Aguinaldo Silva reflete sobre época na prisão: ‘Foi uma experiência terrível’

Autor e dramaturgo foi preso, ainda jovem, durante o período da ditadura militar

Aguinaldo Silva voltou à TV Globo

O autor e dramaturgo Aguinaldo Silva, de 82 anos, relembrou um período dramático de sua juventude, antes de se consolidar como um dos principais nomes da teledramaturgia brasileira. Em participação no programa “Altas Horas”, da TV Globo, exibido neste sábado (15), ele compartilhou detalhes sobre os 70 dias em que esteve detido durante o regime militar, em 1969.

Silva relatou que a prisão ocorreu logo após ele iniciar sua carreira no jornalismo. “Eu fui preso [na época da repressão]. Na verdade, eu era jornalista em 1969, tinha começado a trabalhar no jornal O Globo, e no quinto dia de trabalho, eu saí da redação, de madrugada, e não voltei mais. Simplesmente sumi,” iniciou.

Ele descreveu o período no qual ficou 40 dias desaparecido sem que o jornal ou seus familiares soubessem seu paradeiro. “As pessoas [do jornal] tentavam descobrir o que tinha acontecido comigo, onde eu estava, mas não conseguiam. Em qualquer porta que eles batiam, diziam: ‘não existe essa pessoa aqui’,” contou o autor.

O escritor classificou a experiência como “terrível”, destacando a sensação de anulação pessoal. “Foi uma experiência terrível, até mesmo porque nunca me disseram por que eu fui preso. Você experimenta uma sensação de que você deixou de existir. Quando você fica preso, quando você está em uma cadeia, deixa de existir. Você depende de um Estado, da boa vontade das pessoas, da bondade de estranhos,” desabafou.

O autor reconheceu que o episódio serviu como material para sua escrita. “Eu não posso dizer que foi bom para mim porque não é bom para ninguém você ser preso injustamente e sem que te digam qual o motivo. Mas, do ponto de vista do escritor que eu já era e me tornei, isso foi enriquecedor, sem dúvida alguma,” garantiu.

O dramaturgo revelou ainda que utilizou suas memórias da prisão na criação da telenovela “Senhora do Destino” (2005). Segundo ele, a sequência da prisão da protagonista, Maria do Carmo, interpretada na primeira fase por Carolina Dieckmann, é uma reprodução fiel do que vivenciou.

“Na primeira fase em que a Maria do Carmo é a Carolina Dieckmmann é mais ou menos o que eu passei, porque ela é presa e vai parar em um quartel. Toda a sequência da prisão dela é exatamente a reprodução, palavra por palavra, do que aconteceu comigo naquela noite em que fui preso e enfrentei um militar que me insultou e me humilhou,” concluiu Silva.

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Giovanna Damião é jornalista da televisão, digital e do rádio. Desde 2020 como social media e redatora na televisão e, mais recentemente, atuando como apresentadora e repórter da editoria de cultura. Com versatilidade no jornalismo, caminha pela música, eventos, esportes e entretenimento.

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