Centenas de atores se manifestaram nesta sexta-feira (14) em frente à sede da Netflix e de outros estúdios em Los Angeles, na maior paralisação da produção cinematográfica e televisiva de Hollywood em décadas.
Os grevistas marcharam com cartazes diante do edifício da Netflix, no famoso Sunset Boulevard, bem como em frente às instalações de HBO, Amazon e Paramount, enquanto os motoristas que circulavam pelo locam expressavam apoio soando suas buzinas.
“Estamos nisso há muito tempo, mas este é um momento histórico”, disse à AFP Vera Cherny, de 44 anos, que interpretou papéis nas séries “The Americans: Rede de Espionagem” e “For All Mankind”.
"É hora de fecharmos os contratos que vão servir para as futuras gerações de atores. Assim como em 1960", comentou.
Os atores se uniram aos roteiristas que estão greve há algumas semanas, em uma disputa com os estúdios e plataformas de streaming para exigir aumentos salariais que provocaram a pior greve da indústria desde 1960.
A paralisação, convocada pelo comitê nacional do ‘Screen Actors Guild’ (Sindicato dos Atores, SAG-AFTRA) dos Estados Unidos começou à meia-noite de quinta-feira em Los Angeles (4h00 de Brasília, sexta-feira).
"É uma sensação agridoce, porque hoje estou muito orgulhoso. Mas também estou bastante triste”, comentou E.J. Arriola, um ator de televisão de 42 anos enquanto protestava em frente aos estúdios da Netflix.
Os atores reivindicam melhorias salariais, um reajuste nos pagamentos que recebem pelas reexibições de suas produções, além de definições sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) na indústria, entre outros pontos.
“Não temos opção”, declarou Fran Drescher, presidente do SAG-AFTRA e estrela da série “The Nanny”, em um discurso enérgico para anunciar a convocação de greve contra os estúdios.
“Se não fizermos isso agora, todos vamos estar em apuros. Estaremos ameaçados de sermos substituídos pelas máquinas e os grandes negócios”, afirmou a líder do sindicato, que reúne mais de 160.000 atores e outros profissionais do cinema e da televisão.
A Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), que representa os estúdios e as plataformas de streaming, afirmou em comunicado que ofereceu “aumentos históricos de salário e pagamentos residuais”, além de respostas a outras demandas.
“Uma greve não era o que esperávamos [...] O sindicato, infelizmente, escolheu um caminho que vai criar dificuldades econômicas para milhares de pessoas que dependem da indústria”, acrescentou.
O CEO da Disney, Bob Iger, disse à emissora CNBC na quinta-feira que as expectativas dos roteiristas e atores “não são realistas” e chamou a greve de “muito preocupante”.
Paralisação da indústria
A paralisação dos roteiristas já havia reduzido a quantidade de filmes e programas em produção em Hollywood, mas sem atores a indústria será obrigada a parar quase por completo.
Apenas alguns reality shows, programas de auditório e de entrevistas poderiam continuar no ar. Mas as séries e outras produções de grande sucesso enfrentarão atrasos.
As estrelas também não participarão dos eventos promocionais de seus filmes.
A Comic-Con, um dos principais eventos anuais da cultura pop marcado para a próxima semana em San Diego, pode ficar sem a presença de estrelas. Além disso, o movimento sindical pode afetar a presença dos atores da indústria americana em grandes festivais internacionais, como o de Veneza.
A cerimônia do Emmy, prevista para 18 de setembro, pode ser adiada para novembro ou até mesmo para 2024.
Crise existencial
Um dos principais pontos de divergência entre os sindicatos e os estúdios são os chamados pagamentos “residuais”, efetuados todas as vezes que as plataformas transmitem uma produção da qual participaram.
Para os atores, a fórmula deve considerar a popularidade das produções na hora de realizar a compensação. Assim, um programa mais assistido geraria mais pagamentos “residuais”.
Mas as plataformas de streaming, como Netflix e Disney+, mantêm sob sigilo as estatísticas de visualização e oferecem a mesma tarifa por tudo o que transmitem em seus catálogos, sem considerar a popularidade.
Além disso, tanto atores como roteiristas querem a regulamentação do uso futuro da IA na indústria, que veem como uma ameaça a seu trabalho.
A greve dupla confirma a crise existencial da indústria de Hollywood.
Na quinta-feira, muitos atores organizaram um protesto em Nova York.
"É doloroso e necessário”, declarou à AFP Jennifer Van Dyck, atriz e integrante do sindicato. “Quando o CEO da Disney recebe 45 milhões de dólares e nós pedimos para receber apenas um salário decente, acredito que são eles que podem ser acusados de serem pouco razoáveis”.