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Avenida importante do Centro de BH termina ‘escondida’ em morro e fora da Contorno; entenda

Projeto original da capital mineira já previa que a Avenida Bias Fortes terminaria em uma praça no bairro Carlos Prates; local tem vários nomes e vem sendo ressignificado nas últimas décadas

Bias Fortes

O Centro de Belo Horizonte tem dezenas de avenidas importantes e muito famosas: Afonso Pena, Amazonas, João Pinheiro, Barbacena e por aí vai. O começo e o fim dessas vias são conhecidos e, em quase todas elas, há alguma praça em algum ponto. Mas tem uma avenida importante do “Centrão” da capital que termina “escondida” em uma praça no topo de um morro e muita gente nem sabe disso.

Estamos falando da Avenida Bias Fortes, que começa na Praça da Liberdade (bairro Funcionários) e termina depois da Praça Raul Soares, no encontro com a Avenida do Contorno. Certo? Errado! Oficialmente, a Bias Fortes termina do outro lado da Contorno e do Elevado Dona Helena Greco (antigo “Castelo Branco”), lá no bairro Carlos Prates.

Apesar de muita gente não ter nenhuma ideia disso, o ponto final da Bias Fortes é neste local desde…sempre. Isso já era previsto na planta original de Belo Horizonte, de 1895. Na época, a Avenida Bias Fortes se chama “Cristóvão Colombo” e o projeto previa que a via terminasse na Praça da Amethysta.

Mesmo com nomes diferentes, o engenheiro Aarão Reis já tinha definido no projeto que a avenida terminaria naquele local, fora da Contorno (ou 17 de Dezembro, como se chamava na época). Curiosamente, era a única avenida do projeto original que terminava fora do “contorno” de Belo Horizonte sem mudar de nome.

Cristóvão Colombo se torna Bias Fortes

No dia 7 de setembro de 1929, o então prefeito Cristiano Machado dividiu a Avenida Cristóvão Colombo em duas: a primeira parte, entre a Savassi e o Funcionários, manteve o nome. Já a segunda, da Praça da Liberdade até o cruzamento das ruas Patrocínio e Peçanha, já no bairro Carlos Prates, passou a se chamar Avenida Bias Fortes.

O novo nome era uma homenagem ao doutor Chrispim Jacques Bias Fortes, ex-presidente de Minas Gerais (cargo equivalente ao de governador) e um dos responsáveis pela transferência da capital do estado de Ouro Preto para Belo Horizonte. Chrispim Jacques foi pai de José Francisco Bias Fortes (Governador de Minas e Ministro da Justiça) e avô de “Biazinho” (deputado federal).

Amethysta, Zigue-Zague, Satélite ou ‘Pisa na Fulô’?

Já a Praça da Amethysta da planta original de Belo Horizonte passou a ter o nome oficial de Praça Zigue-Zague, de acordo com os registros da prefeitura. Além disso, a “praça” só foi se tornar uma praça mesmo, com bancos e calçamento, lá na década de 1970.

Segundo uma pesquisa feita pelo jornalista João Vitor Rocha, o nome atual é uma referência ao período anterior, quando havia um “descampado” íngreme que levava em direção ao Centro. As crianças desciam o morro escorregando no papelão e “fazendo zigzag”, o que acabou dando nome à praça.

Apesar das poucas fotos e relatos que mostrem como era a praça e o quarteirão final da Bias Fortes no século passado, é muito provável que a região tenha sido afetada pela construção do Complexo da Lagoinha nos anos 1970. Os viadutos que levam ao Centro de Belo Horizonte são acusados de terem “matado” a Praça Vaz de Melo e as ruas que ficam próximas ao complexo.

Nas últimas décadas, a Praça Zigue Zague e o último quarteirão da Bias Fortes vem sendo ocupada e cumprindo seu papel de “praça”. O Bloco Pisa na Fulô adotou o espaço como sede simbólica, espaço de ensaios e palco para o desfile de carnaval. A presença do bloco é tão significativa para o local que o Pisa na Fulô passou a ser até o nome informal da praça no Google Maps.

Em 2022, foi a vez da Pizzaria Forno da Saudade se instalar no local, ocupando um sobrado de dois andares na lateral da praça. Junto com a pizzaria, veio um projeto de pesquisa sobre o bairro Carlos Prates que resgatou as poucas histórias e fotos sobre o local que, mesmo tão perto do Centro de Belo Horizonte, segue sendo desconhecido para muitos moradores da capital das Minas Gerais.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.