O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à presidência da República, concedeu nesta terça-feira (27) uma entrevista exclusiva à Itatiaia. Esta é a segunda entrevista da série especial da Itatiaia com os candidatos à Presidência da República.
Confira na íntegra:
O senhor esteve recentemente na sexta-feira da semana passada em Minas Gerais, na área de votação do candidato do senhor no Senado, o senador Alexandre Silveira, e o principal adversário do senhor adotou a mesma estratégia. Na sexta-feira passada ele esteve na cidade do candidato dele ao Senado. Como é que está este campo, esta área específica de prioridade na campanha do senhor?
Olha Edilene, eu tenho uma relação muito forte com o Vale do Aço porque fui lá muitas vezes quando era dirigente sindical. Fui lá muitas vezes quando o PT governou a cidade várias vezes com o Chico Ferramenta, com a mulher do Chico Ferramenta, com Leonardo… Ou seja, o PT teve bastante prefeitos no Vale do Aço e em várias cidades. A gente governou Timóteo, Coronel Fabriciano, João Monlevade. E eu fui lá para apoiar o companheiro Alexandre Silveira. Ele é de lá e eu preciso não apenas contribuir para eleger Kalil governador, como eu preciso contribuir para eleger o Alexandre. Porque o Alexandre eleito senador será um parceiro meu nas mudanças que nós precisamos fazer para melhorar a vida do povo de Minas e a vida do povo brasileiro. Por isso que eu fui ao Vale do Aço e foi um grande comício, um grande ato e se Deus quiser a gente vai ler o Kalil governador e o Alexandre Silveira senador.
Caso haja uma vitória do adversário do Kail, o Zema, no primeiro turno em Minas Gerais e a eleição presidencial vá para o segundo turno, o senhor pensa num palanque em Minas? Já que é possível que o Zema faça um palanque para Bolsonaro.
Olha, independentemente do resultado eleitoral, eu vou voltar a Minas Gerais se tiver segundo turno lá. Se eu ganhar as eleições no primeiro turno eu vou voltar a Minas, e se eu não ganhar no primeiro turno, eu vou voltar para Minas Gerais. Vou votar independentemente do que vai acontecer na eleição para o governo do estado. Se tiver segundo turno, eu tenho certeza que o Kalil ganhará as eleições. Se Zema ganhar no primeiro turno ainda assim eu vou votar em Minas Gerais. Porque eu não preciso conversar com o governador, eu tenho que conversar com o povo de Minas.
Durante essa campanha eu tentei visitar o Vale do Mucuri, tentei visitar o Vale do Jequitinhonha, tentei visitar o Vale do Rio Doce, tentei visitar o norte de Minas. Eu fui a Montes Claros uma vez, mas eu queria ir mais aí nessas regiões mais empobrecidas de Minas Gerais, porque eu tenho uma bela relação com Minas Gerais. Possivelmente não tenha ninguém no Brasil, e até mais do que alguns governadores de Minas Gerais, eu visitei todas as regiões de Minas Gerais muitas vezes, desde 1980. E mais ainda, Edilene, nós temos um legado muito forte em Minas Gerais. Seja o legado de cuidar do emprego, seja o cuidado de combater a fome, seja o cuidado do Luz para Todos, seja cuidado da reparação nas estradas que nós temos que fazer em Minas Gerais. Ou seja ainda a relação com o estado. O Aécio era meu adversário, mas eu mantinha uma relação civilizada com o Aécio porque é isso o papel do presidente da república. O que é importante é que eu gosto do povo mineiro, gosto da comida do povo mineiro e gosto do jeito de mineiro de fazer política e gosto da cultura mineira.
O senhor falou das estradas em Minas Gerais, a br-381 pode ser concedida para duplicação em breve, a 262 também. O metrô de Belo Horizonte pode ser leiloado no final do ano. Críticos do senhor afirmam que durante os anos anteriores essas obras não foram feitas e o BNDES fez investimentos em outros países vizinhos. No eventual governo do senhor, se o senhor ganhar a eleição como é que fica a 381. a 262, o metrô de Belo Horizonte?
