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Show em Ouro Preto vira palco de agressão a pessoa com deficiência

Vítima relata humilhação e agressões; órgãos cobram providências e reforçam combate ao capacitismo

Durante as festividades do aniversário de Ouro Preto, no dia 7, no show da banda Capital Inicial, a engenheira ambiental Daianna Lana e sua família foram alvo de atos de capacitismo na área reservada para pessoas com deficiência (PCDs). Segundo relato da própria Daianna, que é pessoa com transtorno do espectro autista e tem Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), ela estava acompanhada da esposa, da filha de 7 anos, do cunhado e da irmã que esta em tratamento contra câncer.

Daianna explicou que a área para PCD estava cheia e que ela e sua família estavam em pé, aproveitando o show, já que não têm limitações de mobilidade que exijam o uso da cadeira.

Pessoas do público, incluindo funcionários da prefeitura, passaram a pedir que se sentassem:

“Eu estava na área reservada para PCD, pediram para que eu me sentasse, mas eu não tenho dificuldade de locomoção. Neguei, e fui xingada, humilhada, disseram até que eu era um mau exemplo para minha filha. Chorei, minha filha ficou desesperada. Um rapaz da organização, me ajudou a sair dali. O que mais me doeu foi ver a equipe do evento, inclusive servidores da prefeitura, pedindo que eu me sentasse. Sou autista, e aquilo me afetou profundamente.”

Daianna relatou ainda que, mesmo com outras pessoas em pé no mesmo espaço, somente ela e a irmã responderam às provocações. Para ela, isso pode estar relacionado ao fato de outras pessoas com deficiência já estarem acostumadas a esse tipo de situação e não reagirem mais

“Não éramos só eu e minha irmã que estávamos em pé na área PCD; todos sem problema de mobilidade estavam assim. Mas só nós respondemos às provocações, talvez porque era a primeira vez que eu usava essa área para acompanhar minha irmã, que está em tratamento de câncer e com baixa imunidade. A médica liberou a ida dela ao show, desde que ficasse na área PCD, por ser um espaço mais tranquilo. Acredito que as outras pessoas ali já estão acostumadas a esse tipo de tratamento e o acham normal. Vi uma mãe tentando fazer o filho autista, que estava em pé e usando abafador, ficar sentado, o que me tocou mais pela situação delas do que por mim.”

O secretário de saúde de Ouro Preto confirmou que um dos agressores é motorista da Prefeitura e não do SAMU, e que a outra pessoa envolvida é assistente social.

A vereadora Lilian França divulgou nota oficial de repúdio ao episódio e declarou que acompanhará o caso. O ocorrido reacende o debate sobre o respeito aos direitos das pessoas com deficiência e a aplicação de políticas públicas de inclusão.

A Comissão Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB de Minas Gerais se manifestou sobre o episódio por meio de nota:

“A Comissão Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/MG torna pública sua posição de repúdio diante do episódio de discriminação e violência ocorrido no último dia 7 de julho de 2025, durante evento cultural no município de Ouro Preto, envolvendo uma mulher autista e seus familiares em área reservada a pessoas com deficiência.

A situação revela grave violação de direitos, com marcas claras de capacitismo, omissão institucional e revitimização.

A conduta adotada pela organização, ao retirar as vítimas do local em vez de conter os agressores, é inaceitável e evidencia falta de preparo, acolhimento e responsabilidade com a inclusão e a dignidade das pessoas com deficiência.

Diante da gravidade do ocorrido, a Comissão já oficiou a Prefeitura de Ouro Preto, requerendo informações formais, medidas de responsabilização e providências concretas para que fatos como esse não se repitam em eventos públicos e de livre acesso.

É dever do poder público garantir a permanência segura, o acesso e o respeito às pessoas com deficiência, assegurando os direitos previstos na Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015).

A Comissão está acompanhando o caso com a seriedade e o rigor que ele exige, e reforça seu compromisso com o enfrentamento de todas as formas de violência, exclusão e discriminação contra a população com deficiência em Minas Gerais.

Capacitismo não se justifica.

Capacitismo não se tolera.

Capacitismo se combate.”

Antônia Veloso tem 25 anos, é ouro-pretana e estudante de jornalismo na Universidade Federal de Ouro Preto. Se interessa por diversas temáticas, como jornalismo cultural, jornalismo político e jornalismo econômico.