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Dom Walmor | Feridas abertas

É urgente superar o ceticismo e conferir nova luz à razão, para que aumente o número daqueles que curam pelo perdão e gratidão

No lugar do cinismo e dos extremismos, o desafio do cristão é levar a razão a funcionar integralmente

Do lado aberto de Cristo na cruz jorraram sangue e água: fonte eterna de graças e redenção. Seu sacrifício arranca a humanidade do fracasso e contrapõe-se às feridas abertas do tempo presente, multiplicadas pela perversão e pelo hábito doentio de ferir mais do que curar. Mesmo com tantos avanços científicos, muitas enfermidades incidem sobre a razão humana que, adoecida, justifica ações predatórias contra o próximo e o meio ambiente. As feridas sociais brotam de iniquidades, indiferenças, manipulações e ganância. Entre seus aguilhões está a mentira, que distorce a consciência cidadã, fomenta disputas insanas por poder. Nessa distorção, a mediocridade faz o homem acreditar que deve ajuntar tudo para si, ainda que ao preço da corrupção.

A corrupção escancara a porta da violência, impondo interesses particulares sobre o bem comum. Cresce a intolerância diante da divergência e a vingança é normalizada, minando a gratidão e a convivência pacífica. Assim, ideologias alimentam cinismos, divisões e autoritarismos, seduzindo seguidores que se julgam “donos da verdade”. Nesse processo, a moralidade é rifada ao sabor do partidarismo, e multiplicam-se feridas nas instituições.

Bento XVI advertia que a razão doente se manifesta na crueldade e indiferença, ignorando a dignidade humana e os pobres. O cristão, portanto, não é chamado a negar a razão, mas a defendê-la em sua plena capacidade de perceber o bem e o sagrado. Este é o verdadeiro combate contra a desumanidade. No lugar do cinismo e dos extremismos, o desafio do cristão é levar a razão a funcionar integralmente, não apenas no campo tecnológico, mas como faculdade para reconhecer e efetivar atitudes alicerçadas no amor. A razão livre de patologias transforma relações pessoais e internacionais, fundamentando-as na solidariedade - não na vingança.

É urgente superar o ceticismo e conferir nova luz à razão, para que aumente o número daqueles que curam pelo perdão e gratidão. Assim se abre um tempo novo, de feridas cicatrizadas por gestos de amor e reconciliação. Que do lado aberto de Cristo ecoe sempre o clamor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

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O Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e publica semanalmente aos sábados no Portal Itatiaia.