nas fezes para 8 mil pessoas. Cerca de 8% delas, ou seja, 563 pacientes tiveram exames positivos e foram encaminhados para fazer colonoscopia. Cerca de 54% apresentaram lesões (pólipos) no intestino com risco potencial de virar um câncer futuramente.
Os resultados da ação em Goiás indicam que medidas simples e baratas, como o exame de fezes, podem ajudar a antecipar a detecção de uma doença grave, mas evitável e curável.
Diagnóstico tardio
Atualmente, segundo essas entidades, cerca de 65% dos casos de câncer colorretal são diagnosticados em estágios avançados, exigindo cirurgias agressivas e sessões de quimioterapia e radioterapia.
Futuro sombrio
O número de casos de câncer colorretal poderá aumentar mais de 20% no Brasil até 2040, prevê uma pesquisa da Fundação do Câncer divulgada em março 2025. Segundo os autores, o envelhecimento populacional, hábitos pouco saudáveis e a falta de programas de rastreamento sólidos seriam os principais fatores responsáveis por esse aumento.