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Padre Samuel Fidelis | Você tem inocência?

Destruímos a infância negando os direitos mais básicos, condições de vida digna, a inocência de conteúdos que não sejam ambíguos, músicas divertidas e com ritmo, em vez de sugestivas

Padre Samuel Fidelis

A gente se encanta pela inocência. Basta pensar como é bom estar em meio às flores, como a simplicidade atrai, como a vida ganha novo sentido, em uma família, pela chegada de uma criança. É bom, poder ter tempo para comparecer nesse jardim secreto que todos possuímos dentro de nós e que precisa de cultivo!

Em outubro celebrarmos, no calendário católico (em num sentido universal!) várias figuras que nos fazem comparecer diante dessa necessidade de encontrar o belo que se esconde no simples... Os anjos, Teresinha de Lisieux, Francisco de Assis, o dia das crianças...

Claro, na maneira como vemos essas figuras a certo romantismo. Projetamos sobre todas uma percepção acumulada que tende a colocar açúcar nos dramas humanos. O fato é que, nestes tempos em que tudo tem preço, os afetos têm prazo de validade e as relações são mediadas pelo interesse e pelo desejo de levar vantagem em tudo, convém pensar também em pureza em simplicidade.

Pensemos, nas Escrituras, os anjos são sinais de lealdade, um amor fiel que acompanha em todos os caminhos. Anjos (mais do que seres fofinhos!) são facilitadores do bem. Pensemos como, o ambiente de trabalho, por exemplo, pode ser mais leve se formos portadores de boas notícias, se houver um compromisso de proteção mútua... E o bom humor. Faz bem pensar que os anjos são bem-humorados. Como assevera Lewis: “Anjos só podem voar porque não se levam a sério...”

Uma outra figura que marca para sempre a humildade é são Francisco de Assis. Atual, ontem e hoje como sinal daquele despojamento necessário aos que se dizem cristãos, mas podem estar cheios do que menos importa. Francisco é um permanente sinal de que a busca pelos bens deste mundo nunca será suficiente, que é não há nobreza maior do que a generosidade, que nós temos um parentesco uma responsabilidade diante dos animais, das plantas, de todas as criaturas.

Ah, as crianças... Um sagrado dizer sim, lembrava Nietzsche. Nossos sentimentos diante de uma criança são um indício da reconciliação ou não com nosso passado, de nossa esperança na promessa de dias melhores. É certo que nem todos têm vocação para ser pais! Filho é bom, mas custa caro e dura. Geralmente vem com a genética ruim da família do marido. Quando começam a dar retorno sobre investimento, vem alguém e leva pronto para a sua casa! Às vezes não querem ter filhos é questão de saúde mental! Mas não gostar de crianças? Fazer mal a crianças? Ah... Isso certamente sinal de quem já morreu por dentro.

Nossa cultura nos roubou a pureza. Transformamos o instante em perda de tempo, o belo do nu em escracho, o prazer em escravidão. Nosso modelo de produção é tão insustentável quanto os nossos desejos. Confundimos felicidade que é o que acontece quando se está distraído, é a resultante de boas escolhas e companhias; felicidade é não o excesso, mas o cheiro da flor, o calor do corpo de quem se ama, o riso o bobo, é... quase um quase.... Numa ânsia por dopamina.

Na busca pela eterna juventude, sumimos com as pontas... Escondemos o “velho” como se tudo que tudo que fique antigo se torna, per se, obsoleto. Destruímos a infância negando os direitos mais básicos, condições de vida digna, a inocência de conteúdos que não sejam ambíguos, músicas divertidas e com ritmo, em vez de sugestivas.

É mês das crianças, de todas, as em situação de miséria, cujo futuro é sequestrado, das crianças que vivem solidão em casa cheia, daqueles cujos genitores são tão pobres que só têm dinheiro a oferecer. Cada um encontre a criança que traz dentro de si, olhe com atenção sua demanda pelo lúdico, a motivação do seu encontramento, suas pirraças...

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Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.