Em uma cena sensível sobre a solidão do prisioneiro, John Divine G Whitfield (Colman Domingo) agarra as grades da cela e observa paisagem. Por uma abertura maior, coloca a mão para fora e balança os dedos - é o mais perto da liberdade que consegue experimentar.
Cenas singelas como esta se alternam em “Sing Sing”, filme do diretor Greg Kwedar que concorre a três Oscars neste domingo (2). A produção americana disputa os prêmios de Melhor Ator (Domingo), Melhor Roteiro Original e Melhor Música Original (“Like a Bird”). O cinema perde se terminar a noite sem nenhum prêmio. Mesmo fora da disputa de Melhor Filme, é um dos melhores do ano.
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Acontecimentos reais inspiram a história: “Sing Sing” é o nome de um presídio que de fato existe em Nova York. Lá, os presos fazem aulas de teatro para ocupar o tempo livre. Parte do elenco é formada por ex-presidiários que integram o programa RTA (Rehabilitation Through Arts, ou Reabilitação pela Arte, em tradução livre) destinado à reabilitação dos detentos. Por isto, a autenticidade das cenas dá o tom - homens brutalizados e hostis expressando sentimentos e trabalhando a disciplina do palco enquanto têm contato com autores como Shakespeare.
Há ainda o conflito por depender de um sistema de justiça desenhado para reforçar a exclusão de pretos e latinos - mas o único disponível para tentar provar sua inocência.
Colman Domingo, em uma das melhores atuações do ano, ainda ajuda a revisar sentenças e recursos dos prisioneiros.
Ao contrário das masmorras brasileiras, que presenteiam facções com novos membros, “Sing Sing” mostra celas limpas, até cheias de livros, sem descuidar do rigor necessário para um presídio de segurança máxima. As cenas finais, retiradas de filmagens amadoras do programa de aulas de teatro na vida real, transmite um sopro de esperança difícil de ser alcançado na ficção.