Um novo capítulo para a leitura coletiva
Depois de anos em que grupos de leitura migraram para fóruns, newsletters e redes sociais, os clubes do livro presenciais começam a reconquistar espaço. O movimento é impulsionado por um desejo crescente de viver experiências mais autênticas e menos mediadas por telas. Há algo de especial em sentar ao redor de uma mesa, folhear páginas físicas e discutir ideias olhando nos olhos de outras pessoas.
Por que o presencial voltou a ser desejado
Participar de um clube de leitura offline é mais do que consumir livros — é sobre criar vínculos, ouvir perspectivas diferentes e estabelecer um ritmo de leitura compartilhado. Em tempos de excesso de notificações, esse tipo de encontro representa uma pausa voluntária no barulho digital. Além disso, eventos presenciais contribuem para o fortalecimento do comércio local, ocupando cafés, bibliotecas e livrarias de bairro.
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Do silêncio da leitura ao barulho das ideias
Muitas pessoas redescobriram a alegria de ler com mais profundidade e menos distrações. Nos clubes presenciais, não há emojis nem curtidas. Há escuta, reflexão e troca. Um bom debate sobre um romance, uma crônica ou até um livro de não
Clubes de leitura que inspiram
No Brasil, o movimento “Leia Mulheres” promove encontros presenciais em diversas cidades, focando na leitura de obras escritas por mulheres. Já o “Clube do Livro da Torta de Abóbora” se dedica a gêneros como cozy mystery e healing fiction, oferecendo uma experiência acolhedora aos participantes. Em São Paulo, as Bibliotecas de São Paulo e do Parque Villa-Lobos organizam clubes de leitura gratuitos, abordando uma variedade de gêneros literários.
Internacionalmente, o “Silent Book Club”, fundado em 2012 em San Francisco, propõe encontros onde os participantes leem em silêncio, sem a pressão de discussões obrigatórias. Com mais de 1.700 capítulos ao redor do mundo, incluindo cidades brasileiras, o clube oferece uma alternativa inclusiva e sem pressão para os amantes da leitura.
Formatos criativos e acolhedores
Não existe fórmula única para um clube de leitura. Alguns grupos se reúnem mensalmente para discutir um único livro. Outros alternam gêneros, autores e até formatos — de livros físicos a zines, passando por poemas ou contos. O que importa é o senso de pertencimento que se constrói a partir do hábito compartilhado.
Clube do livro offline
A influência das redes — ao vivo
Curiosamente, o boom dos clubes presenciais também tem conexão com o mundo digital. Muitos grupos começaram em comunidades online, como perfis no Instagram ou canais de Telegram, e evoluíram para encontros regulares no mundo físico. As redes digitais ajudaram a formar tribos, mas o contato cara a cara é o que solidifica a experiência.
Dicas para quem quer começar um clube presencial
- Escolha um local acessível e agradável, como uma cafeteria ou biblioteca pública
- Defina uma frequência que funcione para todos — mensal costuma ser ideal
- Varie os temas e estilos de leitura para manter a diversidade
- Crie um ambiente seguro para a troca de opiniões, sem julgamentos
- Registre os encontros com fotos e anotações para estimular o grupo e divulgar nas redes
Uma leitura mais humana
Num tempo em que a inteligência artificial gera textos e os algoritmos ditam tendências, retomar o hábito de ler em voz alta, discutir argumentos e confrontar ideias de forma orgânica se tornou, paradoxalmente, um gesto de resistência. Os clubes do livro offline não são apenas nostálgicos — são, cada vez mais, relevantes.
O papel da leitura compartilhada
Além de enriquecer o repertório, participar de um clube de leitura offline contribui para o desenvolvimento da empatia, da escuta ativa e da articulação de ideias. É um exercício de convivência e, ao mesmo tempo, uma celebração do pensamento crítico — algo fundamental em tempos de polarização.
Leitura com afeto e presença
Se a leitura é, muitas vezes, um ato solitário, os clubes do livro offline transformam esse momento em algo coletivo e afetuoso. Cada leitor traz sua bagagem, sua interpretação e sua emoção. E é nessa costura de olhares que a experiência se torna rica.
O offline como tendência afetiva
Mais do que uma onda passageira, a volta dos clubes de leitura presenciais parece apontar para uma necessidade real de desacelerar, reconectar e aprofundar relações. A leitura compartilhada, nesse contexto, é um caminho possível — e precioso — de reconexão com o que somos.
Um convite para virar a página
Se você anda sentindo falta de conversas mais profundas, de encontros com propósito e de experiências mais táteis, talvez esse seja o momento ideal para procurar (ou fundar) um clube de leitura presencial. Porque, no fim, bons livros foram feitos para serem vividos — e compartilhados.