Edilene, você só não pode misturar os empréstimos do BNDES a um outro país com as obras do metrô. Porque o empréstimo que você faz é empréstimo que algum governo toma e paga. E o Brasil exporta engenharia e exporta peça. As pessoas compram caminhões, compra trator, compra tudo no Brasil. É uma vantagem para nós fazermos isso. Eu poderia estar errado se você fosse de Minas Gerais e tivesse impedido 1 bilhão emprestado e outro país tivesse pedindo 1 bilhão emprestado e eu pegasse um milhão e emprestava para outro país. Mas o dinheiro é de empréstimo, se ninguém no Brasil quer porque não pode pagar e alguém lá fora quer emprestado, a gente empresta e exporta serviço. Eu, na verdade, assumi o compromisso em Ipatinga de que eu vou terminar 381 de Belo Horizonte até Governador Valadares. A Dilma fez licitação, ganhou uma empresa espanhola, a empresa espanhola quebrou, depois entrou o Temer, entrou o Bolsonaro, e não fizeram. Então, eu assumi um compromisso com o povo de Ipatinga, olhando no olho das crianças, das mulheres, dos homens: se eu ganhar as eleições, eu vou acabar com a história de Minas Gerais de uma estrada da morte. A estrada vai se chamar a “estrada do conforto” e a “estrada da vida”.
E o senhor levaria adiante a privatização do metrô que deve ser leiloado no ano?
Isso é um problema do estado, não é um problema do governo federal. Veja, eu acho um erro porque o transporte e a garantia do direito de ir e vir, muitas vezes, tem que ser assegurada pelo estado e pelo poder público. Se o estado não tem competência, ele pode fazer uma concessão por determinado tempo. Mas, na hora que o estado simplesmente privatiza e ele não coloca num acordo a responsabilidade daquele que comprou a empresa, ele pode estar frustrando a sociedade com a qualidade do transporte. O direito de ir e vir é sagrado. As pessoas levantam de manhã para trabalhar, voltam à tarde para casa. As pessoas precisam ter transporte de qualidade e o metrô pode oferecer isso, inclusive com preços acessíveis porque o cara não pode gastar 10% do salário mínimo pagando o transporte.
O PT, mudando um pouquinho de assunto, tem passado por um desgaste nos últimos anos com o tema relacionado à corrupção. O senhor tem dito e repetido que foi inocentado nos processos judiciais e os adversários do senhor ficam reforçando sempre que o que houve foi a extinção dos processos. O senhor vê alguma responsabilidade do senhor nos ocorridos anteriores? A população pode confiar se, em um eventual próximo mandato do senhor, se o senhor virar presidente da república de novo, episódios de corrupção não ocorrerão?
Deixa eu dizer pra você uma coisa, Edilene. Pela primeira vez na história do Brasil, um cidadão é culpado por ser inocente. É a primeira vez que isso acontece e isso vai passar para a história do Brasil.
Veja, a sociedade brasileira e, sobretudo a imprensa brasileira, ela foi induzida à maior mentira do século, contada por um juiz mentiroso e contada por uma quadrilha, que foi montada dentro do Ministério Público, encabeçada por um promotor chamado Dallagnol.
Eu disse que era mentira e eu provei não apenas que eu era inocente, como eu provei a verdade, que era a culpabilidade dele. Então, eu tô muito tranquilo para dizer para você e repetir uma coisa muito sagrada: as pessoas que passaram cinco anos acreditando no Moro e acreditando no Ministério Público, hoje não tem coragem de reconhecer que foram enganados.
Então, de vez em quando, eu vejo o cara falar “ah, o Lula tá livre, mas ele não foi absolvido. O processo foi suspenso”. Olha, se o processo foi suspenso, então não tem processo. Se não tem processo, então não tem acusação. Se não tem acusação, então eu sou inocente. Qual é a lógica diferente?
Eu fui absolvido em 26 processos na justiça federal, eu fui inocentado na justiça federal, fui inocentado duas vezes na Suprema corte e fui inocentado duas vezes pela ONU. Ou seja, a não ser que eu vá para o céu para pedir inocência agora. E lá eu já tô inocentado, porque Deus sabe a verdade.
