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Como é o treinamento de cães para competições de agilidade

Modalidade tem atraído views no YouTube; treinos misturam disciplina, estímulos positivos e fortalecimento do vínculo entre tutor e animal

Cada aparelho é apresentado de forma gradual, sempre com reforço positivo, sejam petiscos, brinquedos ou carinhos

As competições de agilidade, conhecidas internacionalmente como agility, têm atraído cada vez mais views no YouTube.

Inspirado em modalidades esportivas que desafiam a velocidade e a coordenação, o esporte canino consiste em conduzir o cão por um circuito com obstáculos variados, como túneis, rampas e saltos no menor tempo possível e sem cometer faltas.

Mais do que técnica, o treinamento exige paciência, consistência e uma relação sólida entre tutor e animal.

De acordo com a Confederação Brasileira de Agility (CBA), o esporte está em crescimento no país, com campeonatos regionais e nacionais organizados desde os anos 1990.

“O agility é um exercício físico e mental completo, que fortalece a parceria entre cão e condutor”, destacou a CBA em nota oficial. Mas como é, na prática, a preparação desses atletas de quatro patas?

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O primeiro passo é a socialização. O cão precisa estar confortável em ambientes com barulho, pessoas, outros animais e diferentes superfícies.

Só depois disso é que se introduz o contato com os obstáculos. Cada aparelho é apresentado de forma gradual, sempre com reforço positivo, sejam petiscos, brinquedos ou carinhos.

Segundo o guia “Agility Basics”, publicado pela Federação Cinológica Internacional (FCI), a progressão deve respeitar o ritmo do animal. “Não se trata de forçar o cão, mas de motivá-lo para que associe o percurso à diversão e ao trabalho conjunto com o tutor”, explica o material oficial da FCI.

O aprendizado de cada obstáculo é isolado antes de ser combinado em sequências mais longas, mas o treino completo envolve uma rotina que vai além da pista. Cães de agility precisam de preparo físico, concentração e confiança.

Entre os principais elementos trabalhados estão:

  • Comandos e obediência sólida, ingredientes essenciais para a execução correta das provas;
  • Condicionamento físico, obtido por corridas, fortalecimento muscular e alongamentos para ajudar a prevenir lesões;
  • Foco e autocontrole, treinados por jogos de espera, troca de direção e estímulos de concentração durante o treino;
  • Treino de obstáculos específicos em etapas, como rampas, saltos, gangorras e túneis;
  • Vínculo tutor-cão: a comunicação clara e a confiança mútua são a base da performance.

A CBA ressalta que a idade mínima recomendada para participação em competições oficiais é de 18 meses, justamente para evitar sobrecarga física em cães jovens demais. Além disso, exames veterinários regulares são obrigatórios para garantir que o animal esteja apto à prática esportiva.

Além da competição

Mais do que buscar pódios, o agility tem impacto positivo no bem-estar animal. Segundo o Kennel Club britânico, que organiza campeonatos tradicionais como o Crufts, o esporte melhora a saúde física, reduz o estresse e fortalece o relacionamento entre cães e tutores.

“Agility é uma celebração da parceria, onde o verdadeiro prêmio é o vínculo construído durante o treinamento”, afirma o Kennel Club em seu guia oficial.

No Brasil, muitos tutores veem na prática uma forma de proporcionar enriquecimento ambiental e mental ao cão, além de mantê-lo ativo.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.