“E aí, BH, cês tão bom?” Esse é o bordão do influenciador Jorge Valença (
A Itatiaia conversou com Jorge Valença e sua fiel companheira de vida e degustações, a influenciadora e produtora Jaíni Oyakawa (
Valença contou que tudo começou quando ele trabalhava como operador de telemarketing no Centro de Belo Horizonte. Como tinha somente 20 minutos para comer e não ganhava tão bem, criou um roteiro de locais bons, baratos, rápidos e próximos. “Eu falava com o pessoal dos trabalhos onde eram os lugares”, afirmou.
Fundamental no processo, Jaíni foi quem incentivou Jorge a começar com os vídeos, ainda durante a Copa de 2022. Ela percebeu, em conversas casuais, que Valença exalava carisma e bom humor ao falar dos “rangos” do Centro de BH.
“Ele não quis de início, mas eu disse para ele gravar do jeito que falava comigo. Ele aceitou e é assim até hoje”, contou Jaíni.
Logo em seu primeiro vídeo, Jorge teve 30 mil views. O influencer se orgulha de até hoje ter um engajamento totalmente orgânico. Desde então, grava todos os dias ininterruptamente. Segundo ele, basicamente tudo que come se torna conteúdo.
Jorge Valença e Jaíni Oyakawa desbravam os bares e restaurantes de Belo Horizonte
‘Quero ajudar o trabalhador’
Jorge Valença afirmou que o principal objetivo do seu trabalho é “ajudar os trabalhadores que o seguem”.
“Ninguém ganha grana fácil trabalhando. A galera tem que preservar o dinheiro para poder dar rolê, levar as pessoas próximas alugares de fato bons, terem experiências boas. Além de ajudar os comerciantes que precisam ser ajudados, não gente que tem muito dinheiro, não preciso de ajudar quem é rico.
É muito difícil você achar em BH pessoas que indiquem onde você deve ir e onde não deve ir. Normalmente, indicam lugares que são bons. Eu penso que para você saber onde é bom, também tem que saber o que é ruim. É preciso ter parâmetro, saber os dois lados da história”, apontou.
Perguntado sobre o que um estabelecimento tem que ter para conquistar Jorge Valença, o influenciador destacou três pontos.
“A comida tem que ser boa, o preço tem que ser em conta, mas entendo o lugar que é caro, desde que a comida seja boa. É melhor do que pagar barato e a comida ser ruim, dá menos raiva. E não querer enganar a gente. Se a pessoa agir com honestidade, não montar aquela ‘mesona’ cheia de coisas na publicidade e quando for de verdade não ser isso. Tudo bem se passar o rodízio de mesa em mesa, mas não pode querer enganar a gente”, apontou ele.
O dilema das publis
Jorge Valença contou que precisa ter um cuidado redobrado com as publicidades, ou apenas publis. Segundo ele, a honestidade é o motor do seu conteúdo, portanto, uma propaganda que não reflita o que é entregue pode colocá-lo em maus lençois.
“Eu cobro que seja igualzinho o que vem para mim, para todo mundo. É uma das condições”, afirmou.
O influenciador contou que Jaíni Oyakawa faz toda uma pesquisa para entender se quem os procura para publicidades se encaixa no que eles querem.
“Ela sabe o que parece comigo ou não, o que eu posso fazer, se vai queimar meu filme. Tem estabelecimentos que entram em contato comigo e são muito sofisticados, por exemplo, e isso não dialoga com meu público. Também olhamos o que eu gosto de comer. Se eu não gosto de comer, não vou comer, nem em publi”, explicou.
Além disso, há um controle de qualidade rígido. Segundo Jaíni, eles nunca fizeram uma publi que se mostrasse negativa posteriormente. Porém, ressaltou que negam muitas propostas. Eles destacam que precisam pensar menos no dinheiro e mais na qualidade e no que o público vai se identificar.
“É a parte mais chata. Tenho que ver se não é nenhum perfil fake por causa dos ataques que ele sofre, o CNPJ. Se for um restaurante de verdade, vejo as avaliações e se forem negativas a gente não cola. Tem que ver a fundo mesmo”, apontou Jaíni.
Para Valença, as publis são um instrumento de continuidade do seu trabalho.
“A gente faz umas duas publis por semana só para arrecadar grana para fazer meus outros vídeos, que são o que eu gosto de fazer. Lá eu crio meu texto, sei qual piadinha vou fazer quando for bom ou ruim, isso que é o melhor. Por isso, quando é publi eu já aviso antes, para não ter erro. Se eu tivesse grana o suficiente eu não faria publi nenhuma, mas para trabalhar com internet é preciso”, completou Jorge.
Ele afirmou, ainda, que mesmo nas publis avisa ao contratante que caso, ele não goste de algo, irá falar. Mas ressaltou que isso não traz problemas, porque quem o procura já conhece sua forma de trabalho.
Jorge contou que não aceita fazer publicidade para lugares que ele já foi e não gostou. “Seria me pagar para mudar de opinião, então eu nem faço”.
Jorge Valença acumula mais de 170 mil seguidores no Instagram
Publicidade social
Jorge também tem uma prática social que é fazer publicidade gratuita para pequenos empreendedores do ramo da alimentação.
“Eu via que o pessoal queria fazer algum tipo de publicidade, mas não tinha a grana para pagar. E eu também não quero que todo mundo pague. Se eu vejo algo que tem potencial, eu quero ser quem vai mostrar isso. Ajuda a pessoa e me ajuda, pois preciso postar conteúdo todos os dias. Mas até aí a gente tem que fazer uma pesquisa, ver se é pequeno mesmo. A gente faz uma vez por semana”, contou ele.
“Uma coisa é a tia que ficou sem emprego e está fazendo um negócio dentro de casa, outra é a pessoa abrir um restaurante físico e colocar lá que é cozinha afetiva”, afirma Jaíni.
Segundo Valença, já houve caso de ganho de mais de 7 mil seguidores por uma mulher que vendia doces em ônibus após uma publi gratuita em seu perfil.
Polêmicas
O trabalho de Jorge Valença costuma render algumas polêmicas, que já chegaram a passar do limite aceitável para ele e Jaíni. Hostilidade e ameaças se fizeram presentes.
“Eu fui com ele em um rodízio, não comi, e ele não gostou. Quando a dona do estabelecimento mandou mensagens eu respondi, de forma educada, e ela passou a ser gordofóbica, falar da minha aparência, do meu cabelo, me perseguiu por um tempo. Então eu processei”, contou Jaíni.
Além disso, apontou que Jorge já foi ameaçado, que já mandaram entregadores no condomínio em que moram sem terem pedido nada. Mas, apesar dos transtornos, o casal tem respaldo jurídico. Seus advogados são, inclusive, seguidores de Valença que se ofereceram para defender o casal.
“O fato da gente ser bem assessorado juridicamente ajuda muito. Os nossos advogados ficam de olho em tudo que a gente posta”, apontou.
Porém, com o aumento da visibilidade e da compreensão alheia do objetivo do seu trabalho, tais problemas foram diminuindo.
“É algo que tem mudado com o tempo. O pessoal tem entendido mais fácil essa situação. E eu também diminuí um pouco o tom. Antes eu era um pouco mais agressivo. E você ter uma visibilidade grande cria um medo”, contou Jorge.
Ao fim da conversa e de um belo mexidão “amassado” pelo repórter, Jorge e Jaíni se despediram rumo a uma gravação em outro estabelecimento, pois Belo Horizonte precisa dos seus herois.