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Cultura da Doação: qual a importância para o Brasil?

Exemplo da americana Ruth Gottesman fomenta debate sobre a cultura da doação

Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York

Nesta semana o mundo se surpreendeu com uma doação impressionante de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) feita pela americana Ruth Gottesman à Faculdade Albert Einstein College of Medicine, localizada no bairro do Bronx, em Nova York. Ruth, ex-professora da instituição e também atual presidente do conselho, já era uma doadora recorrente junto ao seu falecido e bilionário marido, David Sandy, importante figura do mercado de investimentos americano.

A doação, que é uma das maiores da história dos EUA, possibilitará que todos os alunos estudem gratuitamente na faculdade.

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Nos EUA é comum que ex alunos façam doações para as universidades, a prática é conhecida como “alumini” e possibilita que diversos jovens mais humildes possam ter um estudo de excelência. A grande questão que quero fazer você refletir é sobre a importância da cultura de doação para o desenvolvimento socioeconômico do nosso país.

Quem trabalha como consultor em responsabilidade social sabe o quanto é importante o desenvolvimento de uma cultura mais humana nas empresas para que se melhore o ambiente de trabalho e também para gerar mais oportunidades para funcionários, clientes e comunidades.

Ruth L. Gottesman

Cultura da Doação nos EUA

A doação da ex-professora demonstra a maturidade do povo americano quanto à importância da filantropia para o avanço do país.

Para se ter uma ideia, em 2018, a cultura da filantropia nos Estados Unidos, encorajada por incentivos fiscais, levou a uma arrecadação recorde de US$ 46,7 bilhões (R$ 182 bilhões) para diversas instituições de ensino do país. Somente os ex-alunos doaram mais de 12 bilhões de dólares, o que representa 26% do total arrecadado no ano.

Mas essa cultura da doação não surgiu de repente, ela é cultivada há mais de cem anos, diariamente, é o que acontece na Universidade de Harvard, que disponibiliza em seu próprio site uma página para doações.

Cenário distinto no Brasil

Infelizmente, o Brasil está bem atrasado nesse quesito, mas estamos caminhando. Movimentos filantrópicos, já mencionados por essa colunista, como o Movimento Bem Maior, nasceram para estimular a filantropia no país e têm obtido excelentes resultados.

As universidades brasileiras também estão se movimentando para desenvolverem uma cultura de doação. Um bom exemplo é o programa Adote um Aluno da Faculdade de Direito da USP, no qual ex-alunos podem ajudar os estudantes mais carentes selecionados no programa a receberem R$ 600 mensalmente através da doação de valores que variam entre R$ 50 a R$ 1 mil por mês.

Em um país em que grande parte dos estudantes das universidades públicas pertence à classe alta, programas como o da USP são importantes ferramentas de inclusão, uma vez que, os formandos mais afortunados podem contribuir para a formação dos mais humildes.

Esse é um modelo de doação que acredito ser extremamente viável, fácil e de alto impacto. Devolver para a Sociedade é o título de uma das palestras ministradas na Terceiro Olhar para lideranças empresariais, nela falo sobre a importância da cultura da doação financeira e do voluntariado para o fortalecimento institucional e o desenvolvimento do futuro do país. É uma das formas que trabalhamos a cultura das empresas e das pessoas.

Assim, vamos disseminando essa consciência mais humana que gera oportunidades e transforma vidas. Não sei quando teremos no Brasil uma filantropa como Ruth Gottesman, mas fato é, só depende da nossa cultura.

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Bruna Braga é jornalista, consultora em RSC e fundadora da Terceirolhar