Então, veja, eu tenho uma tese que é a seguinte: tudo que foi feito para combater a corrupção nesse país nós fizemos. Nós não queremos sigilo secreto de 100 anos pra nada. Nós não colocamos tapete na sala do presidente da República. Tudo que foi denunciado foi apurado e agora tudo que é anunciado é decretado sigilo por 100 anos. Não existe essa hipótese.
Ou seja, ninguém criou o mecanismo de apuração de corrupção como nós. Ninguém! A CGU, AGU, o CAD, nós criamos instrumentos poderosos de fiscalização e vamos continuar criando. Só há um jeito de alguém não ser investigado, que é não cometer erros. Porque se cometeu, é investigado.
Quando eu ganhar eleições e eu tomar posse, eu vou fazer um decreto anulando todos os decretos sigilosos do Bolsonaro, para saber o que que tem embaixo do tapete. Porque, até agora, o que Queiroz não prestou depoimento; até agora a questão da rachadinha dos seus filhos não apareceu em nenhum depoimento; até agora ele não explicou como é que ele pode ter comprado 51 Imóveis pagando 26 milhões à vista. Ele não explica, fica dizendo pra imprensa que sabe que não fez, mas é preciso explicar para a sociedade.
Então, esse é um tema que me deixa muito tranquilo porque eu aprendi com uma mulher analfabeta que me pariu e me criou. Quem não deve não tem. E a gente não pode perder o direito de andar de cabeça erguida, e eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida, e ninguém vai fazer eu baixar a cabeça desse país.
Eu quero voltar a ser presidente da República para fazer com que esse povo volte a comer três vezes ao dia, volte a estudar, volte a trabalhar, vote viajar, volte até água, volte a ter prazer de viver, prazer de ser Mineiro, prazer de ser Paulista, sabe? É isto que eu quero, fazer as coisas que o povo quer. O povo quer coisas simples, o povo quer morar, quer trabalhar, quer que os filhos estudem, o povo quer tomar café de manhã, almoçar e jantar, o povo quer comprar roupa para as crianças. E é isso que a gente quer, a gente quer ter direito a comprar um carrinho, comprar um computador, comprar um celular. Ah, mas a gente nem tem o direito de ter as coisas que são elementares, errado é a gente não ter. Isso está garantido na Bíblia, está garantido na Declaração Universal dos Direitos Humanos e está garantido na Constituição.
Então, eu vou atrás disso e vou fazer esse povo voltar a sorrir. E, como eu digo, todo dia ele vai poder voltar a comer um churrasquinho, uma picanha assada, uma alcatra, uma costela e ainda, se puder, tomando uma cervejinha gelada. Se não gostar de beber, pode tomar água ou qualquer refrigerante. E, se não gostar de carne, vai ter uma agricultura familiar plantando verduras e alimentos saudáveis para o povo comer. É esse Brasil, Edilene, que me coloca de volta. Eu acredito que nós vamos ganhar esse jogo e resolver o problema do povo brasileiros.
O senhor hoje recebeu o apoio de ex-atletas e também de ex-tucanos. O senhor acredita que possa ganhar a eleição ainda no primeiro turno?
Olha, Edilene, toda a eleição que eu disputei eu disputei para ganhar no primeiro turno. Toda, toda, toda, sabe? Em 2002, eu queria ganhar no primeiro turno. Em 2006, em 2010 com a Dilma, em 2014. Também em 2018 com o Haddad. Não foi possível, mas eu trabalho com a ideia de ganhar no primeiro turno. Trabalho, faço as coisas bem feitas, faço reuniões bem feitas, sabe? Agora, se não der, vai ter segundo turno. Eu já ganhei do Serra, eu já ganhei do Alckmin, a Dilma já ganhou do Serra, já ganhou do Alckmin. Ou seja, não tem problema o segundo turno para nós.
