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Padre Samuel Fidelis | Líderes ensinam pelas costas

Grandes líderes sabem da importância das pausas, ensinam pelas costas, partilham de sua alma

Líderes ensinam pelas costas

Está certo que Jesus era Deus. Isso eleva seus ensinamentos a outro patamar. É certo também que suas ações são tão divinas que terminam por ser inspiração para a humanidade. O ser humano — cada um de nós! — agitado pelo desejo de possuir e dominar, mandar e reger, é barro sem os respiros e sopros divinos.

“Ensina-nos a orar” (Lc 11,1). Assim suplicam os discípulos após verem Jesus em um momento de intimidade e de entrega ao Pai. Em tempos nos quais costumamos pensar a “chefia” como salvo-conduto para cobranças, essa cena nos faz refletir: grandes líderes sabem da importância das pausas; ensinam pelas costas; partilham de sua alma.

O Mestre, ao orar, dá testemunho da necessidade das pausas. Eis um dos desafios contemporâneos, nesta loucura pela performance e pela produtividade. Estamos o tempo todo consumindo — ainda que sejam distrações. Há pouco espaço para o importante, para além do urgente; para o vital, para além do obrigatório; para as motivações, para além dos deveres... Em outros momentos da história já sentimos culpa pelos pecados — nossos e alheios —, principalmente pelos prazeres carnais. Na nova firma de culto que é o empreendedorismo, é grande heresia n descansar.

Jesus, em sentido diverso, insiste que para ganhar o que mais importa é preciso perder. Há perdas que ajudam a ganhar muito! Grandes ideias são filhas das mudanças de rota, da distração, do ócio...

O homem de Nazaré ensinava pelas costas. A grande motivação de seus seguidores — de ontem e de hoje — vem do seu exemplo. Reside aqui uma grande lição para cada um de nós que, seja no trabalho ou na educação dos filhos, se encontra na função de ensinar. O efeito é sempre mais profundo e duradouro quando nos tornamos encarnação viva das ideias que defendemos.

Grandes líderes não são feitos de princípios — para isso servem os livros —, mas da capacidade de serem, no modo como agem, o grande argumento de que é possível viver com coragem, sabedoria e generosidade. Como diz o dito: “As palavras comovem, os exemplos arrastam.”

O Cristo não apenas fez milagres nem apenas falou: Ele se deu. Não há força mais eloquente de convencimento do que o dom de si. Grandes líderes não dão apenas coisas — presentes ou afagos —, mas oferecem a própria interioridade, a alma, naquilo que fazem.

No exercício da liderança é muito importante não ter reticências quanto às entregas. Não se trata de o(a) líder dar de tudo — isso o tornaria apenas um fazedor de coisas. Até mesmo porque nunca seria o suficiente! O sentido é outro: líderes verdadeiros se fazem tudo (1Cor 9,22).

Estejamos atentos aos rastros de nossa presença diante daqueles que nos foram confiados. Que nossas presenças falem, mesmo quando o silêncio se impuser. Que nossas ausências eduquem, nossas pausas inspirem, e que o sopro divino que nos move continue a ensinar — mesmo pelas costas.

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Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.