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Uma a cada dez crianças trabalha no mundo, diz relatório da Unicef; número cresceu pela primeira vez após 20 anos

Cerca de 160 milhões de crianças estão em situação de trabalho infantil globalmente; mais da metade têm entre 5 e 11 anos

Quase metade das crianças possuem trabalhos considerados perigosos

Uma a cada dez crianças, ou pelo menos 160 milhões, trabalham ao redor do mundo, é o que diz um relatório realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Os números foram divulgados nesta segunda-feira (12), data em que é celebrado o Dia Mundial do Combate ao Trabalho Infantil.

Segundo o levantamento, o total de crianças nessa situação cresceu 8,4 milhões nos últimos quatro anos. Esta é a primeira vez que há um aumento no trabalho infantil em mais de 20 anos. Até 2016, a tendência era que o número de crianças que trabalham diminuísse. Entre 2000 e 2016, esse número reduziu em 94 milhões.

Segundo a Unicef, o crescimento é devido aos impactos da pandemia da Covid-19. Devido às crises econômicas e ao fechamento de escolas, muitas crianças se viram obrigadas a trabalhar mais horas ou em condições piores. Outras começaram a trabalhar após familiares perderem o emprego no período pandêmico.

Dados alarmantes

Segundo o relatório, a quantidade de crianças entre 5 e 11 anos usadas como mão-de-obra cresceu significativamente. Elas representam mais da metade do total. As crianças entre 5 e 17 anos em trabalhos considerados perigosos também aumentou - de 6,5 milhões para 79 milhões, desde 2016.

O levantamento ainda revela que 70% das das crianças em situação de trabalho infantil (112 milhões) trabalham no setor agrícola, 20% em serviços (31,4 milhões) e 10% na indústria (16,5 milhões).

Quase 28% das crianças de 5 a 11 anos, e 35% das crianças de 12 a 14 anos, em situação de trabalho infantil estão fora da escola.

Ações de combate

O trabalho infantil coloca em risco a saúde física e mental das crianças. Ele compromete a educação, restringe direito e limita oportunidades futuras. Além disso, a mão-de-obra infantil leva as novas gerações a ciclos viciosos intergeracionais de pobreza e trabalho infantil.

Segundo o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, as estimativas são uma alerta e ações de combate devem ser implementadas para proteger a nova geração. “A proteção social inclusiva permite que as famílias mantenham seus filhos na escola mesmo diante de dificuldades econômicas. É essencial aumentar o investimento no desenvolvimento rural e no trabalho decente na agricultura”, disse.

“O antídoto para o trabalho infantil causado pela pobreza é o trabalho decente para os adultos, para que possam sustentar suas famílias e mandar seus filhos e suas filhas para a escola, não para o trabalho”, afirmou em pronunciamento oficial. “Devemos intensificar nossa luta contra o trabalho infantil, apoiando uma maior justiça social”.

Iniciativa brasileira

No Brasil, o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI) cria todos os anos uma campanha nacional de conscientização sobre o tem. Em 2023, o mote é: “Proteger a infância é potencializar o futuro de crianças e adolescentes. Chega junto para acabar com o trabalho infantil”.

O órgão propõe um chamado à sociedade para erradicar o trabalho infantil, observando que a proteção à infância é fundamental tanto para o enfrentamento do trabalho infantil, como para o florescimento das potencialidades de crianças e adolescentes.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.