A diferença é que, agora, a gente tem um genocida governando esse país. Um cara que não gosta de democracia, um cara que ataca as pessoas, um cara que manda matar. Um cara que não derramou uma lágrima por mais de 680 mil vítimas do Covid, o cara que não chorou por uma pessoa idosa, por uma mulher, por uma criança. Um cara que não se preocupou com as crianças que estão órfão, o cara que não se preocupou com o atraso que as crianças brasileiras tiveram na escola por conta do Covid. Eu não culpo ele pelo Covid, eu culpo pela irresponsabilidade de não saber tratar. Ele poderia ter ouvido a Organização da Saúde, ele poderia ter ouvido o’Instituto Butantan, sabe? Ele poderia ter ouvido os cientistas, os secretários… Mas não, ele resolveu brincar. Ele resolveu brincar com a morte de pessoas que estavam morrendo por falta de ar, resolveu brincar com as pessoas que estava entubada. Ou seja, é por isso que eu acho que ele tem responsabilidade por mais da metade das pessoas que morreram nesse país. Se ele tivesse feito as coisas certas, essas pessoas não teriam morrido.
O senhor acredita que nos dois cenários o senhor venceria? Tanto no primeiro, quanto se a eleição for para o segundo turno?
Eu acho que não tem jeito, o povo quer se livrar do Bolsonaro. O Brasil precisa se livrar do Bolsonaro. O Brasil precisa de alguém que goste do povo. Eu digo sempre o seguinte: eu não quero ganhar para governar, eu quero ganhar para cuidar do povo. Cuidar das pessoas que mais precisam, cuidar das pessoas que querem ver os seus filhos felizes, que querem ver os seus filhos saírem na rua e brincar sem uma bala perdida matá-los. Eu quero que as pessoas arrumem empregos para que as pessoas possam cuidar da sua família com suor do seu trabalho.
É tudo isso que eu quero, Edilene, e por isso nós vamos voltar. Eu quero te dizer uma coisa: eu sou contra o voto útil. Eu já fui vítima do voto útil. Agora, é o seguinte, eu quero o voto necessário. Gente, se a gente puder fazer as coisas… Agora vamos fazer, não vamos deixar para depois o que a gente pode fazer hoje. É por isso que eu quero ganhar eleição no primeiro turno.
Como é que o senhor encara, como é que o senhor recebeu essa movimentação, o manifesto do Ciro contra o voto útil?
Olha, eu disse ontem que o Ciro plantou o vento e está colhendo tempestade. Eu acho que o Ciro se perdeu no caminho, ele não sabe o que quer. Ele não sabe se ataca o Bolsonaro, não sabe se ataca o Lula. De vez em quando ataca os dois, de vez em quando ta no debate e cochica no ouvido do Bolsonaro.
Ou seja, o Ciro ficou uma figura um pouco, eu diria, estranha nessa campanha. Mas de qualquer forma é um direito dele continuar, e o direito dele ser presidente da República se ganhar as eleições. Ele só tem que aprender uma coisa: para ser presidente tem que convencer o povo, coisa que ele não tá conseguindo.
O senhor ainda conta com o apoio dele no eventual segundo turno? Se o senhor vencer as eleições? Ou o contrário, se ele vencer as eleições, numa hipótese mais remota, o senhor estaria com ele?
Não sei, Edilene. Não sei se o Ciro vai tomar uma decisão favorável a nós no segundo turno. Com o Haddad, ele foi embora para Paris. Agora eu não sei. Mas, de qualquer forma, eu tenho certeza que pelas pesquisas de opinião pública mais de 50% dos eleitores do Ciro votarão em nós no segundo turno.
O senhor falou na pergunta anterior, na resposta anterior, sobre a agricultura. Caso o senhor vença as eleições, como é que vai ser a relação do senhor com o agronegócio?
A mesma que foi quando eu era presidente. Edilene, o agronegócio sabe que não tem na história do agronegócio um presidente que cuidou mais do agronegócio do que o presidente Lula e a presidenta Dilma. Nós fizemos uma Medida Provisória chamada 452, uma Medida Provisória que resolveu o problema da securitização da dívida dele de quase 75 bilhões de reais. Se a gente não tivesse feito isso, eles tinham quebrado. No nosso tempo, o agronegócio comprava trator financiado para pagar 2% de juro ao ano, agora eles estão pagando 14 ou 18%.
