O Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu habeas corpus parcial e autorizou o sargento do Exército Luis Marcos dos Reis a permanecer em silêncio durante seu depoimento à Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) que investiga os atos criminosos do 8 de janeiro.
Ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Reis tem depoimento marcado para a sessão da CPMI do 8 de janeiro desta quinta-feira (24), às 9h.
A decisão da ministra Cármen Lúcia determina que o sargento deverá comparecer, mas poderá ficar em silêncio.
Veja também: CPMI do 8/1: Sessão é cancelada após divergência sobre sigilos
Depois de a reunião deliberativa de terça-feira (22) da CPMI ser cancelada por falta de acordo, a comissão deve deliberar sobre os próximos requerimentos de convocações e quebras de sigilo na sessão de quinta antes do depoimento do sargento.
Marcos dos Reis foi ajudante de ordens de Bolsonaro. Sargento do Exército, ele movimentou R$ 3,34 milhões entre 1º de fevereiro de 2022 e 8 de maio deste ano, segundo um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Para o Coaf, a movimentação possui indícios de lavagem de dinheiro. O relatório foi enviado pelo órgão à CPMI do 8 de janeiro. A CNN teve acesso às informações.
No documento, o Coaf destaca que a movimentação financeira de mais de R$ 3 milhões é incompatível com a renda mensal de R$ 13,3 mil do sargento.
“Considerando a movimentação incompatível com a renda conhecida do analisado e demais atipicidades apontadas, comunicamos pela possiblidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem de dinheiro, ou com ele relacionar-se”, diz trecho do relatório do conselho.
Dezenas de depósitos
No período analisado, Reis recebeu dezenas de depósitos e repassou parte dos recursos para o tenente-coronel Mauro Cid, que era seu chefe na ajudância de ordens de Bolsonaro.
“Mauro Cid esteve envolvido em pelo menos 5 lançamentos de Reis. As transações, que tiveram Cid como beneficiário e remetente, chegam a quase R$ 85 mil.”
-
Entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023, Reis recebeu R$ 1,5 milhão em sua conta no Banco do Brasil.
-
No mesmo período, saíram da conta R$ 1,46 milhão, grande parte em transferências bancárias.
-
Sem detalhar, o relatório também aponta que o militar teve devolvidos 11 DOCs ou TEDs (transferências bancárias), no valor total de R$ 550 mil.
Prisão
Marcos dos Reis foi preso em maio deste ano, alvo de uma operação da PF sobre fraudes nos cartões de vacinação de Jair Bolsonaro. O ex-ajudante de ordens é suspeito de inserir dados falsos de doses de vacina contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.
Veja também: Relatora da CPMI do 8 de janeiro quer quebra de sigilo de Valdemar Costa Neto
De acordo com as investigações, ele chamou o sobrinho, o médico Farley Alcântara, para validar o cartão de vacinação falso da esposa de Mauro Cid.
Reis também participou dos atos de 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicais invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília.
O militar também sacava dinheiro vivo para pagar as despesas de um cartão de crédito usado por Michelle Bolsonaro, à época em que ela era primeira-dama.
Procurada pela CNN, a defesa de Reis disse que não tomou conhecimento do documento produzido pelo Coaf e não vai se manifestar no momento.
* Publicado por Léo Lopes