O mais baiano dos Novos Baianos, Moraes Moreira foi do trio elétrico ao baião, passando pelo chorinho, e logo se tornou o principal compositor do grupo que ecoou sucessos no Brasil todo, como “Preta Pretinha”, “Besta É Tu”, “Mistério do Planeta” e “Acabou Chorare”, entre muitos outros.
Aliás, o disco “Acabou Chorare”, de 1972, se tornou um clássico absoluto, apontado como um dos maiores da música brasileira de todos os tempos, com sua mistura de ritmos e influências que iam de João Gilberto a Jimi Hendrix, além de letras que ecoavam o clima hippie que a trupe compartilhava.
Na época, Moraes Moreira, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Galvão e Paulinho Boca de Cantor viviam em comunidade no Sítio do Vovô, em Jacarepaguá, interior do Rio de Janeiro, e dividiam tudo: da comida aos cuidados com os bebês, passando, claro, pela composição de clássicos da música brasileira.
Em 1975, depois de quatro álbuns lançados com os Novos Baianos, Moraes partiu em carreira-solo e, mais uma vez, não decepcionou. A primeira investida foi como vocalista do trio elétrico Dodô e Osmar, embrião do Carnaval baiano puxado por nomes como Ivete Sangalo, Chiclete com Banana e Asa de Águia.
Interessado em ritmos de grande força instrumental como o frevo e o choro, Moraes também compôs canções que se tornaram sucesso com outros intérpretes, caso de “Bloco do Prazer”, parceria com Fausto Nilo que ganhou a voz eletrizante de Gal Costa em 1979. Um sucesso no Brasil inteiro!
Já na década de 80, Moraes invadiu as rádios com uma canção de pegada romântica, que trazia uma bela introdução em ritmo de chorinho, provando toda a diversidade de seu repertório e o talento incomum do músico para equilibrar as influências que ele acumulou ao longo de mais de cinco décadas de carreira. “Sintonia” se tornou um clássico instantâneo.
Antes de partir para um rolê celestial que deixou seus fãs morrendo de saudades, Moraes Moreira realizou o sonho de milhões de brasileiros, participando da bem-sucedida turnê que reuniu os Novos Baianos após décadas de distanciamento, lotando casas de shows em Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Recife, e etc., o que resultou em um álbum ao vivo, lançado em 2017.
Em 2020, Moraes Moreira morreu aos 72 anos, após sofrer um infarto enquanto dormia. Mas, nos 75 anos de seu nascimento, ainda podemos sonhar e nos divertir com as belas canções que ele deixou.
“Mistério do Planeta” (MPB, 1972) – Moraes Moreira e Galvão
Embora tenha demorado mais do que o esperado pelos fãs – afinal de contas, a última reunião do grupo aconteceu no longínquo ano de 1999, antes do retorno triunfal em 2016, – o tempo não esgarçou as criações dos Novos Baianos, ao contrário, provou que o viço e o frescor da juventude que clamava pelo amor livre, ungido na atmosfera hippie que comungava casa, comida e canção, permanecem com o vapor ligado a plenos pulmões, como comprova “Mistério do Planeta”, parceria de Moraes Moreira e Galvão, lançada em 1972...
“Acabou Chorare” (MPB, 1972) – Moraes Moreira e Galvão
A participação de João Gilberto no disco “Acabou Chorare” é mais decisiva do que os incautos pensam. Lançado em 1972 pelo grupo Os Novos Baianos, a faixa-título do disco não existiria se o mago da Bossa Nova não tivesse ido até o sítio em que o grupo vivia acompanhado por sua esposa à época, a cantora Miúcha, e a filha ainda criança, a também cantora Bebel Gilberto, hoje reconhecida internacionalmente. Foi para Bebel que o poeta e letrista Galvão escreveu os versos que dão nome à música, inspirado pela dificuldade da menina de 5 anos em se articular, uma vez que seus pais misturavam português e castelhano, resultado de terem morado no México.
“Preta Pretinha” (MPB, 1972) – Moraes Moreira e Galvão
O disco “Acabou Chorare”, de 1972, serviu de mote para um livro que conta histórias musicais por meio de colagens, grafites, poemas, crônicas, análises, pintura e arte digital. Idealizado pela pesquisadora baiana Ana de Oliveira, “Acabou Chorare” celebra a estreia da editora Iyá Omin, com a reunião de textos e trabalhos plásticos. Para cada canção do disco, o livro apresenta um texto e uma arte plástica. Nos casos da faixa-título e de “Preta Pretinha”, executada duas vezes no álbum, essa condição é dobrada. “No disco, a música ‘Preta Pretinha’ volta como uma espécie de bônus, embora não se usasse essa nomenclatura na época”, explica Ana. A música de Moraes e Galvão virou hit.
“Pombo-Correio” (frevo, 1977) – Moraes Moreira, Dodô e Osmar
Em 1975, apaixonado pela composição instrumental “Double Morse”, de Dodô e Osmar, e que existia desde a década de 1950, Moraes Moreira compôs para ela uma letra que se relacionava com o romantismo de antigas composições carnavalescas, como “Colombina” e “Jardineira”, na qual pedia a um pombo- correio que entregasse uma carta a seu amor.
