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O futuro da comunicação: do ruído à relevância

O novo consumidor não quer ser convencido, quer ser compreendido.

O futuro da comunicação do ruído à relevância

Um novo comportamento em cena

Tenho percebido que a publicidade tradicional perdeu seu ritmo. Não é mais sobre volume, é sobre sentido. Por anos, acreditamos que bastava aumentar o alcance, repetir promessas e empurrar ofertas para garantir atenção. Mas as pessoas mudaram. Hoje, o público é crítico, atento e mais consciente sobre o que consome. O futuro da comunicação pede algo maior que visibilidade: pede relevância. Como dizia Marshall McLuhan, “o meio é a mensagem”, e nunca essa frase foi tão verdadeira. Entender o meio e o momento é o que define quem ainda será ouvido.

Mais escuta, menos discurso

Não se trata mais de disputar atenção. É preciso merecê-la. E isso exige uma mudança profunda de postura: ouvir mais do que falar, compreender mais do que vender, construir conexão em vez de empurrar conteúdo. Na Yoo, temos repensado até a forma como usamos dados. Questionamos o excesso de métricas sintéticas que dizem muito sobre o que as pessoas fazem, mas pouco sobre por que fazem. Acredito que a comunicação só é real quando mergulha nas nuances nos silêncios, nas contradições, nas histórias que moram fora das planilhas. É por isso que temos investido em neurociência e comportamento humano: para entender o que realmente move escolhas e desperta desejo.

Da métrica ao vínculo

Também percebo que vivemos o fim do engajamento superficial. O “like pelo like” perdeu sentido. Hoje, o que importa é o vínculo a profundidade da relação entre marca e pessoa. Estamos desenvolvendo métricas que medem engajamento emocional, porque não se trata apenas de captar olhares, e sim de conquistar corações. É o que chamo de share of heart, não apenas share of mind. E os estudos que conduzimos, como o Sonhos Brasileiros, mostram isso com clareza: as tendências mais fortes do país são Saúde Integral e Resgate Ancestral, ambas apontando para um mesmo caminho o da reconexão com o essencial.

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Menos tela, mais vida

O consumo digital ainda é dominante, mas começa a mostrar sinais de fadiga. Tenho visto pessoas, inclusive da minha equipe, moderando o tempo de tela por saúde mental, sono e produtividade. Isso muda tudo. As marcas precisam compreender que a comunicação não pode depender da hiperexposição. O digital é parte importante da jornada, mas precisa conviver com o que é humano, com experiências físicas que emocionam e ficam na memória. No futuro da comunicação, as telas serão apenas um meio não o destino.

Entre o online e o real

Essa mudança já aparece na Bússola de Marketing, estudo que conduzimos com grandes anunciantes. Nos últimos dois anos, vimos crescer os investimentos no dueto formado por ações digitais e presenciais. E isso não é coincidência: quando uma marca oferece conveniência online e surpreende fora das telas com experiências sensoriais, encontros, serviços ou gestos simples, ela cria algo que nenhuma campanha paga reproduz: lembrança afetiva. Afinal, emoção não se compra, se constrói.

A busca pelo essencial

O avanço do minimalismo digital confirma essa virada. As pessoas querem menos, mas melhor. Buscam qualidade, propósito e significado. Isso desafia setores como moda, tecnologia e entretenimento, que por anos se apoiaram no excesso. Agora, o consumo passa a ser uma escolha de valor, não de impulso. Eu mesmo tenho revisado a forma como planejo campanhas: prefiro uma ação autêntica a dez que dizem a mesma coisa. Como descreve Shoshana Zuboff em A Era do Capitalismo de Vigilância, vivemos o momento em que a informação se tornou poder e a ética será o diferencial entre marcas que inspiram e marcas que apenas invadem.

O poder do branding consciente

Com esse novo cenário, o branding assume papel central. Se a publicidade tradicional perde espaço, construir marcas fortes e coerentes é questão de sobrevivência. Já não basta pensar em campanhas de impacto imediato. As empresas precisam cultivar consistência e propósito, criar comunidades e experiências que reflitam seus valores. O consumidor quer sentir que pertence e essa sensação não nasce de um anúncio, mas de uma convivência contínua. Em cada ponto de contato, a marca precisa provar quem é, e não apenas dizer quem quer ser.

Inteligência que humaniza

Vejo também a chegada de uma nova era de personalização. A inteligência artificial vai redefinir a forma como as marcas se relacionam com o público. Termos como GEO (Generative Engine Optimization) e LEO (Language Engine Optimization) deixam de ser jargões e passam a ser ferramentas indispensáveis para compreender comportamentos e antecipar necessidades. O segredo estará em usar a tecnologia não para invadir, mas para servir traduzindo dados em empatia, algoritmos em experiência e conteúdo em presença genuína.

inovação com propósito

Inovar, para mim, é um ato de fé. É olhar o mundo com olhos de curiosidade e perceber que, por trás de cada tecnologia, existe uma alma humana tentando resolver algo maior que ela mesma. Inovação não é apenas lançar produtos; é compreender o tempo em que vivemos e transformá-lo em algo útil, belo e verdadeiro. Assim como um viajante que encontra sentido na própria estrada, acredito que inovar é criar pontes — entre pessoas, entre marcas, entre sonhos.

Descobri que inovar também é aprender a caminhar com outros. Nenhuma grande ideia nasce sozinha. Quando duas marcas se unem para realizar o que, isoladas, jamais alcançariam, o milagre da colaboração acontece. É como se o universo conspirasse a favor de quem coloca propósito à frente do ego. O futuro pertence a quem entende que resultado sem alma é apenas vaidade disfarçada de sucesso.

O futuro já começou

O futuro da comunicação não se escreve em letras maiúsculas, mas em gestos simples. Ele vive nos diálogos sinceros entre marcas e pessoas, na escuta atenta, no toque humano que nenhuma tela pode substituir. Estamos trocando o ruído das campanhas em massa pelo silêncio fértil das conexões genuínas. Como escreveu Marshall McLuhan, “o meio é a mensagem” — e talvez agora estejamos redescobrindo o meio mais poderoso de todos: o coração.

Do discurso à presença

Acredito que o verdadeiro desafio das marcas não é falar mais alto, mas falar com verdade. A Yoo nasceu desse desejo de ouvir o mundo com mais profundidade, de transformar a comunicação em um espaço de encontro e não de disputa. Lembro-me de um trecho de O Alquimista, de Paulo Coelho, que diz: “Quando você quer algo, todo o universo conspira para que realize o seu desejo.” Talvez comunicar seja isso — alinhar intenção e verdade até que o universo responda.

O futuro da comunicação não pertencerá aos que gritam, mas aos que tocam. Não aos que prometem, mas aos que cumprem. As marcas que entenderem isso não precisarão mais de holofotes — porque serão luz.

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Profissional de Comunicação. Head de Marketing da Metalvest. Líder da Agência de Notícias da Abrasel. Ex-atleta profissional de skate. Escreve sobre estilo de vida todos os dias na Itatiaia e na CNN Brasil.