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Beyoncé, Viola Davis e outras celebridades escolhem Salvador como destino; entenda motivo

Capital da Bahia recebeu grandes nomes do entretenimento e do movimento negro dos EUA em 2023

Beyoncé e Viola Davis estiveram recentemente em terras soteropolitanas

O fim de 2023 foi marcado por visitas de gigantes do entretenimento internacional ao Brasil, principalmente pela visita relâmpago de Beyoncé ao país. Para além do eixo Rio-São Paulo, uma cidade de destaque neste ano foi Salvador, ponto escolhido por ‘Queen B’ para a festa “ Club Renaissance” e por outros grandes artistas.

Além dela, Angela Bassett e Viola Davis também estiveram recentemente em terras soteropolitanas. Em comum, elas são fortemente engajadas na luta contra o racismo.

Angela Bassett e Viola Davis estiveram presentes na cidade soteropolitana no início de novembro para o festival internacional Liberatum. O evento contou também com a presença da roqueira Debbie Harry, além de gigantes da cultura e política brasileiras como Margareth Menezes, Taís Araújo, Seu Jorge, Erika Hilton e Alcione.

Bassett, que interpreta a rainha Ramonda de “Pantera Negra”, da Marvel, chegou a ser coroada na sede do bloco afro Ilê Aiyê, também em Salvador. A atriz foi à sede do bloco, localizada na Senzala do Barro Preto, acompanhada pelas atrizes Taís Araujo e Luana Xavier, além da cantora Majur e do influenciador Hugo Gloss.

Viola Davis, vencedora do Oscar, também teve uma passagem movimentada pela Bahia. A atriz conheceu restaurantes típicos e, além do festival, aproveitou a passagem para divulgar a criação de uma produtora, intitulada Axé. O projeto foi lançado em parceria com o marido, o ator e produtor Julius Tennon, e tem o objetivo de promover uma conexão entre os astros e o Brasil.

Lázaro Ramos, Taís Araújo com Viola Davis e marido Julius Tennon

Já Beyoncé passou pela capital baiana como um meteoro - de forma rápida, mas impactante. A artista promoveu uma edição da festa “Club Renaissance” no Centro de Convenções de Salvador e fez questão de não só enviar representantes, mas de estar em solo brasileiro. “Eu vim porque amo muito vocês. É muito importante para mim estar aqui, aqui mesmo, na Bahia!”, destacou de cima do palco.

O movimento não é de agora. Outro artista que também passou, de forma bem marcante, pela capital da Bahia foi Michael Jackson (1958-2009). A cidade foi cenário do icônico clipe da música “They Don’t Care About Us”, gravado em 1996, no qual o Rei do Pop aparece no Pelourinho, cantando ao lado do Olodum.

Por que Salvador?

Pablo Moreno Fernandes, professor e pesquisador em Comunicação Social, afirma que vários motivos explicam a atenção internacional que a cidade recebe. “Salvador é uma cidade tão importante quando pensamos nas dimensões da negritude, da cultura negra, afrodiaspórica. É uma cidade que concentra uma população negra muito significativa e que conservou muito, com muita resistência, as características da cultura negra”.

Conforme aponta o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dados divulgados nesta sexta-feira (22), Salvador é a capital com maior proporção de pessoas pretas do Brasil. Entre os anos de 2010 e 2022, o grupo foi o único a crescer, passando de 743.718 para 825.509 pessoas.

“Essas celebridades estão muito ligadas à valorização e aos processos de empoderamento da comunidade negra mundo a fora”, destaca Fernandes. “São quatro artistas estadunidenses, de um país que também pertenceaà essa diáspora africana. Há uma conexão nessa perda de uma referencialidade original por conta do processo de escravidão”, analisa.

Beyoncé, Viola, Angela e Michael são definidos pelo comunicador como “referências culturais de excelência”, que encontram uma conexão com o país. “Buscarem justamente uma cidade no Brasil, com esse volume populacional de pessoas negras tão grande, além dos traços culturais fortes, é uma forma de se conectarem, de construir pontes e conexões”, reforça.

Beyoncé lançou álbum mais recente em 2022

A atenção de estrelas internacionais à cidade brasileira é considerada pelo pesquisador como um ‘puxão de orelha’. “Atravessa muito uma perspectiva de investimento e prospecção de negócios, principalmente do empreendedorismo negro. Vemos a criação de uma estratégia global negra, com artistas milionários e bilionários, investindo em produção cultural”, aponta.

"[Cria-se] uma perspectiva de crítica ao mercado nacional, sobre como a enconomia nacional ainda individualiza e valoriza pouco esses talentos negros em sua produção, em seu empreendedorismo, em seus negócios. O Novembro Negro de Salvador passou por muitas dificuldades. Não é uma questão exclusiva de lá, mas a questão do financiamento mostra outro lugar onde o racismo opera”, ressalta.

O pesquisador ainda destaca que, com a vinda de Beyoncé, alguns artistas da cena local puderam ter um “gostinho” do investimento merecido pela arte brasileira. “Temos muitos talentos aqui. O Brasil, com toda profusão e potencialidade criativa, dá conta de produzir coisas muito boas. Mas é necessário investimento”, completa.

Maria Clara Lacerda é jornalista formada pela PUC Minas e apaixonada por contar histórias. Na Rádio de Minas desde 2021, é repórter de entretenimento, com foco em cultura pop e gastronomia.