A COP 27, conferência do clima da ONU, iniciou nesta terça-feira (15) as negociações sobre sua declaração final, em que o financiamento para aliviar os efeitos do aquecimento global concentrará todas as atenções. O evento de Sharm el-Sheikh foi palco de avanços modestos na redução das emissões de gases do efeito estufa.
A União Europeia (UE) prometeu cortar suas emissões em 57%, em vez de 55%, até 2030, enquanto a Turquia ofereceu ambição maior (de 21% hoje para 41% até 2030), mas esses anúncios não foram poupados de críticas de ambientalistas. “Progredimos, mas certamente ainda há muito a ser feito”, alertou o presidente da conferência, o chanceler egípcio Sameh Shukri.
O presidente da COP 27 dividiu a elaboração da declaração final entre grupos de trabalho liderados por ministros, como é habitual nas conferências, para dar lugar às negociações políticas.
Contra combustíveis fósseis
A COP 27 encerra oficialmente seus trabalhos na sexta-feira (18) e o objetivo dos ambientalistas e dos países em desenvolvimento é conseguir que os países ricos assumam a criação de algum tipo de fundo ou mecanismo para assumir as perdas e os danos causados pelo aquecimento global.
Esse aquecimento não deve ultrapassar +1,5ºC, aconselham os especialistas em clima. A meta, que foi estabelecida na Declaração de Paris em 2015 (COP 21), deve ser mencionada no texto final, segundo o rascunho que por enquanto se limita a relacionar os desejos dos negociadores. Para apoiar essa conquista, há um bloco de países, entre eles Índia e Colômbia, que insistem no abandono progressivo dos combustíveis fósseis, de acordo com observadores.
Em meio à crise energética, com os países voltando a usar massivamente gás e petróleo, as emissões de CO2 de origem fóssil batem recordes históricos neste ano (+1% em relação a 2021), indicou um relatório divulgado durante a COP 27. Alguns ministros alertaram que o tempo urge. “Quantas vidas mais teremos de sacrificar?”, exclamou Orlando Habet, ministro do Desenvolvimento Sustentável de Belize.
Perdas e danos
Quanto às perdas e danos, um item que foi incluído na agenda da COP 27 após muitas disputas diplomáticas, um rascunho separado propõe basicamente escolher entre a criação de um fundo específico ou o uso de mecanismos financeiros existentes na ONU. O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, disse que no momento não vê “um acordo” surgindo sobre a criação de “uma nova estrutura financeira”.
Também está em pleno debate como atualizar, a partir de 2025, a cifra de US$ 100 bilhões por ano para o financiamento de medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas em países pobres. Esse valor, que deveria ter sido alcançado em 2020, não foi cumprido até o momento pelos países desenvolvidos.
“A promessa de US$ 100 bilhões [por ano] para a ação climática não pode mais ser ignorada, porque esse valor já é insuficiente diante dos desafios que temos”, acrescentou Fiame Naomi Mataafa, primeira-ministra de Samoa, país insular ameaçado pelo aumento do nível dos oceanos. Brasil, África do Sul, Índia e China (o grupo Basic) lembraram que esses US$ 100 bilhões por ano são apenas “uma pequena fração” do dinheiro necessário para a transformação do modelo energético imposto pelas mudanças climáticas.
Chegada de Lula
Nesse contexto, o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, desembarcou em Sharm el-Sheikh na manhã desta terça-feira (15). O líder de esquerda era a personalidade mais aguardada nesta semana por uma comunidade internacional ansiosa por ver uma reviravolta ambiental no país.
O desmatamento da Amazônia avançou fortemente sob o mandato de Jair Bolsonaro, que expira no fim do ano. Lula se reunirá nesta terça-feira a portas fechadas com John Kerry, enviado especial dos EUA para o clima, antes de desenvolver sua agenda pública na COP 27 na quarta e quinta-feiras (16 e 17) com pelo menos quatro eventos públicos. Espera-se que ele proclame o compromisso com o “desmatamento zero” na Amazônia.