Em feito inédito para o cenário competitivo de League of Legends (LoL) no Brasil e no mundo, o streamer Gustavo “Baiano” Gomes e seu coletivo, Ilha das Lendas, consolidaram-se como a maior co-stream de LoL do planeta em 2024. Em entrevista exclusiva à Itatiaia, Baiano falou sobre os números do projeto e expectativas para o futuro.
Segundo dados do portal Stream Charts, as transmissões de Baiano e do Ilha das Lendas registraram mais de 31 milhões de horas assistidas em ligas como CBLOL, LCS, LPL e LCK. Tal número representa 9% do total de visualizações durante as transmissões oficiais dos torneios Tier 1 da Riot Games.
O sucesso estrondoso do projeto pode ser atribuído a uma fórmula que vai além da simples transmissão das partidas. "É uma dosagem muito específica que eu venho fazendo desde o começo, entre comédia, análise técnica, comunicação, contato direto com a comunidade (...) E até hoje eu venho sempre fazendo ajustes finos, tanto no meu conteúdo, tanto na minha comunicação, para estar sempre o mais alinhado possível com a comunidade”, explica Baiano.
Os resultados dessa estratégia são evidentes: Baiano e sua equipe têm batido recordes de audiência, atraindo um público cada vez maior para o League of Legends. “A gente vem sempre crescendo, sempre batendo recorde”, comemora o streamer.
Além de aumentar a audiência do jogo, Baiano também tem sido fundamental para fortalecer o ecossistema do LoL no Brasil, colaborando com a Riot Games e outros streamers para promover o crescimento do cenário competitivo.
Dominância no Brasil e repercussão internacional
No Brasil, o impacto do Ilha das Lendas foi ainda mais significativo. O coletivo foi responsável por mais da metade da audiência total do CBLOL em 2024, e suas transmissões das finais dos dois splits quebraram recordes de audiência, com picos de mais de 130 mil espectadores simultâneos na Twitch.
Além de sua influência no CBLOL, Baiano também desempenha um papel significativo no CBLOL Academy, a liga de desenvolvimento que forma novos talentos para o cenário competitivo de LoL no Brasil. Além da transmissão, o streamer criou o IDL Esports, time que disputa atualmente o Tier 2 brasileiro.
“A ideia do time era ser top 4 e levar mais interesse para a liga, levar mais visualizações. E batemos completamente a nossa meta competitiva (...) O principal de tudo que aconteceu foi que dos 10 jogos do Academy mais assistidos, 9 foram do Ilha das Lendas. O único que não foi, foi a final”, explica.
Um novo patamar para o co-streaming
Uma das grandes viradas na carreira de Baiano foi a batalha para introduzir a co-stream no cenário competitivo brasileiro de LoL, uma prática que já era popular em outros jogos, como Counter-Strike (CS), através de figuras como Gaules.
Apesar das resistências iniciais da Riot Games em permitir a retransmissão oficial de suas partidas, Baiano nunca desistiu da ideia. “Eu era a única pessoa no Brasil que acreditava na co-stream dentro do LoL, e eu via o potencial disso desde o começo”, disse.
Tal persistência, aliada à pressão da comunidade, levou à liberação da co-stream em 2023, solidificando ainda mais sua importância dentro do ecossistema de e-sports nacional.
Além da pressão geral, o streamer afirmou que um dos pontos principais para a mudança de pensamento da Riot foram os números alcançados nas lives sem imagens, antes da criação do Ilha das Lendas. “Em alguns momentos, que bizarramente não tem como se explicar, o Baianalista (projeto anterior) tinha mais views sem imagens do que a Riot com a imagem. Então, como você explica uma aberração dessa? É algo totalmente fora da realidade”, explicou Baiano.
A relação entre Baiano e a Riot Games, que inicialmente foi marcada por resistência, evoluiu para uma parceria estratégica. O streamer destacou que hoje existe um alinhamento entre sua equipe e a Riot para garantir que as mudanças no jogo sejam comunicadas de forma clara e eficaz para a comunidade, sem abrir mão da essência crítica e autêntica que sempre marcou seu trabalho.
“Hoje, a gente está mais alinhado. A Riot finalmente entendeu que é benéfico para todos ter mais gente dentro da comunidade, e ninguém consegue fazer isso como o ‘Ilha das Lendas’”, afirmou Baiano.
Recorde em co-stream fora do Brasil
Baiano também se consolidou como a maior co-streamer da LCS, a liga norte-americana de League of Legends. Baiano aplicou na LCS a mesma fórmula de sucesso usada no Brasil, transformando a forma como os fãs brasileiros se conectam com a liga estrangeira e trazendo um novo fôlego para uma competição que, segundo ele, estava em declínio.
“A LCS é um desastre completo em questão de criar interesse. Tem jogadores que já foram campeões mundiais, mas eles não conseguem criar uma história que prenda o público. Então, basicamente, a fórmula que eu peguei é o que a gente vinha fazendo para o Brasil e comecei a aplicar lá", explica o streamer.
Essa abordagem focada em narrativas fez com que o público brasileiro, tradicionalmente mais engajado e emocional, passasse a acompanhar a LCS de forma inédita. Durante as transmissões de Baiano, os espectadores foram apresentados a jogadores da liga norte-americana com um toque especial.
“No CBOLÃO (campeonato criado pelo streamer) do ano passado, trouxemos jogadores da LCS para cá. Isso criou um vínculo com o público, que passou a torcer ou contra ou a favor desses jogadores, mas o importante era criar esse interesse”, destacou.
Em muitos momentos, Baiano e o Ilha das Lendas chegaram a representar cerca de 50% da audiência total da LCS, número impressionante considerando que a liga não pertence ao público brasileiro. "É uma loucura total. A gente, aqui do Brasil, conseguir ter tanta gente assistindo uma liga que não é nossa, mas conseguimos gerar interesse a ponto de salvar, em parte, a liga”, disse Baiano.
A LCS tem enfrentado dificuldades nos últimos anos, com uma queda de interesse e uma estrutura ameaçada. Baiano acredita que, sem o apoio de sua co-stream, o cenário poderia ser ainda pior.
“Se não fosse o Ilha das Lendas, esses viewers que a gente traz do Brasil, seria muito pior. As ligas teriam sido totalmente desmembradas, a LCS poderia continuar existindo, mas talvez de uma forma muito reduzida”, disse.
Projeção para o futuro
Para o próximo ano, Baiano vê grandes oportunidades, especialmente com a nova Liga das Américas, e está confiante de que conseguirá ajustar o conteúdo para engajar ainda mais os fãs, misturando entretenimento, análise, competição e storytelling.
“Estou muito confiante em ‘redosar’ um pouco, fazer toda a mixagem do que eu acho que vai ser mais importante em questão de conteúdo para o ano que vem, para manter o interesse da galera e até fazê-lo crescer”, afirma.
Apesar da confiança, Baiano admite que o início da nova fase pode apresentar alguns desafios, especialmente devido à forma como a Riot anunciou as mudanças.
Alguns fãs ficaram receosos sobre o futuro do CBLOL, mas Baiano está seguro de que, uma vez que o Ilha das Lendas comece a moldar as narrativas e criar histórias envolventes, o público voltará a se engajar.
“O único receio que eu tenho seria no comecinho, nas primeiras semanas, até a gente conseguir emplacar o efeito Ilha das Lendas. Mas com toda a expertise que a gente já tem, não tem como dar errado”, concluiu.