Zoraya ter Beek, a holandesa de 29 anos, que teve sua solicitação de eutanásia por “sofrimento mental” aprovada na Holanda após, segundo ela, lutar contra a depressão crônica, ansiedade, transtorno de personalidade e o Transtorno do Espectro Autista (TEA), pode realizar o procedimento nas próximas semanas.
Ter Beek, teve a autorização para a realização do procedimento aprovada na semana passada e agora aguarda o método que pode ser realizado em sua casa. As informações foram confirmadas pelo jornal britânico The Guardian.
De acordo com a mulher, ela não irá sofrer nenhum problema físico que a deixe incapacitada ou que lhe cause extrema dor. Ter Beek tinha uma vida comum, apesar dos problemas emocionais, mas “sabia que não conseguiria lidar com a maneira” como vive agora por muito tempo. Ela havia solicitado o procedimento pela primeira vez em 2020.
Os impactos da saúde mental da holandesa, começaram ainda na infância e até hoje já passou por diversos tratamentos intensivos, incluindo psicoterapia, medicação e mais de 30 sessões de eletroconvulsoterapia (ECT).
A mulher afirmou, também, que já havia cogitado se suicidar, mas rejeitou a ideia após a morte de uma colega de escola e o impacto devastador que isso teve na sua família. Ela também disse que, mesmo após encontrar um namorado, que tenta ajudá-la diariamente, não conseguiu parar de ter pensamentos suicidas.
O processo da eutanásia
O processo para realizar a eutanásia foi descrito por Ter Beek como “longo e complicado”, já que envolve avaliações por equipes médicas e revisões independentes. Ela afirmou que em cada estágio foi questionada sobre sua “certeza” na decisão, à qual ela afirma que “nunca hesitou”. Agora, com a aprovação das autoridades, Ter Beek se prepara para realizar o procedimento nas próximas semanas, que deve ocorrer na sua casa.
“Nos três anos e meio que isso levou, nunca hesitei sobre minha decisão. Eu senti culpa, tenho um parceiro, família, amigos e não sou indiferente à dor deles. E senti medo. Mas estou absolutamente determinada a seguir em frente”, disse ela.
A Holanda, primeiro país a legalizar a eutanásia em 2001, permite o procedimento sob condições estritas, incluindo “sofrimento insuportável, sem perspectiva de melhora”. O caso de Ter Beek é incomum, mas reflete um aumento no número de eutanásias solicitadas por transtornos mentais no país, que saltou de dois casos em 2010 para 138 em 2023, segundo o Guardian.
Confira a história de Zoraya ter Beek
A história de Ter Beek foi contada pela primeira vez em abril deste ano pela rede The Free Press. Ela disse que decidiu pela morte assistida após seu psiquiatra afirmar que havia tentado de tudo, mas que não havia mais nada que pudesse fazer por ela.
“Isso nunca vai melhorar”, ela citou a frase do médico à rede. Ao jornal britânico The Guardian, pouco mais de um mês depois, Ter Beek lembrou que, no início do tratamento, ainda tinha expectativas de que fosse melhorar.
“Na terapia, aprendi muito sobre mim mesmo e sobre os mecanismos de enfrentamento, mas isso não resolveu os problemas principais. No início do tratamento, você começa esperançoso. Achei que iria melhorar. Mas quanto mais o tratamento dura, você começa a perder a esperança” disse ela, afirmando que, após dez anos de tratamento, “não sobrou nada” em que pudesse apostar.
A holandesa Zoraya ter Beek teve aprovada sua eutanásia.
A decisão veio pouco depois do fim das sessões de ECT, em agosto de 2020. Ter Beek contou que passou um período “aceitando” que não havia mais tratamento antes de, em dezembro daquele mesmo ano, solicitar a morte assistida ao governo.
“Eu sabia que não conseguiria lidar com a maneira como vivo agora”, disse ao jornal britânico.
Ter Beek disse que é “um insulto” as pessoas deduzirem que, apenas porque está com transtornos mentais, você “não consegue pensar direito”. Ela, porém, afirmou que é compreensível que casos como o seu, bem como o debate mais amplo se a eutanásia deveria ou não ser legalizada, eram controversos.
“Entendo o medo que algumas pessoas com deficiência têm em relação à morte assistida e a preocupação de que as pessoas sejam pressionadas a morrer. Mas na Holanda já temos esta lei há mais de 20 anos. Existem regras muito rígidas e é muito seguro”, afirmou.