Está certo que Jesus era Deus. Isso eleva seus ensinamentos a outro patamar. É certo também que suas ações são tão divinas que terminam por ser inspiração para a humanidade. O ser humano — cada um de nós! — agitado pelo desejo de possuir e dominar, mandar e reger, é barro sem os respiros e sopros divinos.
“Ensina-nos a orar” (Lc 11,1). Assim suplicam os discípulos após verem Jesus em um momento de intimidade e de entrega ao Pai. Em tempos nos quais costumamos pensar a “chefia” como salvo-conduto para cobranças, essa cena nos faz refletir: grandes líderes sabem da importância das pausas; ensinam pelas costas; partilham de sua alma.
O Mestre, ao orar, dá testemunho da necessidade das pausas. Eis um dos desafios contemporâneos, nesta loucura pela performance e pela produtividade. Estamos o tempo todo consumindo — ainda que sejam distrações. Há pouco espaço para o importante, para além do urgente; para o vital, para além do obrigatório; para as motivações, para além dos deveres... Em outros momentos da história já sentimos culpa pelos pecados — nossos e alheios —, principalmente pelos prazeres carnais. Na nova firma de culto que é o empreendedorismo, é grande heresia n descansar.
Jesus, em sentido diverso, insiste que para ganhar o que mais importa é preciso perder. Há perdas que ajudam a ganhar muito! Grandes ideias são filhas das mudanças de rota, da distração, do ócio...
O homem de Nazaré ensinava pelas costas. A grande motivação de seus seguidores — de ontem e de hoje — vem do seu exemplo. Reside aqui uma grande lição para cada um de nós que, seja no trabalho ou na educação dos filhos, se encontra na função de ensinar. O efeito é sempre mais profundo e duradouro quando nos tornamos encarnação viva das ideias que defendemos.
Grandes líderes não são feitos de princípios — para isso servem os livros —, mas da capacidade de serem, no modo como agem, o grande argumento de que é possível viver com coragem, sabedoria e generosidade. Como diz o dito: “As palavras comovem, os exemplos arrastam.”
O Cristo não apenas fez milagres nem apenas falou: Ele se deu. Não há força mais eloquente de convencimento do que o dom de si. Grandes líderes não dão apenas coisas — presentes ou afagos —, mas oferecem a própria interioridade, a alma, naquilo que fazem.
No exercício da liderança é muito importante não ter reticências quanto às entregas. Não se trata de o(a) líder dar de tudo — isso o tornaria apenas um fazedor de coisas. Até mesmo porque nunca seria o suficiente! O sentido é outro: líderes verdadeiros se fazem tudo (1Cor 9,22).
Estejamos atentos aos rastros de nossa presença diante daqueles que nos foram confiados. Que nossas presenças falem, mesmo quando o silêncio se impuser. Que nossas ausências eduquem, nossas pausas inspirem, e que o sopro divino que nos move continue a ensinar — mesmo pelas costas.