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Dom Walmor | Ousadia escandalosa

Eliminar o tombamento da Serra da Piedade é ofensa à memória de seus defensores

Santuário em Caeté, na Serra da Piedade

“Herança nossa que vamos sempre preservar e defender”: o compromisso rezado na consagração a Nossa Senhora da Piedade, no alto da Serra da Piedade — sagrada arquitetura divina e casa de clemência e bondade — contrasta com a ousadia escandalosa recentemente desmontada por operação policial. Investigou-se a tentativa criminosa de destombamento da Serra para fins minerários, movida por ganância e conivência de quem deveria proteger o patrimônio ambiental. Revela-se, assim, o descompasso ético-moral que corrói a sociedade.

Eliminar o tombamento da Serra da Piedade é ofensa à memória de seus defensores. Recorda-se Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, o “Evangelista da Piedade”, fundador da Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade e pioneiro na preservação ambiental movida pela fé mariana. A devoção que inspirou atravessou gerações, unindo figuras como o português Antônio da Silva Bracarena, eremita que construiu a ermida da Padroeira de Minas Gerais, a menor basílica do mundo.

Também o jovem padre Carlos Carmelo Vasconcelos Motta, depois cardeal arcebispo de São Paulo e Aparecida, preservou a reverência à Serra e confiou sua guarda a Frei Rosário Joffily, que ali viveu por 50 anos, consolidando uma escola de defesa do patrimônio natural e espiritual. Essas figuras inspiram hoje um coro de vozes que exigem reação firme das autoridades contra qualquer tentativa de destruição da Serra e de outros bens sagrados.

A hegemonia do dinheiro e a lógica extrativista não podem pautar políticas ambientais. É urgente que licenciamentos sejam baseados em pareceres técnicos, livres de interesses escusos que geram tragédias e crimes ambientais. É preciso desmontar organizações criminosas e resgatar valores como verdade, liberdade e justiça, sem os quais a sociedade mergulha na corrupção e no desrespeito ao meio ambiente.

O ordenamento jurídico e o exercício da cidadania devem caminhar juntos, fiéis à verdade e ao bem comum. Somente uma prática educativa contínua, voltada à formação moral, poderá conter a ganância e restaurar a justiça como virtude fundamental. O ser humano livre é aquele que recusa o mal e busca o bem comum.

A Doutrina Social da Igreja ensina que justiça é reconhecer o outro como pessoa, nunca como mero instrumento. Ignorar os impactos socioambientais do destombamento da Serra é desconsiderar essa sacralidade e afrontar o Criador. Tal ousadia exige punição exemplar e reparação dos danos, para que prevaleça a sensibilidade socioambiental e o compromisso expresso na oração à Padroeira de Minas Gerais: a Serra da Piedade é “herança nossa que vamos sempre preservar e defender”.

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O Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e publica semanalmente aos sábados no Portal Itatiaia.