Ele [o agronegócio] sabe que o governo brasileiro do PT e da Dilma cuidaram deles. Ele sabe que o Lula e a Dilma fizeram os investimentos necessários. Eles podem não gostar de nós por outras coisas, podem não gostar de nós por causa do sem terra. Mesmo assim, eu tenho desafiado eles: me mostre as terras produtivas que os sem terra invadiu. Porque quem mede se a terra é produtiva ou não, não é os sem terra, é o Incra. E todas as ocupações que os sem terra fez a terra foi considerada improdutiva e quem paga é o governo.
Então, eu acho que eles se queixam erradamente, equivocadamente. É uma visão confusa e eles precisam saber que o Brasil comporta o pequeno e médio produtor rural e o grande produtor rural. O Brasil precisa de gente que produza em grande escala e precisa de gente que cria galinha caipira que a gente come, o porquinho que a gente come, que planta o alface, que planta o pepino, que planta o alho que a gente come. Nós precisamos dos dois. Um planta para vender, outro planta pra gente comer. Então, nós precisamos dos dois e precisamos que os dois vivam em harmonia. E é isso que eu vou fazer.
O presidente Jair Bolsonaro disse na entrevista à Itatiaia na sexta-feira passada que se for eleito vai acabar com o MST. Como é que o senhor vê essa afirmação?
Ele não vai ter essa chance porque nós vamos acabar com o mandato dele dia 2 de outubro. Ele vai voltar a morar com os milicianos dele.
Um outro assunto que, nos últimos anos, tem ficado muito em pauta é a chamada politização do STF. O senhor enxerga essa politização? Ou o senhor não lê assim? Qual que é a avaliação que o senhor faz? O senhor que recebeu o apoio do ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa.
Eu não leio assim. Veja, quem punitiva a suprema corte é o congresso. Cada vez que eu entro com recurso que poderia ter resolvido dentro do congresso, na política, na suprema corte, eu tô dando a primazia da Suprema Corte participar da política. É errado, então, o comportamento dos políticos de politizar. Como é errado você querer judicializar política. Como é errado o Presidente da República não governar, sequer, o orçamento da União. Ou seja, a constituição define que o governo governa, o poder legislativo legisla, e a Suprema Corte julga.
Olha, o que é que tá acontecendo é exatamente o contrário, sabe? O presidente não governa, não controla o orçamento, o poder legislativo tenta governar e ao mesmo tempo tenta judicializar a política e, muitas vezes, o poder da Suprema Corte entra em debate político desnecessário. Eu acho que nós precisamos voltar a normalidade, e a normalidade é cada um cumprir com a sua função para esse país viver com tranquilidade. Esse país precisa de paz, de harmonia, de solidariedade, de convivência democrática na diversidade. Essa é a razão pela qual eu me coloco como candidato.
O senhor aponta ou apontou recentemente, muitas vezes, um excesso do Judiciário em relação ao Senhor, principalmente com a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro. O adversário do senhor aponta um excesso do STF contra ele na questão das fake news. O senhor acha que, originalmente, o judiciário algumas vezes se excede? Esse é o caso do STF ou não é o caso?
Eu não quero misturar o comportamento do STF com a questão da Lava Jato. A Lava Jato fazia parte de um conluio entre um juiz, um grupo de tarefa do Ministério Público, eu diria que o departamento de justiça dos Estados Unidos, algumas empresas multinacionais, que tentaram destruir aquilo que nós fizemos. Quando nós descobrimos o pré-sal, nós transformamos o pré-sal em um passaporte do futuro do povo brasileiro. 75% dos royalties da Petrobras ia ser para investir em educação, saúde, ciência e tecnologia. A lei da partilha dava prioridade à Petrobras na prospecção do petróleo, as pessoas naquela época diziam que o petróleo estava muito fundo, há sete mil metros de profundidade, que a gente não ia conseguir tirar. Hoje, o barril do petróleo é retirado de 7.000 metros de profundidade no mesmo preço do petróleo da Arábia Saudita.
