Quando pensamos em Lagoa da Pampulha, várias coisas vêm à mente: ponto turístico, bela paisagem, muita água e, infelizmente, muito esgoto. Mas, acredite se quiser, um dos pontos turísticos mais famosos de Belo Horizonte já ficou vazio por quatro anos, e uma foto publicada pelo perfil BH Antigamente nesta semana repercutiu bastante nas redes sociais.
Sim, a imagem acima é real e mostra o bairro São Luiz, com o Colégio Santa Marcelina em destaque e, ao fundo, o espaço da Lagoa da Pampulha totalmente vazia, tomada por grama e areia. A foto foi tirada em 1958, durante a visita do então presidente da república, Juscelino Kubitschek, que vistoriava a reinauguração da Lagoa da Pampulha.
Barragem da Pampulha se rompe
Construída entre 1936 e 1938, a Lagoa da Pampulha tinha 18 milhões de metros cúbicos de água e uma barragem de quase 12 metros de altura. A água da lagoa passou por vários tratamentos para eliminar o parasita responsável pela esquistossomose.
No dia 16 de maio de 1954, 16 anos após a inauguração, os jornais da capital começaram a falar sobre o primeiro vazamento de água “que jorrava com muita força” da barragem. No dia seguinte, uma rachadura de 60 cm de largura por 2 metros de altura foi localizada e fechada com chapas de aço e sacos de areia.
O “reforço” não funcionou e, às pressas, a região começou a ser evacuada, incluindo o Aeroporto da Pampulha. Todos os aviões que estavam nos hangares foram retirados e os voos, transferidos para campos de pouso na região.
No dia 20 de abril de 1954, a barragem se rompeu, e as imagens impressionantes começaram a se espalhar pelos jornais da capital, assim como a água, que invadiu bairros próximos (como Aeroporto) e também os mais longes, como Aarão Reis e São Paulo.
As equipes da prefeitura decidiram fazer aberturas na barragem com o uso de dinamites e, assim, foi possível reduzir o nível de água da lagoa e controlar a situação, descrita como “desastre” pelos jornais. Apesar da quantidade de água que jorrou, nenhuma pessoa morreu ou ficou ferida, mas várias casas e plantações ficaram destruídas. Além disso, muitos casos de doenças causadas pela água poluída foram registrados na sequência.
Reconstrução
A comissão para investigar o rompimento descobriu que a construção da barragem não respeitou o projeto inicial e, com isso, a posição incorreta de alguns drenos teria causado uma pressão intensa na estrutura, causando o rompimento.
Apenas 10 dias após o rompimento, foi aprovada uma abertura de crédito especial de 100 milhões de cruzeiros para não só reconstruir a barragem, mas também alargar a então Avenida Marginal (atual Avenida Otacílio Negrão de Lima) e saneamento da bacia hidrográfica.
“A mundialmente conhecida Pampulha, o bairro residencial mais aprazível de Belo Horizonte, contará com todos os requisitos para seus habitantes e será um dos maiores balneários do Brasil”, dizia o anúncio da Empresa Nacional de Imóveis e Obras.
Durante quatro anos, o cenário da turística Lagoa da Pampulha ficou assim: seco e desértico. O espelho-d’água só voltou em 1958, quando a reconstrução da barragem terminou e a lagoa voltou a se encher de água, mas perdendo quase metade do seu volume de água, que caiu de 18 para menos de 10 milhões de metros cúbicos.
A volta do ponto turístico também fomentou a ocupação da região da Pampulha, que foi tombada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1997, pelo município em 2003 e se tornou um Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2016.
(Com informações de Museu Virtual Brasil, Arquivo Público Mineiro, Arquivo Nacional do Brasil e UFMG)