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Mini coelhos e porquinhos-da-índia encantam tutores, mas exigem cuidados específicos

Roedores são dóceis e silenciosos, mas precisam de alimentação adequada, espaço apropriado e acompanhamento veterinário especializado

Para adotar com responsabilidade, é importante buscar ONGs ou criadores legalizados, garantindo que os animais não venham de criadouros clandestinos

Apesar da aparência fofa, mini coelhos e porquinhos-da-índia são pets e não brinquedos, e exigem cuidados específicos para a garantia do bem-estar deles.

A adoção responsável desses animais ainda é pouco discutida no Brasil, onde muitas vezes roedores são vistos como pets de “baixa manutenção”. E é exatamente isso o que pode comprometer a saúde e qualidade de vida deles. Diferente do que se pensa, esses animais precisam de mais do que gaiolas e ração.

“Porquinhos-da-índia e coelhos têm necessidades nutricionais específicas, são sensíveis a mudanças bruscas de temperatura e podem desenvolver doenças sérias se negligenciados”, alerta a médica-veterinária Ariane Prado, do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Ela explica que os coelhos, por exemplo, exigem uma dieta rica em feno para evitar problemas dentários, comuns na espécie. Já os porquinhos-da-índia não produzem vitamina C, o que exige suplementação constante. “Muitos tutores não sabem disso, e o animal acaba sofrendo com escorbuto, uma doença evitável com alimentação adequada”, afirma.

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Adoção consciente exige espaço, rotina e atenção à saúde

Antes de levar um roedor para casa, é fundamental entender seu comportamento. Coelhos precisam de espaço para se movimentar, são animais que não gostam de ficar no colo e podem se estressar com manipulação excessiva.

Já os porquinhos-da-índia são extremamente sociáveis e não devem ser criados sozinhos.

Segundo a ONG Cavia Brasil, que atua no resgate e adoção de roedores domésticos, o abandono de mini coelhos e porquinhos-da-índia tem crescido nos últimos anos, reflexo da falta de informação.

“São animais que vivem entre 5 e 10 anos. Requerem dedicação, limpeza frequente dos viveiros e consultas veterinárias com profissionais especializados em animais exóticos”, ressalta a entidade.

Além disso, a médica-veterinária Marina Guedes, membro da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (Abraves), reforça que a criação desses pets deve ser enriquecida com estímulos e objetos próprios para roer.

“Isso evita o tédio, previne problemas de comportamento e contribui para o desgaste natural dos dentes, que crescem continuamente ao longo da vida”, explica.

Veja o que considerar antes de adotar mini coelhos e porquinhos-da-índia

A adoção de pequenos roedores deve ser pensada com o mesmo cuidado dedicado a cães e gatos. Entenda o que os tutores devem saber antes de tomar essa decisão:

  • Mini coelhos não devem viver presos em gaiolas pequenas. O ideal é que tenham um cercado espaçoso ou possam circular em ambientes seguros da casa;
  • Companhia: porquinhos-da-índia são animais gregários. A recomendação é adotá-los aos pares para evitar sofrimento por solidão;
  • Feno, folhas frescas, ração específica e, no caso dos porquinhos, suplementação de vitamina C;
  • Roedores precisam de acompanhamento com veterinários de animais exóticos ou silvestres;
  • Gaiolas e acessórios devem ser limpos regularmente para prevenir doenças;
  • Comprometimento a longo prazo: esses pets vivem vários anos e não são descartáveis. Adotar é assumir uma responsabilidade duradoura.

Para adotar com responsabilidade, é importante buscar ONGs ou criadores legalizados, garantindo que os animais não venham de criadouros clandestinos.

Em São Paulo, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza (IBDN) oferece orientações sobre a guarda responsável de animais silvestres e exóticos, mesmo os domesticados, e alerta:

“A legislação brasileira não proíbe a criação de mini coelhos ou porquinhos-da-índia, mas é preciso garantir condições mínimas de bem-estar e consultar um veterinário antes de adquirir o animal.”

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.