O resultado das eleições nos Estados Unidos pode colocar novamente um presidente brasileiro em uma saia justa. Agora, em 2024, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrentará o mesmo dilema de seu antecessor, Jair Bolsonaro: parabenizar o presidente eleito dos EUA ou manter-se em silêncio após o resultado a virtual virtória de Donald Trump (Republicano) sobre Kamala Harris (Democrata).
Quando era presidente do Brasil, Bolsonaro viu seu candidato favorito, Donald Trump, ser derrotado por Joe Biden em sua tentativa de reeleição. Contrariando o protocolo estabelecido pela diplomacia brasileira, o então chefe do Executivo
Lula vai se manifestar?
Apesar de declarar preferência por Kamala, Lula não deve repetir o comportamento de Bolsonaro em 2020. Segundo fontes da diplomacia brasileira, a tendência é que o presidente repita gestos feitos em seu terceiro mandato, como enviar solicitações a presidentes eleitos por carta ou por telefone.
Segundo Lucas Lima, professor de Direito Internacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o ideal seria que o presidente Lula preservasse a diplomacia brasileira e evitasse causar atritos com outros países neste momento.
“Há um profissionalismo no nosso Ministério de Relações Exteriores que não iria de nenhuma maneira distratar ou se recusar a reconhecer”, pontua o professor, que faz um adendo: “Mas ao mesmo tempo vai depender muito de como se dará esse apuração final. Se haverá tumulto, se haverá o não reconhecimento de um dos lados. Eu acho que nesse ponto o Governo Brasileiro vai ser cauteloso em verificar essa situação”, avaliou ele.
E como fica a relação entre os países?
Apesar das visões políticas distintas, a vitória de Kamala ou Trump não deve mudar a relação que o Brasil historicamente tem com os EUA, conforme avalia o professor Lucas Lima.
“Não há nenhuma razão nesse momento para imaginar qualquer tipo de atrito com o presidente Donald Trump, se for eleito. Há uma relação pragmática, há uma relação histórica de cooperação e de colaboração, então não haveria motivos para mudar essa relação”, afirmou.
O bom relacionamento entre os países dependerá do comportamento do presidente eleito. No caso de Kamala Harris, Lima antecipa a continuidade das relações estabelecidas durante o governo de Joe Biden. Já em relação a Donald Trump, o professor não prevê grandes problemas nas relações bilaterais.
“A possível eleição de Trump não coloca necessariamente o Brasil em rota de colisão, ainda que Donald Trump decida se retirar mais uma vez do acordo de Paris. Isso porque hoje essas negociações internacionais não dependem exclusivamente dos Estados Unidos. Há um compromisso de uma série de outros países, de uma série de outras iniciativas também benéficas ao Brasil e, como se sabe, o Brasil já persistiu numa relação em que havia uma desistência por parte dos Estados Unidos em relação ao acordo de Paris”, concluiu o professor.