As inundações e deslizamentos de terra provocados pelas fortes chuvas que atingiram o leste da República Democrática do Congo, na semana passada, deixaram mais de 400 mortos, segundo um balanço divulgado nessa segunda-feira (8) e autoridades políticas fazem visitas às aldeias e levam caixões e ajuda humanitárias às vítimas do desastre.
Na comunidade, essa contribuição do governo é descrita como “tardia”, depois que centenas de corpos foram enterrados em valas comuns, conforme relata o jornal Africa News, nesta quarta-feira (10).
“Esses caixões chegaram atrasados. Gostaríamos que chegassem a tempo, foi importante porque já enterramos gente como porcos, colocando 3, 5, 10, 40 pessoas no mesmo buraco. Mas olha, não podemos ajude, ainda há corpos sob os escombros que precisam ser encontrados e talvez esses caixões sejam úteis para enterrá-los com honra” disse Roger Nabusike, um morador de Nyamukubi ao jornal.
As fortes chuvas provocaram o transbordamento dos rios e deslizamentos de terra que devastaram as aldeias de Bushushu e Nyamukubi no território Kalehe de Kivu do Sul, disse o governador provincial Theo Kasi à CNN na segunda-feira.
Segundo o departamento de assuntos humanitários da ONU, cerca de 3.000 famílias ainda estão sem abrigo. Théo Ngwabidje Kasi, governador da região de Kivu do Sul, disse que “cada família afetada recebeu mais de mil dólares (USD)”.
“Os hospitais vão ser salvos e reforçados, fizemos primeiro a nível local e hoje temos alívio (do governo central, nota do editor), mas isso não representa nada em comparação com as necessidades”, completou.
A República Democrática do Congo é um dos maiores países da África e um dos mais pobres do mundo, assolado pela corrupção e pela violência na parte oriental.
Luto Nacional
“Os desabrigados precisam de tudo”, disse Thomas Bakenga, administrador do território de Kalehe, onde ficam as as localidades afetadas, às margens do lago Kivu na fronteira com Ruanda. O governo enviou um barco com alimentos, lonas e medicamentos.
O panorama, porém, segue sendo desolador. Há povoados inteiros submersos, casas destruídas e campos devastados. O governo central decretou um dia de luto nacional na segunda-feira (8).
Roger Bahavu, outro dos afetados em Nyamukubi, contou à AFP que perdeu toda sua família.
“Sou motorista. Havia voltado do trabalho, estacionei minha moto em casa e saí para ver os meus amigos. Quando voltei, minha casa, minha moto, e os membros da minha família haviam desaparecido” relatou.
Isaac Habamungu, membro da Cruz Vermelha local, disse que há muitos corpos. “Estamos atolados”, advertiu.
“Acreditamos que muitos corpos terminaram no lago (...) Nos perguntamos como vamos cuidar disso”, acrescentou, explicando que não tem sacos para cadáveres nem financiamento para suas atividades.
A catástrofe aconteceu dois dias depois das inundações que deixaram pelo menos 131 mortos e destruíram milhares de casas na vizinha Ruanda.
No sábado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse em visita ao Burundi que as tragédias são uma nova “mostra da aceleração da mudança climática e suas consequências dramáticas para países que não são responsáveis pelo aquecimento” do planeta.
Os especialistas afirmam que os fenômenos meteorológicos extremos ocorrem com maior frequência e intensidade devido à mudança climática.
Mudanças climáticas
O chefe da ONU disse, às agências de notícias, que as cheias são mais um exemplo da aceleração das alterações climáticas. Ele destacou que os impactos mais arrasadores são sentidos em países que não contribuem em nada para o aquecimento do planeta.
Após o desastre, a representante de Guterres na República Democrática do Congo, Bintou Keita, expressou pêsames aos que perderam seus entes queridos. A Missão da ONU no país, Monusco, apoia as autoridades com seus parceiros locais.
Com informações da AFP