O ex-ministro de Justiça de Jair Bolsonaro (PL), Anderson Torres, aparece na investigação da Polícia Federal (PF) como um dos principais responsáveis pela articulação de operações ostensivas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em municípios com apoio majoritário a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Nordeste no segundo turno das eleições. Nesta quarta-feira (9), a PF prendeu preventivamente o ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques, em Florianópolis.
A representação pedindo pela prisão dele foi feita pelo delegado Flávio Vieitez Reis ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sob a alegação de que Vasques estaria prejudicando o andamento das investigações e até intimidando testemunhas. Moraes não apenas liberou o mandado de prisão, quanto decretou a quebra de sigilo da representação. O documento, aliás, apresenta detalhes da investigação e conversas entre servidores da Polícia Rodoviária Federal e do próprio Ministério da Justiça.
Na representação, o delegado Vieitez Reis cita o depoimento de Anderson Torres à Polícia Federal, no qual o ex-ministro da Justiça alega ter inquirido Vasques sobre as denúncias de policiamento ostensivo à ocasião do segundo turno das eleições. Segundo Torres, Vasques disse que a ação foi “praticamente a mesma do primeiro turno”.
A versão, entretanto, contradiz os fatos coletados pela investigação da Polícia Federal. Conversas de WhatsApp entre dois agentes indicam a orientação clara de Vasques para haver “policiamento direcionado” no domingo das eleições. O delegado também indica haver fatos suficientes para comprovar o uso da máquina pública através da PRF e com participação de servidores da Polícia Federal em atuação no Ministério da Justiça para “interferir o processo eleitoral”.
Mapas com municípios do Nordeste. O analista de inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Clebson Ferreira de Paula Vieira, é peça-chave na investigação. Em depoimento à Polícia Federal, ele declarou que a diretora de inteligência do ministério, Marília Alencar, o orientou a produzir mapas com municípios que concentrassem votação superior a 75% para ambos os candidatos do segundo turno. A orientação, contudo, foi alterada logo depois. Marília, então, solicitou que ele imprimisse os dados apenas das cidades com votação majoritária para Lula no primeiro turno.