Então, não tem sentido a gasolina ter o preço que tem, o querosene ter o preço que tem, o diesel ter preço que tem e o gás de cozinha ter o preço que tem. Eu fui presidente por 8 anos, Edilene, e o gás de cozinha não aumentou. Então, é preciso que a gente assuma a responsabilidade de fazer esse país voltar a crescer, esse país ser um país que garanta sua soberania cuidando do nosso povo.
Então, eu te confesso uma coisa: nós vamos cuidar desse país com muito carinho, nós vamos fazer com que esse país dê ao povo brasileiro aquilo que ele tem direito. Nós precisamos aumentar todo ano o salário mínimo, nós precisamos garantir qualidade de educação, nós precisamos garantir creche para que as mães tenham liberdade de trabalhar fora de casa, nós precisamos fazer com que todas as categorias tenham aumento de salário. Esse país, nós já construímos, Edilene. Este país de 2003 a 2010 foi construído por mim, e depois de 2010 a 2016 pela Dilma.
Você lembra de ler que quando eu cheguei na presidência em 2003 a inflação era 12%, ela caiu para 4,5%. Você lembra que a dívida pública era 60.5% do PIB, ela caiu para 37%. Você se lembra que o desempenho era 12% e nós geramos 22 milhões de empregos. Você se lembra que a gente tinha uma dívida de 30 bilhões com FMI, nós pagamos a dívida e fizemos uma reserva de 370 bilhões de dólares. Nós tínhamos 100 bilhões de fluxo de balança comercial, exportação e importação, e nós passamos para quase 500 bilhões. Esse país virou importante, esse país era a décima segunda economia do mundo, e conquistou a sexta posição. Virou a sexta economia do mundo. Então, esse país tem um potencial extraordinário. É por isso que tem que ter um presidente que cuide do povo, que mantenha relações com o mundo inteiro, que gostam dos Estados Unidos, que gosta da Europa, que gosta da Argentina.
Esse presidente que nós temos, ele fica falando mal de todo mundo. Ele não se dá com ninguém, ninguém quer receber e ninguém quer vir aqui. Eu vou tomar posse e vou restabelecer a política internacional altiva e ativa. Nós gostamos de todos e queremos que todos gostem de nós. Esse é o Brasil que a gente vai construir.
O senhor falou do governo da ex-presidente Dilma, que acabou sendo alvo de um impeachment. Quando o senhor olha pelo retrovisor, em algum momento o senhor se arrepende de ter encampado a candidatura dela ou não? O senhor está completamente tranquilo com isso?
Edilene, eu tenho orgulho de ter indicado a primeira mulher presidente da República desse país. A Dilma é uma mulher de muita qualidade.
Ela participa agora? Na sua candidatura?
Não, a Dilma não quer isso. A Dilma quer viver a vida dela. A Dilma tá escrevendo, ta lendo. Ela sofreu muito. Ela foi vítima de uma canalhice de uma parte da elite política desse país. Aqueles que inventaram a ponte para o futuro e criaram uma Bíblia e não colocaram a ponte. O povo tá caindo nesse abismo.
Então, eu acho que a Dilma tá muito tranquila. Mas eu trabalhei com a Dilma, eu levei a Dilma para Casa Civil, e eu posso dizer, Edilene, que poucos homens na vida, tiveram uma mulher da competência da Dilma trabalhando. A Dilma não perguntava porque, para que. Tudo aquilo que eu pedia ela entregava e entregava com muita clareza. A gente abriu uma reunião do ministério e ela dizia “se alguém mentir para o presidente eu vou contar”. Era como se fosse uma mãe tomando conta do seu rebanho, ela foi extraordinária. Depois foi vítima de uma crise econômica mundial, em que se descuidou um pouco com a questão da desoneração. Quando ela tentou mudar, ela mandou uma Medida Provisória para o Congresso Nacional e foi recusada. O Congresso Nacional elegeu o Eduardo Cunha para destruir ela. Porque tudo que ela mandava para o congresso vinha piorado. Ela mandava a palavra A, vinha a palavra B. Ela mandava B, e vinha a letra W. Ou seja, ela efetivamente teve no Eduardo Cunha um dos construtores da derrubada dela.
