Fim das ‘feirinhas’ improvisadas: cidade brasileira inaugura Centro Permanente de Adoção

Novo centro foca na ressocialização; pets disponíveis já passaram por protocolos rigorosos de vacinação, castração, microchipagem e avaliação comportamental

Além da infraestrutura, o centro funciona sob a legislação estadual e municipal que exige a rastreabilidade dos animais

A inauguração do primeiro Centro Municipal de Adoção de Cães e Gatos permanente em São Paulo (SP), localizado no bairro Campo Belo, marca uma mudança de paradigma na gestão da fauna urbana no Brasil.

Historicamente, a cultura da adoção no país dependia de eventos esporádicos, as famosas feirinhas em estacionamentos e praças, ambientes que, embora bem-intencionados, são classificados por etólogos como altamente estressantes para os animais devido ao barulho, calor e manipulação excessiva.

A transição para um espaço fixo, desenhado especificamente para a interação tranquila entre o potencial adotante e o animal, reflete uma diretriz moderna de Saúde Única (em inglês, One Health): cuidar do animal é cuidar da saúde pública da cidade.

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Diferente dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ), historicamente associados a doenças e eutanásia, o novo centro foca na ressocialização. Os animais disponíveis já passaram por protocolos rigorosos de vacinação, castração, microchipagem e avaliação comportamental.

A Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico (COSAP), órgão ligado à Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, reforça que a estrutura fixa permite uma triagem muito mais técnica dos adotantes, o que reduz o índice de devolução, um grande trauma para animais que já passaram por abandono.

“A adoção não pode ser um ato de impulso, motivado apenas pela emoção do momento em uma feira. O Centro Permanente permite que a família visite, conheça o temperamento do animal em um ambiente controlado e receba orientação veterinária antes de levar o pet para casa. O objetivo é a adoção definitiva, combatendo o ciclo de ‘adota e devolve’”, indicam as Diretrizes da Cosap.

Além da infraestrutura, o centro funciona sob a legislação estadual e municipal que exige a rastreabilidade dos animais. Cada cão ou gato sai da unidade com o Registro Geral do Animal (RGA), uma “identidade” obrigatória por lei na capital paulista, que vincula os dados do tutor ao microchip do animal.

O Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP) frequentemente alerta que políticas públicas eficazes dependem dessa identificação para responsabilizar tutores em casos de novo abandono.

Conforme o CRMV-SP, “a guarda responsável começa na identificação. O microchip e o RGA são ferramentas essenciais para o censo animal e para coibir o abandono. Ao adotar de um centro oficial, o cidadão insere aquele animal no sistema de proteção do estado, garantindo que ele tenha seus direitos de bem-estar assegurados por lei”.

A criação de espaços permanentes também atende a uma demanda sanitária. Animais mantidos em abrigos superlotados estão sujeitos a surtos de doenças infectocontagiosas. O novo modelo, com baias individuais, solários e áreas de quarentena adequadas, segue as normas de biossegurança veterinária.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.

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