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Bar do Padre Eustáquio tem estufa com 28 tira-gostos tipicamente mineiros: ‘Que trem doido é esse?’

Serrotinhos, no bairro Padre Eustáquio, abre a série especial Comida, Boteco e os Segredos de Belo Horizonte

Estuda do Serrotinhos tem 28 opções de tira-gostos

Belo Horizonte tem mais de nove mil bares, e muitos deles mantêm uma clientela fiel há décadas graças à tradição e a iguarias tipicamente mineiras, como torresmo, moela, churrasquinho, bolinho de carne e também à cerveja gelada e à cachaça. A Itatiaia inicia nesta terça-feira (23) a série Comida, Boteco e os Segredos de Belo Horizonte, que mostra botecos e comerciantes que apostam em tira-gostos tradicionais, no bom atendimento e na nostalgia para continuarem firmes no mercado. Eles são o rei da estufa, a rainha da sambiquira e o tradicional da Guaicurus.

O rei da estufa

O primeiro ponto de parada é no Serrotinhos Bar, localizado no bairro Padre Eustáquio, lado Noroeste da capital. Clientes garantem que o Serrotinhos tem a estufa com iguarias mineiras mais completa do Brasil. São quase trinta opções de tira-gostos, entre eles torresmo de barriga, moela, rabada, linguiça, almôndega, costela e lambari, com preços a partir de R$ 15. Tudo isso, é claro, acompanhado por aquela cerveja estupidamente gelada e por uma boa cachaça.

Robson Teixeira, de 33 anos, é o dono do bar, que emprega 14 funcionários. Ele é natural de Conceição do Mato Dentro, região Central de Minas, já foi puxador de carro de boi e garçom. Há dez anos, decidiu abrir o próprio negócio.

“Sou do interior e na roça a gente é acostumado a comer esses negócios. Aí eu pensei em trazer a culinária do interior para a cidade grande e foi o que deu certo aqui. No começo, a estufa era pequenininha, tinha dois, três tira-gostos. Daí passou pra quatro, cinco e hoje nós temos 28 tipos de tira-gostos”, contou.

Robson garante que vende até três estufas por dia. Tudo é feito na hora por quatro cozinheiros que se revezam durante a jornada de trabalho. “O carro chefe hoje em dia está sendo o torresmo de barriga, almôndega e o lombo. Não pode faltar a cachaça e a cervejinha”, acrescenta.

‘Trem doido’

Giovanni Abdo Ferreira, 56 anos, e Willian Maycon da Silveira, 21 anos, são garçons no Serrotinhos. Eles dizem que os clientes ficam impactados quando veem a estufa. “Que trem doido é esse?”, surpreende-se o trabalhador. “Assustam, porque a estufa é muito grande. Ficam sem reação, para saber o que eles vão comer primeiro. Sempre perguntam qual é o carro-chefe e a gente indica o torresmo de barriga.

Já Willian diz que a satisfação da clientela é imediata. “Falam que é bom demais de conta. Gostam do tempero, que aqui é forte, da roça. As pessoas saem satisfeitas”.

Tradição

O Serrotinhos bar tem praticamente todos os elementos identificados na tese de doutorado sobre bares defendida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pela pesquisadora Geórgia Caetano de Oliveira dos Santos, de 46 anos. Entre elas, o torresmo, o copo Lagoinha, a cachaça, a cerveja gelada, a hospitalidade, a estufa para armazenar comidas, a decoração e as cadeiras nas calçadas.

“É um ambiente completamente nostálgico. A gente olha e vê que é um ambiente preservado pelo tempo, é um bar original, guarda as características principais da pesquisa, que são a estufa recheada de delícias da gastronomia mineira, como o torresmo, o chouriço caseiro, tem as prateleiras de cachaça, um bar altamente acolhedor e hospitaleiro. Quando a gente chega, o proprietário vai até a gente e oferece o que tem melhor. E isso é muito característico dos bares de Belo Horizonte”, pontua Geórgia.

Amizade no bar

Geórgia destaca ainda a importância dos bares na relação entre as pessoas. “Geralmente, as pessoas costumam voltar nos mesmos bares e os garçons chamam as pessoas pelos nomes. O bar é um lugar essencial para a gente fazer amigos”.

É o caso dos amigos Edson Silveira, de 72 anos, e Lucas Santana, de 45, clientes do Serrotinhos há anos. “Frequento aqui desde quando abriu. É o melhor bar que tem no Padre Eustáquio. O torresmo mesmo é a maior delícia que tem. A carne de lombo deles também não existe”, disse Silveira.

“O tira-gosto é da hora: torresmo de barriga, coxinha, tudo é bom. E o menino (dono) traz da terra dele. É tudo da roça mesmo”, acrescenta Lucas. Torresmo de barriga, uma cachacinha e uma cervejinha. O picolé de carne também é bom”, finalizou.

Veja o que você encontra no Serrotinhos:

Onde fica

Serrotinhos Bar: Rua Pará de Minas, nº 280, bairro Padre Eustáquio - BH

Horário de funcionamento: 6h à meia-noite - Todos os dias da semana

Rainha da sambiquira

Nesta quarta-feira (24), você confere a história da comerciante que vende meia tonelada de churrasquinho de sambiquira por dia.

Veja o vídeo completo no Youtube:

Produção e texto: Rômulo Ávila/ Fotos e vídeo: Naice Dias/ Edição de áudio: Aline Campolina/ Sonorização: Leonardo Martiniano.

Leia mais sobre a série:

Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.