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Textor transfere SAF do Botafogo para empresa nas Ilhas Cayman

Com a crise financeira da Eagle Holding Football, o empresário norte-americano está em imbróglio judicial com o grupo financeiro

John Textor, proprietário da SAF do Botafogo, na celebração do título da Libertadores em 2024

Em meio ao imbróglio judicial envolvendo o controle do Botafogo, John Textor transferiu os ativos do clube carioca e a SAF para uma empresa criada recentemente nas Ilhas Cayman.

A operação inclui receitas com direitos de transmissão, patrocínios e matchday como garantia de um empréstimo da empresa ao Botafogo de até 100 milhões de euros.

A decisão foi aprovada em reunião do Conselho Administrativo da SAF, o qual Durcesio Mello, ex-presidente do Botafogo, Kevin Weston e Jordan Eliott Fiksenbaum participam, em 17 de julho.

A informação foi publicada pelo portal “ge”.

A medida foi seguida de ação judicial da Eagle Holding Football, que entrou com processo na Justiça do Rio de Janeiro para impedir que John Textor tome decisões na direção do clube carioca sem consultar a empresa. O juiz Marcelo Mondego de Carvalho Lima determinou citação e intimação dos réus, no prazo de cinco dias.

Ainda segundo os autos, a empresa diz ser necessária a atuação do Poder Judiciário para “preservar o status quo e impedir a consumação de atos geradores de prejuízo de dificílima reversão”. A ação mira limitar as ações de John Textor, que é acionista majoritário da Eagle, mas não comanda mais o grupo, enquanto chefia a SAF botafoguense.

Foram quatro pedidos feitos pela Eagle para a Justiça. Entre eles há a proibição de contratos ou negócios jurídicos por parte do Botafogo. As informações foram publicadas pela ESPN.

  • Suspensão dos efeitos da Assembleia Geral Extraordinária de Acionistas do Botafogo de 17 de julho de 2025 e da Reunião do Conselho de Administração do Botafogo de 17 de julho de 2025, bem como de todos os negócios jurídicos subsequentes supostamente baseados nessas deliberações;
  • Proibição de que sejam promovidos atos societários ou deliberações no Botafogo sem a devida representação da Eagle por meio de seu Diretor Independente devidamente constituído, Donald William Christopher Mallon;
  • Proibição de emissão e registro de novas ações do Botafogo;
  • Proibição de celebração de contratos ou negócios jurídicos entre o Botafogo e pessoas, jurídicas ou físicas, relacionadas a Textor.

A Eagle também afirma que Textor vinculou receitas do Botafogo a uma nova empresa, o que constitui um conflito de interesses. Além disso, Textor é acusado de “diluir a participação acionária da Eagle”.

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Situação no Lyon

O Grupo Eagle Football, propriedade de John Textor, divulgou um balanço financeiro com prejuízo de 90 milhões de euros (R$ 587,9 milhões) nessa segunda-feira (28). A empresa controla apenas o Lyon-FRA.

“O Grupo prevê um déficit muito significativo para o ano financeiro 2024/25. A administração e os times operacionais estão fazendo todo o possível para garantir que o clube performe no nível mais alto dentro e fora de campo, para recuperar a confiança e credibilidade da instituição”, afirmou, em comunicado oficial.

O jornal francês L’Equipe publicou uma reportagem afirmando que John Textor teria usado dinheiro do Lyon para contratar jogadores para o Botafogo. Os documentos do time francês, segundo a reportagem, apresentam gastos com Luiz Henrique, Igor Jesus e Jair Cunha, que nunca atuaram pelo clube francês.

Kang assumiu o Lyon e garantiu à Comissão Federal de Apelações que Textor seria afastado da gestão. Dias depois, o norte-americano renunciou ao cargo de presidente do clube.

