Mais de 300 mil toneladas de minério por ano, transportadas todos os dias por cerca de 30 carretas pesadas poderão passar a circular nas estradas que ligam a região metropolitana de Belo Horizonte e a Bahia. Isso, caso o trecho da linha férrea Bahia-Minas seja desativada. Essa possibilidade é temida por mineradoras, deputados e prefeitos no processo de renovação do contrato das ferrovias Centro Atlântica (FCA) e VLI.
Deputados mineiros têm dito que, no novo contrato, que vem sendo negociado junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), e será feito em dois anos, Minas Gerais está recebendo menos pela concessão das linhas do que estados com malha ferroviária menor. O plano prevê, ainda, a desativação de alguns trechos, entre eles o da Bahia-Minas.
Uma audiência pública realizada na capital mineira nesta quinta-feira (10) trouxe preocupações sobre o assunto. O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado estadual Tadeu Martins Leite (MDB), lamenta que nas duas últimas concessões, o estado tenha perdido R$ 4 bilhões em recursos.
"É prejuízo para a população, prejuízo financeiro mas também de deixarmos nosso estado isolado quando se fala, especialmente, pela linha Bahia-Minas. A única ligação que temos do Sudeste para o Nordeste do país é a Bahia-Minas. Estamos preocupados, temos aqui, infelizmente, um estoque de renovações de ferrovias preocupante. Não só porque as discussões foram feitas rápidas mas, principalmente, pelo não investimento que veio para Minas Gerais. A [ferrovia] Vitória-Minas tem 70% da malha no estado e só 10% dos recursos vieram para Minas Gerais. O resto foi para outros estados”, disse o parlamentar.
Para o presidente da ALMG, é preciso fortalecer um movimento político para garantir que “Minas Gerais receba o que é justo”.
O presidente da RHI Magnesita na América do Sul, Wagner Sampaio, diz que só em Contagem, onde fica a sede mineira da empresa, dezenas de carretas passariam a ocupar o trânsito caso o trecho da linha Minas-Bahia fosse inutilizado.
“Utilizamos essa ferrovia para trazer minério de Brumado, na Bahia, para nossa operação em Contagem, onde temos mais de 3.500 funcionários. E também levamos nosso minério para exportação no trecho dentro da Bahia. A renovação do concesão, sem a garantia de que esses trechos continuem operando, é de suma preocupação”, afirma.
Segundo ele, a empresa trabalha com um “Plano B”, que é transportar as 300 mil toneladas anuais de minério por rodovias.
“Traria uma necessidade de 30 carretas de grande porte somente para Contagem”, pontua.
A prefeita da cidade da região metropolitana, Marília Campos (PT), defende que recursos da concessão sejam reinvestidos na modernização e ampliação da malha ferroviária já existente na região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo ela, é possível utilizar o chamado “Anel Ferroviário” também para transportar passageiros.
“Defendemos, a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro e em São Paulo, que as linhas do trem sejam, também, para transportar passageiros. Hoje, é só para transporte de cargas. Temos um verdadeiro ‘anel ferroviário’ que passa por 22 cidades na região metropolitana. Na minha opinião, poderia ser usado para transporte de passageiros para melhor a mobilidade urbana”, defende a prefeita.
Durante a audiência pública, representantes da ANTT negaram que há plano para deixar de utilizar a linha Bahia-Minas.