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Assimetria craniana: pais têm dificuldades em encontrar tratamento no Brasil

Tratamento requer o uso de um capacete especial moldado de acordo com o crânio do bebê

Neste capítulo da série sobre assimetrias cranianas, o foco são as dificuldades de pais e mães em encontrar profissionais preparados para fazer o diagnóstico no momento correto: nas primeiras semanas de vida. Nesse período da vida do bebê, ainda é possível tratar a situação com um reposicionamento da criança ou fisioterapia.

Especialistas ouvidos pela Itatiaia explicam que, a partir dos 4 meses de vida, pela dificuldade de se manter o bebê em uma determinada posição, o tratamento indicado, em casos de assimetrias moderadas e severas, é a órtese craniana, conhecido como “capacetinho”.

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No Brasil, a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), referência no tratamento de diversas doenças e condições, já atendeu mais de 2 mil crianças com indicação para o uso da órtese, como detalha o doutor Marcelo Ares, médico fisiatra, coordenador e porta-voz da AACD.

“Desde 2010, a AACD já atendeu mais de 2 mil pacientes com esse diagnóstico. São produzidas aproximadamente 180 unidades de capacetes ou de órteses cranianas por ano, e nós temos esse acompanhamento regular dos pacientes, também. É muito importante que a população, os médicos ou até profissionais da área de saúde que atendem os recém-nascidos e as crianças nessa idade que percebam, que diagnostiquem essas assimetrias. Ao diagnosticar, ao perceber uma alteração, procurem um médico especializado”, recomenda.

O coordenador da AACD detalha como são produzidas as órteses cranianas na entidade. “O trabalho é feito por uma oficina ortopédica, que é uma das maiores da América Latina. Com toda a experiência dos técnicos que desenvolveram, inclusive, métodos e capacetes que são utilizados com mais facilidade. Nós temos a confecção através de uma impressora 3D, que é um método extremamente moderno e mais preciso para a retirada do molde do capacete. Ou seja, é bem customizado, mas não há nenhum financiamento de órgão público ou não público para a confecção deste capacete, é um orçamento feito e praticado pela instituição, para que se torne mais acessível”, detalha o doutor.

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O valor mais acessível faz com que famílias do país inteiro procurem o tratamento na AACD, o que provoca uma fila de espera. Sem poder esperar, muitos pais recorrem às clínicas particulares, que começam a se espalhar pelo Brasil. O problema é que se trata de um produto importado, o que torna o tratamento caro e dificulta o acesso até para quem tem plano de saúde, já que as operadoras negam.

No caso do pequeno Luís Gustavo, a família que mora em Belo Horizonte, teve de buscar tratamento em outros estados, já que, na época, não havia clínicas especializadas na capital mineira. O pai do Gugu, Luiz Alessandro, conta que os gastos foram muitos, e ressarcidos apenas parcialmente após muita briga na justiça.

“A gente gastou mais de R$ 15 mil só do tratamento, fora as passagens para São Paulo e Brasília. Como a gente precisava fazer esses ajustes, que eram praticamente quinzenais, a gente precisava ir duas vezes por mês nessas viagens. Inclusive, na época, eu estava desempregado, então isso pesou mais ainda, mas graças a Deus a gente conseguiu finalizar e depois conseguimos o ressarcimento do plano de saúde. As despesas com as viagens, infelizmente, ficaram como crédito para a gente”, relata o pai de Luís Gustavo.

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Essa pressa em buscar o tratamento com a órtese craniana é explicada pela pediatra Bruna Fabri, uma vez que há um limite de tempo para que a resposta seja, de fato, eficaz.

“O ‘capacetinho’ só pode ser usado do quarto mês de vida até 1 ano e 2 meses. O tratamento só pode ser iniciado até um ano e dois meses de idade porque, para que haja um remodelamento da calota craniana, a cabeça precisa crescer. O capacete não aperta a cabeça do bebê, é o formato final da cabeça, então a cabeça vai crescer sendo modelada pelo formato do capacete. São nos primeiros meses de vida que a gente tem o maior crescimento da cabeça, principalmente até o final do sexto mês de vida, então a hora ideal de começar o tratamento com as órteses cranianas é do quarto até o final do sexto mês de vida. Após essa idade, quanto mais tempo vai passando, pior fica o resultado e mais demorado é o tratamento. Depois de um ano e dois meses, não tem mais nada que possa ser feito sem ser de uma maneira invasiva, o tratamento é apenas neurocirúrgico”, explica a médica.


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Allãn Passos é jornalista, nascido em Mariana, formado pela UFOP em 2012. Atuou como assessor de comunicação na Prefeitura de Mariana e na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Entre 2015 e 2018 foi repórter aéreo de trânsito. Desde abril de 2018 é editor e apresentador do Jornal da Itatiaia Noite. Integrante do PodTudo, atua como repórter e apresenta os programas Chamada Geral e Plantão da Cidade nas férias e folgas dos titulares.
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