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Há 75 anos nascia Zé Rodrix, músico lançado por Elis que criou o rock rural

Cantor e compositor morreu aos 61 anos, em 2009, após sofrer um infarto, e deixou vasta obra na música popular brasileira

Zé Rodrix é autor de clássicos da MPB, como ‘Casa no Campo’, ‘Mestre Jonas’, ‘Hoje Ainda É Dia de Rock’, e muitos outros

José Rodrigues Trindade entrou para a história da música brasileira como Zé Rodrix, cantor, compositor, multi-instrumentista, escritor e publicitário, enfim, um homem de múltiplos talentos, o que pode ser visto em sua diversificada discografia. Zé Rodrix começou sua carreira musical acompanhando Edu Lobo, Marília Medalha e o grupo Quarteto Novo na histórica apresentação de “Ponteio”, em 1967, que venceu aquele primeiro Festival de Música Brasileira...

Na sequência, estourou em todo o Brasil com “Casa no Campo”, parceria com o mineiro Tavito, lançada por Elis Regina, em 1972. No mesmo ano, fundou com Sá & Guarabyra o trio que inventou o rock rural na música brasileira. Juntos emplacaram hits como “Mestre Jonas”, “O Pó da Estrada” e “Hoje Ainda É Dia de Rock”.

Já na década de 1980, ele fundou o grupo de punk Joelho de Porco. Zé Rodrix morreu no dia 22 de maio de 2009, aos 61 anos, vítima de um infarto. O músico nasceu no Rio de Janeiro, no dia 25 de novembro de 1947.

“Casa no Campo” (rock rural, 1972) – Zé Rodrix e Tavito

Durante uma viagem de ônibus pelo interior de Goiás, Zé Rodrix escreveu, em uma folha perdida de papel, o poema que daria origem à canção “Casa no Campo”. Os versos foram entregues para Tavito, acompanhados de uma melodia sugerida.

Quando escreveu a letra, Zé Rodrix contemplava a paisagem através da janela do ônibus, enquanto pensava que sua esposa Lizzie estava grávida e, em breve, ele seria pai. No hotel, Tavito venceu o tédio dedilhando ao violão a melodia da música que se consagraria em 72, lançada por Elis Regina. “Eu quero uma casa no campo…/ Onde eu possa compor muitos rocks rurais…”.

“Hoje Ainda É Dia de Rock” (rock rural, 1972) – Zé Rodrix

Luiz Carlos Sá, Zé Rodrix e Guttemberg Guarabyra criaram um estilo único na música brasileira, conhecido como rock rural. Juntos, os músicos lançaram apenas quatro discos, sendo os dois primeiros na década de 1970, e os dois últimos nos anos 2000, quando se reuniram novamente. Dentre as músicas mais conhecidas desse primeiro momento destacam-se “Zepelim” e “Hoje Ainda É Dia de Rock”, lançadas em 1972, no afamado disco de estreia do trio.

“Mestre Jonas” (rock rural, 1973) – Sá, Rodrix e Guarabyra

O “Peixe com Coco” da Terezinha é outro prato típico da música brasileira, pareando com as delícias transformadas em verso por Dorival Caymmi. Esse samba composto pelo trio Alberto Lonato, Josias e Maceió do Cavaco ganhou a voz iluminada de Clara Nunes, em 1980. Por ser um clube praiano, localizado no litoral de São Paulo, o Santos recebeu o apelido de Peixe. Apesar disso, adotou como mascote a baleia, o maior animal do planeta, e que aparece na canção “Mestre Jonas”, gravada por Sá, Rodrix & Guarabyra, em 1973, no disco “Terra”.

“Soy Latino Americano” (rumba, 1976) – Zé Rodrix e Roberto Livi

Explorando os ritmos latinos, Zé Rodrix lança mão de uma rumba em “Soy Latino Americano”, parceria com o compositor argentino Roberto Livi, que deu nome a seu terceiro disco solo, lançado em 1976, na sequência de “Quem Sabe, Sabe, Quem Não Sabe Não Precisa Saber”. A irreverência também dá o tom da letra, que proclama a virtude da preguiça e da despreocupação como fórmulas para aproveitar e curtir a vida sem pressa, dentro de um ideal hippie e anticapitalista. O clipe lançado no Fantástico mostra Zé Rodrix com um belo bigode e de brilhantinas pelo corpo, e trajando uma espécie de collant dourado.

“Quando Será” (mambo, 1977) – Zé Rodrix e Roberto Livi

Há uma cena tocante do filme britânico “Quatro Casamentos e um Funeral”, de 1994, quando o viúvo da personagem que está sendo velada lê um poema de W.H. Auden a respeito da morte. As palavras revelam a relação da espécie humana com esse acontecimento tão inevitável quanto inesperado, e como o fato de termos consciência da finitude, ao contrário dos outros animais, nos afeta. O mambo “Quando Será”, outra parceria de Zé Rodrix com Roberto Livi toca no tema da morte de um jeito irreverente e debochado ao falar sobre vida.