Na primeira semana do BBB 24, vários participantes já deram indícios de esgotamento psicológico.
O BBB é um reality de posicionamento estratégico, personalidade, que acaba expondo ao máximo os participantes, suas vulnerabilidades para milhões de pessoas. De que forma essa exposição pode afetar a saúde mental dos participantes?
Quando a gente pensa num programa de reality que o objetivo principal é exatamente provocar esse tipo de comportamento e de interação que acaba sendo o que o público gosta, de ver aquilo que se apresenta como anormal, confuso, contraditório e sofrido, é como se as pessoas se identificassem com a dor, o problema do outro. Quando isso é exposto por um cenário de milhões de pessoas onde não se tem controle de quem está vendo, a intensidade, a potencialidade desse sofrimento, ela triplica e então a constante vigilância as críticas públicas pressão psicológica isso leva com toda certeza ao estresse, ansiedade e doenças mentais mais graves, como a depressão.
Quem está lá dentro já conhece o histórico de como é estar no Big Brother e isso torna a pressão ainda maior. Então o fato de entrar dentro de um programa desse você tem que ter consciência que a sua saúde mental já vai ser afetada, o nível do quanto será afetado que a gente precisa ver no decorrer do processo.
Alguns Camarotes, os participantes mais conhecidos e que já têm algumas partes da vida exposta, estão sentindo o peso do confinamento, da exposição 24 horas por dia. Para essas pessoas públicas, quais são os desafios dentro da casa?
Eu acho que é diferente quando a gente pensa em alguém que é anônimo e entra no programa para alguém que já é conhecido. Uma vez que você não tem uma narrativa feita, você se apresenta com o que tem ali, começa a construir a sua narrativa de acordo com a sua personalidade, seus comportamentos, valores e moral. Quando a pessoa já é conhecida, intensifica ainda mais o desafio que já existe de manter aquela imagem. Quando está na rede social, você tem um controle de talvez escolher o que falar, como falar, dá tempo de apagar, você pode contornar. Ali 24 horas de exposição constante, isso não tem como voltar atrás.
Então a pessoa que já tem uma imagem pública para ela fica ainda mais complicado porque intensifica a competição no sentido da popularidade, de se manter nesse lugar, de não ter um cancelamento, de ser vista, melhorar a sua imagem. Tanto que a gente percebe que tem algumas pessoas já conhecidas, influencers que já têm uma uma narrativa bem construída, mas que tem um medo muito grande de entrar [no reality]. Assim como a gente já viu em outras edições, pessoas que tinham um um carinho e eram queridas pelo público, mas que perderam muito disso dentro do Big Brother por não sustentarem quem são.
O público espera muito daquela pessoa que já é conhecida e quando isso é contrariado, a cobrança é ainda maior. É quase que as pessoas esperam que aquela pessoa se apresente de uma forma ainda mais impactante. Lidar com expectativa do público, da família, a própria expectativa, a pessoa já entra como cobrança muito grande, ela sai dali com com uma cobrança ainda maior e como é que não gera um impacto emocional e psíquico você pensar em ter que ficar o tempo todo em torno de uma personalidade, de um comportamento que você não pode escorregar, não pode falhar. É contraditório com a realidade porque nós, enquanto humanos falhos, isso deveria ser colocado de uma forma mais clara. Tentar trazer um pouco de normalidade para isso que está sendo construído de uma forma muito ilusória e que não existe.
Como a pessoa deve se preparar psicologicamente para assumir essa responsabilidade de entrar em um reality como este?
A pessoa precisa estar muito bem, ela tem que se conhecer e não é algo bonitinho igual a gente vê na internet, muito bem informado. Se conhecer em todas as esferas, a gente vai ver Viktor Frankl quando ele traz a dimensão do homem, no conceito existencial, o homem nas suas dimensões biopsico emocional e relacional, a pessoa tem que conhecer seu corpo, ela tem que entender se ali ela tem algum quadro, por exemplo, de compulsão alimentar - que é algo que a gente já está vendo nessa edição -, se tem alguma alteração de sono, se tem alguma doença somática que manifesta nesse corpo. É tudo que vem além do biológico, como que o meu corpo fala e pensa numa dimensão psíquica, se tem algum adoecimento mental, alguma doença pré-existente, um quadro de bipolaridade, Toc, um quadro depressivo.
Eu preciso me conhecer nesse ponto para dar conta de lidar com uma situação como essa. Isso é autoconhecimento. Pensar na dimensão relacional, como é que ele é, relação com as pessoas, relacionamento familiar, afetivo, com os amigos, como que eu me coloco diante do outro num conceito espiritual, se eu tenho uma crença, eu acredito em Deus, um sagrado na natureza. Eu digo muito que esse autoconhecimento é fundado nesses quatro pilares o tempo todo e quando uma esfera está desregulada, todas as outras são afetadas. Então é necessário se preparar do ponto de vista psicológico em todas as dimensões para dar conta de sustentar o peso do impacto que um reality como este causa.
Dentro do programa, qual o tipo de comportamento mais problemático que a gente pode observar de uma pessoa desgastada emocionalmente e psicologicamente e quais os riscos essa pessoa se coloca dentro de um confinamento?
Eu acho complicado tentar nomear um comportamento problemático que a pessoa pode ter dentro dessa casa por estar desgastada emocionalmente diante da variedade dos estímulos que estão expostas. Acho que a gente pode pensar em vários comportamentos, como irritabilidade ou rentabilidade excessiva, isolamento, oscilações consideráveis de humor, dificuldade de lidar com situações de estresse, cobrança, dificuldade de lidar com algum cenário onde ela foi chamada atenção, onde ela não conseguiu um resultado, a constante sensação de estar sendo exposta e a falta de privacidade, isso tudo intensifica demais os comportamentos problemáticos, se a pessoa já entra com uma alteração.
Oscilação como instabilidade emocional dentro desse contexto isso só tende a piorar só a intensificar e às vezes a pessoa pode ter um comportamento que não é nem dela, que não é nem algo natural dela, mas ela tá tão exposta a esse sofrimento tá tão exposta a tais variáveis que ela realmente se apresenta de uma forma que não é dela sagrava muito então é fundamental que a produção esteja muito atenta é de saber lidar avaliar e aí profissionais da área de saber até que ponto que a pessoa tá usando disso para ter um ganho secundário até que ponto que são uma estratégia de marketing de posicionamento de visibilidade ou até que ponto com esse discurso está confuso que é é a fala não não faz sentido que não a coerência no comportamento é em outras edições, a gente já viu ali né situações de de de violência de abuso é contra.
Mulheres e um time aí se perdeu porque é muito grave, está sendo exposto. Então acho que estar atento a qualquer comportamento que foge de algo que é normal - e normal é diferente de natural -, nós temos alterações, mas quando isso fica patológico. Tem algo aí tá errado.
Participe do canal da Itatiaia no Whatsapp e receba as principais notícias do dia direto no seu celular.