Após três horas e meia de depoimento nesta terça-feira (16), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou à Polícia Federal ter conhecimento de qualquer fraude em seu cartão de vacina ou de seus familiares, como o da filha Laura, de 12 anos.
A informação foi divulgada pelo aliado do ex-presidente e ex-secretário de Comunicação em seu governo, Fabio Wajngarten.
“O Pr [presidente da República] reiterou que jamais se vacinou, que desconhecia toda e qualquer iniciativa para eventual falsificação, inserção, adulteração no seu cartão de vacinação bem como de sua filha”, escreveu ele nas redes sociais, acrescentando que Bolsonaro respondeu a todas as perguntas e que continua à disposição da Justiça.
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Ainda de acordo com Wajngarten, Bolsonaro disse que “não participou de qualquer ato de insurreição ou subversão contra o Estado de Direito”, em referência aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Embora o depoimento fosse destinado à investigar a suposta fraude nos cartões de vacinação, a resposta indica que Bolsonaro também foi questionado sobre sua participação na invasão dos prédios dos Três Poderes, em Brasília. A atuação dele como suposto incitador dos atos é investigada em outro inquérito.
Segundo a CNN Brasil, Bolsonaro também disse no depoimento que não mandou alguém falsificar ou inserir os dados dele e da filha no sistema de vacinação do Ministério da Saúde. Ele teria transferido a responsabilidade pela suposta fraude aos seus auxiliares, sem, no entanto, culpá-los diretamente.
No depoimento, de acordo com o canal de notícias, Bolsonaro disse que não tem conhecimento da participação dos auxiliares na fraude e que não sabe quem acessou o sistema para emitir o certificado de vacinação dele. Ao ser questionado, no entanto, declarou que Mauro Cid era responsável por gerenciar sua conta no Conecte SUS - sistema do Ministério da Saúde que mantém os certificados de vacinação.
Entenda a investigação
O objetivo da PF é determinar se Bolsonaro tinha conhecimento da fraude, se ordenou que ela ocorresse e também se beneficiou dela. As inserções dos dados falsos sobre a vacinação contra a Covid-19 ocorreu dias antes dele viajar para os Estados Unidos da América no final de dezembro. À época, era necessário comprovar a vacinação contra a doença para ingressar no país.
No despacho que autorizou a Operação Venire, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, considerou plausível a possibilidade de que Bolsonaro tivesse conhecimento da fraude nos cartões de vacinação.
“Não há qualquer indicação nos autos que conceda credibilidade à versão de que o ajudante de ordens do ex-Presidente da República Jair Messias Bolsonaro pudesse ter comandado relevante operação criminosa, destinada diretamente ao então mandatário e sua filha L. F. B., sem, no mínimo, conhecimento e aquiescência daquele [Bolsonaro], circunstância que somente poderá ser apurada mediante a realização da medida de busca e apreensão requerida pela autoridade policial”, escreveu Moraes.
Histórico
No dia 3 maio, a Polícia Federal realizou a Operação Venire e prendeu o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, e dois assessores do ex-presidente que atuavam no Palácio do Planalto, Max Guilherme e Sérgio Cordeiro.
Também foram presos Luis Marcos dos Reis, que atuava na equipe de Cid, o ex-major do Exército Ailton Barros, acusado de atuar como intermediário, e o secretário de Governo de Duque de Caxias, João Brecha. A prefeitura do município teria colaborado para a ocorrência da fraude.
Todos eles são suspeitos de se organizarem para inserir dados falsos sobre a vacinação no Conecte SUS. Além de Bolsonaro e de Laura, também teriam sido falsificados os comprovantes da vacinação contra a Covid-19 de Mauro Cid, da esposa e das três filhas dele.
No dia da operação, a PF fez busca e apreensão na casa de Bolsonaro e apreendeu o celular dele. Na ocasião, o ex-presidente negou que tenha se vacinado contra a Covid-19 e afirmou que sequer tem cartão de vacinação. Segundo a CNN, as mesmas declarações foram repetidas no depoimento desta terça-feira.
Este foi o terceiro depoimento de Bolsonaro à Polícia Federal desde que o ex-presidente voltou ao Brasil no dia 30 de março. Ele já depôs no inquérito que investiga a entrada de joias avaliadas em R$ 16,5 milhões com origem na Arábia Saudita e também na investigação sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.