A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, anunciou que retirou a pele humana que encadernava o livro “Des destinées de l’âme” (“Destinos da Alma” em português). A obra estava guardada na Biblioteca Houghton e, desde 2014, pesquisadores sabiam que o livro continha restos mortais.
Em um comunicado, a universidade pediu desculpas por manter a obra com a pele humana em seu acervo, mesmo sabendo que ela continha restos mortais. A Biblioteca de Harvard admitiu que falhou eticamente. “Pedimos desculpas às pessoas afetadas negativamente por essas ações”, disse a instituição.
O livro escrito pelo francês Arsène Houssaye foi publicado na década de 1880. Porém, originalmente a obra não estava encadernada assim. Quem encadernou o livro com pele humana foi o primeiro proprietário do volume alterado - o médico e bibliófilo francês Dr. Ludovic Bouland (1839–1933).
Bouland encadernou o livro com a pele que retirou do corpo de uma paciente falecida. O ato foi realizado sem consentimento. O livro está na coleção de Harvard desde 1934.
Recomendação para retirar a pele
De acordo com a universidade, a retirada da pele do livro foi uma recomendação do Relatório do Comitê Diretor da Universidade de Harvard sobre Restos Humanos em Coleções de Museus Universitários, emitido em 2022.
Depois de analisarem a obra, o comitê e a Biblioteca de Harvard concluíram que “os restos mortais usados na encadernação do livro não pertencem mais às coleções da universidade, devido à natureza eticamente carregada das origens do livro e da história subsequente”.
Agora, os pesquisadores da biblioteca trabalham para descobrir mais sobre Bouland e a paciente anônima. Também será estudado, junto às autoridades da universidade e da França o melhor destino para os restos mortais.
Harvard admite falha ética
Em seu site oficial, a biblioteca afirmou que não conseguiu cumprir os padrões éticos em relação à obra. Até pouco tempo era possível pegar emprestado o livro, sem qualquer justificativa. Apenas em 2014, através de uma análise científica, é que os pesquisadores descobriram que o livro havia sido encadernado com pele humana.
Harvard ainda admite que, após a descoberta, utilizou o blog de Houghton para se referir a obra de maneira “sensacionalista, mórbida e humorística”. Fato que acabou levando a imprensa internacional cobrir o assunto.
“A Biblioteca de Harvard reconhece falhas passadas na administração do livro que objetivaram e comprometeram ainda mais a dignidade do ser humano cujos restos mortais foram usados para sua encadernação”, conclui a universidade.