Rita Lee era uma figura extrovertida e gregária, o que não impedia que sua personalidade forte por vezes provocasse afastamentos irreconciliáveis. Personagem da MPB desde seu surgimento, tanto que foi cantada em verso por Caetano Veloso, ela rapidamente se tornou um emblema da liberdade e da irreverência. Esse ícone da música brasileira teve encontros marcantes com outros nomes de peso, como Cazuza, Ney Matogrosso, Raul Seixas e Tom Zé, com quem compôs a faixa “2001”, apresentada pelos Mutantes em 1968, no IV Festival da Música Popular Brasileira. A música foi regravada pela artista no novo milênio, e também recebeu uma versão de Gilberto Gil, em 1969.
“Bandido Corazón” (pop-rock, 1976) – Rita Lee
Rita Lee compôs um bolero especialmente para o segundo disco-solo de Ney Matogrosso, e que inspirou o batismo de “Bandido”. Ali, a música ganhou conotações caribenhas, e o arranjo transformou o bolero em uma autêntica peça pop ao gosto de Ney Matogrosso e de Rita Lee. Ney asfaltava o caminho para desmentir a crítica feroz de José Ramos Tinhorão, implicado com influências estrangeiras, e que dizia que, em “Mãe Preta (Barco Negro)”, do primeiro disco, Ney, “chorava como uma rameira”. “Bandido Corazón” foi um sucesso imediato, com versos líricos que eram a cara de Ney Matogrosso: “Eu já sou um cara meio estranho/ Alguém me disse isso uma vez/ Meu coração é de cigano/ Mas o que salva é a minha insensatez”.
“Bruxa Amarela” (rock, 1976) – Raul Seixas e Paulo Coelho
Feita especialmente para Rita Lee, essa parceria de Raul Seixas e Paulo Coelho foi gravada pela então vocalista da banda Tutti Frutti no disco lançado pela banda em 1976. Com a habitual verve fantasiosa e mística, os autores abrem as portas para esse mundo fantástico, em versos do calibre: “Duas horas da manhã eu abro a minha janela/E vejo a bruxa cruzando a grande lua amarela/E vou dormir quase em paz”. Em 1988, em seu penúltimo disco de carreira, Seixas registrou uma nova versão da música, modificando o título para “Check-up” e alterando versos pontuais.
“Perto do Fogo” (balada, 1989) – Cazuza e Rita Lee
Atitude e poesia. Não tinha como Cazuza não se identificar com Rita Lee, já que ambos, cada a um a seu modo e em épocas distintas, trataram de desbravar as barreiras impostas pela música brasileira e o mundo a fim de dar o seu grito de liberdade. A parceria entre a dupla, no entanto, demorou a sair, e não por conta da diferença de gerações. Cazuza idolatrava Rita há muito tempo, mas ela não se dava com Ezequiel Neves, produtor, parceiro e amigo inseparável de Cazuza. No leito de um hospital para tratar a Aids que o vitimaria aos 32 anos, o cantor pediu uma trégua na briga entre Ezequiel e Rita. Logo que a cantora o visitou, eles compuseram “Perto do Fogo”, que começa como uma ode aos cabelos de Rita, para depois se transformar em um hino identificado com os valores hippie.