“O cinema que conta, os mestres que inspiram": este é o tema do 20º Festival de Cinema Italiano no Brasil, evento que celebra a tradição cinematográfica italiana e promove intercâmbio cultural entre Brasil e Itália.
Em Juiz de Fora, o Museu de Arte Murilo Mendes recebe uma seleção de 14 filmes inéditos e clássicos que integram a curadoria do festival. A sessão retrospectiva deste ano destaca o trabalho de diretores que transformaram a linguagem cinematográfica e deixaram um legado para as novas gerações.
Entre os destaques, estão os vencedores do prêmio Nastri d’Argento em 2025: Diamante, de Ferzan Ozpetek (Filme do Ano), As provadoras de Hitler, de Silvio Soldini (Diretor de Elenco), e Hey Joe, de Claudio Giovannesi (Som).
As exibições vão até 12 de novembro, de terça-feira a domingo, com entrada gratuita e sessões legendadas.
Programação do 20º Festival de Cinema Italiano no Brasil,
Sexta-feira (7)
- 15h | Os rapazes da Via Panisperna (I ragazzi di Via Panisperna)
- Direção: Gianni Amelio. 1988. 110min. Drama/Biografia.
Baseado em fatos, o filme retrata a trajetória de um grupo de jovens físicos italianos de talento extraordinário, conhecidos como “Os Rapazes da Via Panisperna”, liderados por Enrico Fermi. Durante a década de 1930, em Roma, eles realizaram descobertas fundamentais para o desenvolvimento da física nuclear moderna. A narrativa acompanha suas pesquisas, dilemas éticos e conflitos pessoais, destacando a figura enigmática de Ettore Majorana, cujo misterioso desaparecimento em 1938 permanece até hoje sem explicação.
- 19h | As provadoras de Hitler (Le assaggiatrici)
- Direção: Silvio Soldini. 2025. 123min. Drama/Histórico.
Inspirado no romance homônimo de Rosella Postorino, o filme narra a história de um grupo de mulheres forçadas a provar a comida de Hitler para garantir que não estivesse envenenada. No centro, a jovem Rosa encontra-se dividida entre o medo, a sobrevivência e uma inesperada amizade entre as provadoras. Uma história sobre resistência, silêncio e solidariedade feminina em tempos sombrios. O filme obteve 3 indicações e ganhou um prêmio do Nastri d’Argento.
Sábado (8)
- 15h | Ladrões de bicicletas (Ladri di biciclette)
- Direção: Vittorio De Sica. 1948. 89min. Drama.
Considerado um dos maiores clássicos do neorrealismo italiano, o filme retrata a dura realidade da Itália no pós-guerra, explorando temas como pobreza, dignidade e sobrevivência. Acompanhamos Antonio, um pai desempregado que finalmente consegue um trabalho colando cartazes, mas depende de sua bicicleta para trabalhar. Quando sua bicicleta é roubada, ele e seu filho pequeno percorrem Roma em uma busca desesperada para recuperá-la. Com atores não profissionais e uma narrativa simples, porém profundamente comovente, Vittorio De Sica cria um retrato intenso da fragilidade humana e da luta por respeito e dignidade em meio às adversidades sociais. Sessão seguida de debate mediado por integrantes da equipe do Cineclube Movimento.
Domingo (9)
- 15h | Diamantes (Diamanti)
- Direção: Ferzan Özpetek. 2024. 135min. Comédia/Drama.
Situado em Roma nos anos 1970 e atualmente, o filme explora a jornada das irmãs Alberta e Gabriella Canova, donas de um renomado ateliê de figurinos cinematográficos, e das habilidosas mulheres que nele trabalham. A trama desenha uma rica tapeçaria de memórias, solidariedade, ambições e desafios, celebrando a força feminina e a arte do figurino no cinema. Özpetek reúne um elenco extraordinário de 18 atrizes italianas em papéis centrais. O filme foi premiado com o Nastro d’Argento na categoria de “Filme do Ano”, recebeu duas indicações e venceu um prêmio David di Donatello.
Terça-feira (11)
- 15h | Antes da revolução (Prima della rivoluzione)
- Direção: Bernardo Bertolucci. 1964. 115min. Drama/Romance.
Ambientado em Parma, o filme explora os dilemas ideológicos e existenciais de um jovem burguês entre sua ideologia marxista e o conforto burguês de sua família. Noivo de Clelia, mas confuso após a chegada de sua enigmática tia Gina, ele mergulha em um turbilhão de dúvidas políticas, afetivas e existenciais. Uma obra de juventude em transformação que já antecipa a estética sofisticada de Bertolucci.
- 19h | Verão na Sicília (Gioia mia)
- Direção: Margherita Spampinato. 2025. 90min. Drama.
Nico é um menino inquieto, irreverente e cheio de personalidade, criado em uma família laica, num mundo moderno e hiperconectado. Durante o verão, é enviado à Sicília para passar uma temporada com uma tia solteirona, extremamente religiosa e de temperamento difícil, que vive sozinha em um antigo casarão tomado por lendas e superstições, completamente à margem da tecnologia. Recebido com resistência, Nico é inserido à força em um universo místico dominado por anjos, espíritos e uma fé carregada de magia. O confronto entre o presente veloz e o passado silencioso marca o início de uma convivência turbulenta — mas, pouco a pouco, nasce entre os dois um vínculo profundo que mudará suas vidas. Selecionado para o Festival de Locarno 2025.
Quarta-feira (12)
- 15h | Henrique IV (Enrico IV)
- Direção: Marco Bellocchio. 1984. 85min. Drama.
Durante uma festa à fantasia ambientada na Idade Média, um homem vestido como o imperador Henrique IV sofre uma queda de cavalo e bate a cabeça, causando-lhe sérias lesões neurológicas. A partir desse acidente, passa a acreditar ser realmente o Rei Henrique IV, vivendo por anos imerso nessa ilusão. A história, adaptada da peça homônima de Luigi Pirandello, é uma intensa reflexão sobre loucura, identidade e a tênue fronteira entre realidade e ilusão, com uma atuação magistral de Marcello Mastroianni no papel principal.
- 19h | Eterno visionário (Eterno visionario)
- Direção: Michele Placido. 2024. 112min. Drama/Biográfico.
O filme retrata um momento crucial na vida de Luigi Pirandello, durante sua viagem de trem rumo a Estocolmo, onde receberá o Prêmio Nobel de Literatura. Entre memórias e visões, Pirandello revive os fantasmas de sua existência: a doença mental da esposa, os conflitos com os filhos, o relacionamento complexo com o fascismo e o escândalo causado por sua arte provocadora. Seu amor platônico por Marta Abba, musa e atriz, revela a fusão entre arte e vida, inspiração e sofrimento. A narrativa percorre Roma, a Estocolmo dos Nobel, a Berlim dos cabarés e a Sicília ancestral — compondo o retrato vibrante de um gênio implacável, um eterno visionário que transformou sua dor em arte.
*Escrita por Michel Santos sob supervisão de Roberta Oliveira
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