Assim nascia o frevo “Pombo-Correio”, primeiro sucesso em nível nacional do Trio Elétrico Dodô e Osmar, que batizou o seu quarto LP, lançado em 1977. Saltitante, elétrica, a música é característica dos trios que animam o Carnaval de Salvador, e que se tornariam uma influência na música do próprio Moraes Moreira, que, além de produzir discos, foi o primeiro cantor de trio elétrico do país, antes apenas instrumentais.
“Bloco do Prazer” (frevo, 1979) – Moraes Moreira e Fausto Nilo
O compositor Fausto Nilo conheceu os integrantes do chamado Pessoal do Ceará ainda na década de 1970, e, desde então, passou a ser gravado por cantores como Fagner e Belchior, e, mais tarde, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Geraldo Azevedo, entre outros. No ano de 1979, o Trio Elétrico Dodô e Osmar, banda criada pelos inventores do trio elétrico na Bahia, lançou no Carnaval a música “Bloco do Prazer”, parceria de Nilo com o novo baiano Moraes Moreira.
O frevo, em ritmo acelerado, é uma conclamação desenfreada à alegria, à festa e à liberdade. Gravada por Nara Leão em 1981, tornou-se sucesso nacional na voz de Gal Costa, um ano depois. Era apenas o início do desfile daquele cearense de Quixeramobim, nosso poeta Fausto Nilo.
“Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira” (samba, 1979) – Moraes Moreira e Pepeu Gomes
Foi uma frase de João Gilberto que inspirou o título do esfuziante samba “Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira”, de Moraes Moreira e Pepeu Gomes. A dupla dos Novos Baianos recebeu certo dia a visita do Papa da Bossa Nova no sítio aonde eles viviam em comunidade com os demais integrantes do grupo.
A música invoca o Carnaval, seja em sua riqueza rítmica, com um instrumental de primeira que comanda a gravação, seja na própria letra, repleta de nuances como a ladeira citada no título.
“Na sua escola é a passista primeira/ Lá vem o Brasil descendo a ladeira”, saúdam os autores. A música foi gravada por Moraes Moreira, que afirmava ser um sambista baiano, com tendência para a alegria. Em 1979, ganhou versão definitiva na voz poderosa de Baby do Brasil.
“Eu Também Quero Beijar” (axé, 1981) – Pepeu Gomes, Moraes Moreira e Fausto Nilo
Com o fim dos Novos Baianos, Pepeu Gomes partiu para a carreira-solo, mas reencontrou antigos companheiros, como Moraes Moreira e o compositor Fausto Nilo, que o auxiliaram a compor o primeiro grande sucesso dessa nova fase. “Eu Também Quero Beijar” lança mão de todos os elementos dançantes e rítmicos do axé para criar uma canção que gruda facilmente na cabeça e incita as pessoas a dançarem.
Aliado a isso, a famosa guitarra baiana de Pepeu, inconfundível, dita o ritmo da canção, que fez muito barulho ao ganhar a boca do povo em 1981. Para completar, marcava um novo momento do Carnaval brasileiro, mais ligado ao movimento baiano do axé, que se espalhou pelo Brasil como um turbilhão. E “Eu Também Quero Beijar” embalou muitos foliões.
“Festa do Interior” (frevo, 1982) – Abel Silva e Moraes Moreira
Após hiato de algumas décadas, as festas juninas voltaram a ser tema de uma canção popular de sucesso no Brasil em 1982. Composta por Moraes Moreira e Abel Silva em ritmo de frevo, “Festa do Interior” foi lançada por Gal Costa. Com arranjo de Lincoln Olivetti integra “Fantasia”, um dos álbuns mais exitosos da carreira da cantora. Os versos exaltam costumes juninos em meio a declarações de amor: “Babados, xotes e xaxados/segura as pontas, meu coração”.
“Chame Gente” (frevo, 1985) – Moraes Moreira e Armandinho Macedo
Em 1985, Moraes Moreira e Armadinho compõe o que se tornaria um dos hinos da Bahia. “Chame Gente” é também o título que dá nome ao disco, lançado pela RCA Victor, e faz uma verdadeira apologia à alegria característica da musicalidade e do espírito do povo baiano. O frevo foi regravado em 2005 por Moraes Moreira e Caetano Veloso, no álbum “Pure Brazil 2: Rio, Bahia, Carnival”, lançado pela Universal.
“Sintonia” (balada, 1986) – Moraes Moreira, Fred Góes e Zeca Barreto
Moraes Moreira nasceu em Ituaçu, interior da Bahia, no dia 8 de julho de 1947, e morreu no dia 13 de abril de 2020, aos 72 anos, após sofrer um infarto enquanto dormia. Ainda na década de 1970 ele fundou, ao lado de Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor e Galvão, o grupo Os Novos Baianos, que criou verdadeiros clássicos da música brasileira, como “Preta Pretinha”, “Acabou Chorare”, “Besta É Tu”, “Mistério do Planeta”, e muitos outros. Já em carreira-solo lançou, em 1986, “Sintonia”, outro grande sucesso...