‘Botafogo me escolheu’

No dia 25 de julho, Textor foi questionado se o Botafogo teria um problema de fluxo de caixa. O clube é o único da elite brasileira que ainda não divulgou o balanço de 2024. O empresário garantiu que o Alvinegro está gerando receitas suficientes para, inclusive, financiar perdas financeiras do Lyon, da França.

“Vou falar claramente para todos. Botafogo está gerando uma quantia significativa de dinheiro e está financiando várias operações de perda do Lyon. Várias matérias que você lê na França que dizem que o Lyon pagou pelos títulos do Botafogo são erradas. Ganhamos dinheiro com títulos, vendas de jogadores e porque somos bons no negócio”, disse John Textor.

“Botafogo financia a Europa, e não o contrário. Somos uma organização auditada por empresas do maior calibre, fizemos tudo isso para entrar no IPO, não há debate. Não há problema financeiro. Estamos financiando a Europa. Quero separar o Botafogo da parte europeia (Lyon), mas isso é a com diretoria da Eagle”, completou.

Botafogo se pronuncia

Em nota publicada na noite desta segunda-feira (4), o Botafogo confirmou o “fim do caixa único” (cash pooling) entre os clubes da Eagle e as dívidas do Lyon com o clube carioca.

“A SAF Botafogo esclarece que sempre valorizou a colaboração dentro do ecossistema da Eagle Football e mantém o desejo de que essa parceria siga existindo, em benefício de todos os clubes que compõem o grupo.

Infelizmente, medidas adotadas por órgãos reguladores na França comprometeram o funcionamento dessa integração, resultando na interrupção dos acordos de cash pooling que vinham sendo benéficos para todas as partes. Diante deste cenário, tornou-se necessário formalizar, por vias legais, que o atual desequilíbrio financeiro entre as entidades aponta para a necessidade de reembolso à SAF Botafogo por valores anteriormente emprestados.

Além disso, algumas medidas corporativas foram adotadas, com o devido alinhamento junto ao nosso parceiro acionista, o Botafogo de Futebol e Regatas (BFR), visando permitir a entrada de novos aportes de capital no Clube, caso os reembolsos por parte da Eagle ou do Olympique Lyonnais (OL) não sejam viabilizados de imediato. Tais ações não tiveram caráter provocativo e a SAF Botafogo reconhece integralmente o direito de seu acionista majoritário de ter prioridade em qualquer oportunidade de investimento no Clube, antes que se considere a participação de investidores externos. Ressaltamos, porém, que tais investimentos não seriam necessários caso o OL consiga honrar com os reembolsos devidos.

Para fins de esclarecimento, destacamos que as ações societárias tomadas até o momento consistem apenas em autorizações legais e que não há, no presente momento, qualquer plano que vise à diluição da participação acionária do nosso sócio majoritário. Inclusive, tais medidas seriam necessárias para possibilitar que o próprio acionista majoritário realize novos investimentos.

Por fim, a SAF Botafogo reforça que qualquer eventual negociação envolvendo a venda de participação majoritária na sociedade, seja ela conduzida por John Textor ou por terceiros, deverá necessariamente passar por um processo de diálogo e negociação amigável com o atual sócio majoritário. Embora medidas judiciais e societárias possam ser interpretadas de maneira equivocada por parte da imprensa, é fundamental que nossos torcedores tenham plena ciência de que a SAF Botafogo segue tendo a Eagle Football como sua acionista controladora, e que esta, por sua vez, é majoritariamente controlada por John Textor. Reiteramos nosso compromisso para que todas as discussões envolvendo o futuro da SAF ocorram de forma transparente, responsável e respeitosa.”

Jornalista e correspondente da Itatiaia no Rio de Janeiro. Apaixonado por esportes, pela arquibancada e contra torcida única.
Leonardo Parrela é repórter multimídia na área de esportes na Itatiaia. É formado em Jornalismo pela PUC Minas. Antes da Itatiaia, colaborou com Globo Esporte, UOL Esporte e Hoje Em Dia, onde cobriu Copa do Mundo, Olimpíada e grandes eventos.