Qual que vai ser a prioridade do senhor no próximo mandato caso o senhor seja eleito? Qual a principal linha do plano de governo do senhor?
Edilene, tem uma coisa que é o seguinte: a fome não pode esperar. A fome é feia. E nós queremos que as pessoas comam. O meu compromisso é que toda e qualquer criança, toda e qualquer mulher, todo e qualquer homem tenha o direito elementar de tomar café da manhã, almoçar e jantar. Esse é o direito elementar. O segundo direito é essas pessoas terem direito a estudar em escola de qualidade, da creche à universidade. O terceiro direito é o direito dessa gente trabalhar, porque é o trabalho que paga o salário e é o trabalho e o salário que dá dignidade ao ser humano.
Eu fiquei 27 anos dentro de fábrica, Edilene, não tem nada mais orgulhoso e mais sagrado do que a gente trabalhar o mês inteiro, chegar no final do mês receber o nosso salário e poder comprar o que comer pro nosso filhos as custas do nosso suor e do nosso sangue. É isso que eu quero voltar a fazer no Brasil de primeira ordem. Nós vamos cuidar do povo brasileiro como se fosse a minha própria família.
Que que o senhor espera desse último debate? O senhor acha que pode haver alguma virada, um fato novo?
Não tem debate que vire o jogo. Não é possível. Essa campanha tá, embora ela não tenha começado oficialmente há muito tempo, a campanha e a polarização entre eu e o Bolsonaro é a mesma que foi entre eu e o Fernando Henrique Cardoso, é a mesma que foi entre eu e o Serra, a mesma que foi entre eu e Alckmin, a mesma que foi de Dilma e Aécio. O PT é um partido muito grande, o PT foi o segundo de 89, 94 e 98. O primeiro em 2002, o primeiro em 2006, o primeiro de 2010, o primeiro 2014 e o segundo em 2018. Agora vai ser o primeiro outra vez. É uma pena que a gente não tem o PSDB disputando com a gente, mas a gente tenha um facista, sabe? A gente tem a extrema direita violeta disputando conosco. Mas, nós vamos ganhar esse país voltar a ser democrático outra vez. E nós vamos ganhar com muita tranquilidade, em paz, sem aceitar a provocação, sem fazer provocações, nós vamos ganhar porque o povo brasileiro precisa de paz, de amor, de solidariedade e de fraternidade. E ninguém vai largar a mão de ninguém na recuperação da democracia brasileira.
O senhor teme sofrer um atentado?
Não. Não temo. Eu já faço campanha há tanto tempo, ou seja, eu te digo uma coisa, eu acho que eu tenho a proteção de Deus. Deus foi muito generoso comigo. Nascer onde eu nasci em Pernambuco, não morrer de fome até completar cinco anos de idade, só tem um diploma primário e um diploma de torneiro mecânico e chegar a Presidente da República disputando com tanta gente, só pode ter a mão de Deus. Eu posso dizer para vocês: nós vamos ganhar as eleições e vamos governar porque é obrigação de um governo cuidar do povo e eu quero cuidar desse povo.
O senhor tem um minuto para as considerações finais.
Edilene, minha consideração final vai ser te agradecer pela entrevista e esperar que você continue com esse trabalho maravilhoso que você faz na rádio Itatiaia. Dizer para o povo mineiro que Minas é um estado muito grande, Minas não pode ter 1,2 milhão de pessoas passando fome. Minas não pode ter o desemprego que tem. Ou seja, é preciso que a gente eleja a pessoa que tem mais compromisso, por isso que eu estou pedindo voto para o Kalil e por isso que eu tô pedindo voto para Alexandre Silveira. Porque eu preciso do Alexandre no Senado e do Kalil no estado de Minas Gerais, e se o povo quiser votar em mim, eu to Lulinha paz e amor. Fico muito agradecido e eu quero aproveitar e terminar dando um beijo no coração de cada mineiro e de cada mineira. Um abraço e que Deus abençoe vocês.
Confira a entrevista na íntegra (em vídeo):