A secretária-geral da Fifa, a senegalesa Fatma Samoura, 60 anos, anunciou nesta quarta-feira (14) que deixará o cargo ao fim de 2023. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo, mas não só isso: foi a primeira pessoa não europeia a ter um dos cargos mais importantes do esporte mundial.
“Pretendia compartilhar essa notícia primeiro com os membros do Conselho da Fifa, na próxima semana, mas estou ciente de que houve especulações sobre minha situação nos últimos meses. Por enquanto, estou totalmente focada na preparação e entrega da próxima Copa do Mundo feminina, na Austrália e Nova Zelândia [de 20 de julho a 20 de agosto de 2023]. A partir do próximo ano, gostaria de passar mais tempo com minha família. Sou apaixonada por futebol desde os oito anos de idade e me sinto honrada por ter feito essa jornada”, escreveu Samoura, em comunicado divulgado pela Fifa.
Samoura assumiu em junho de 2016, logo depois de Gianni Infantino ser eleito presidente da Fifa em meio ao maior escândalo de corrupção do futebol, o chamado Fifagate.
Dezenas de dirigentes esportivos, principalmente das Américas, foram presos acusados de receber propina para vender a agências os direitos comerciais de campeonatos que organizavam. José Maria Marin, ex-presidente da CBF, estava entre os envolvidos.
O então presidente da Fifa, Joseph Blatter, foi obrigado a renunciar, e Infantino assumiu com o discurso de renovação. Colocar Samoura, uma diplomata da África, que trabalhou por anos, em diversos cargos, na ONU (Organização das Nações Unidas), como secretária-geral foi considerado um movimento estratégico de Infantino para aqueles que duvidavam que a Fifa pudesse renovar seus quadros.
Nos sete anos na função, Samoura atuou mais como uma embaixadora, representando a Fifa mundo afora, perfil um pouco diferente dos secretários-gerais anteriores, que participavam ativamente de negociações políticas para as escolhas das sedes das Copas do Mundo, por exemplo. Para questões mais burocráticas a Fifa criou as funções para dois secretários-gerais adjuntos, que a auxiliavam no dia a dia.
Samoura foi importante no passo dado pela Fifa de profissionalizar de uma vez o futebol feminino, que daqui pouco mais de um mês terá sua Copa do Mundo, na Oceania, com o maior número de participantes da história, 32, e provavelmente também a maior receita.
Internamente, Samoura era bem vista por todos os membros do Conselho da Fifa, 32 ao total, incluindo os presidentes das confederações continentais. Mas sua saída, apurou a Itatiaia, não foi vista com surpresa por alguns membros: há conhecimento de que Infantino quer como sucessor da senegalesa alguém que divida com ele as negociações políticas com clubes, federações e confederações em um momento em que a Copa do Mundo masculina passará a ter 48 participantes e um Mundial de Clubes novo, para 32 participantes, deverá ser organizado a partir de 2025.
O próximo secretário-geral, portanto, deve se parecer um pouco mais com os antecessores de Samoura, como, por exemplo, Joseph Blatter, que antes de ser presidente ocupou esse cargo como braço-direito do brasileiro João Havelange, que comandou a Fifa de 1974 a 1998.
“Foi um privilégio e uma honra trabalhar com uma pioneira no esporte”, disse o presidente da Fifa, Gianni Infantino. “Desde que nos conhecemos, eu sabia que ela seria excelente para a Fifa. Sua paixão e entusiasmo para impulsionar a mudança foram inspiradores. Fatma foi a primeira mulher, e a primeira africana, a ser nomeada para um cargo tão importante na Fifa. Respeitamos a decisão de Fatma e gostaria de agradecê-la por tamanha dedicação e comprometimento com o futebol. A Fatma continuará a contribuir para o desenvolvimento do jogo e dos seus valores sociais juntamente conosco.”, finalizou Infantino.