Vaqueirinho: conselheira tutelar revela diagnóstico e sonho de domar leões do jovem

Verônica Oliveira disse à coluna de Carlos Madeira, no UOL, que o jovem tinha diagnóstico de esquizofrenia e histórico familiar do transtorno na mãe e na avó, além de ter sido o único irmão não adotado após a destituição da mãe

Jovem tinha histórico de problemas pisquiátricos

A conselheira tutelar que acompanhava Gerson de Melo, conhecido como “Vaqueirinho”, contou que o jovem de 19 anos — que sonhava em viajar para a África para se tornar domador de leões — morreu neste domingo (30) após entrar irregularmente em uma jaula e ser atacado por uma leoa no zoológico de João Pessoa.

Vídeos gravados por frequentadores do Parque Arruda Câmara, a Bica, registraram o momento em que “Vaqueirinho” acessa a jaula por uma estrutura lateral, se movimenta pelo espaço e desce até uma árvore. Em seguida, é atacado pela leoa.

Segundo conselheira tutelar Verônica Oliveira, episódios semelhantes já haviam ocorrido. “Ele uma vez foi pego já no trem de pouso de um avião que pensava ir para a África. Sorte que as câmeras viram. Ele tinha uma deficiência intelectual visível, mas só conseguiu diagnóstico quando entrou no sistema socioeducativo”, contou à coluna de Carlos Madeira, no UOL, nesse domingo (30).

A conselheira acredita que o jovem sofreu um surto e não compreendeu o risco que corria. “Ele precisava de acompanhamento de saúde mental digno, mas não teve. Todo o poder público falhou com ele, com a família.”

Caminhando sozinho à beira da estrada

A primeira vez que o Conselho Tutelar recebeu Gerson foi quando ele tinha 10 anos, levado por policiais rodoviários federais após ser encontrado caminhando sozinho à beira da estrada, fugido de um abrigo em Pedras de Fogo.

''Quando o policial perguntou, ele disse que tinha fugido de casa em Mangabeira, onde moravam a mãe e a avó. Nós o levamos até lá, sem saber da história, e só então soubemos da verdade. Apesar de a mãe ter sido destituída, ele ainda queria ficar com ela’’.

Depois que a Justiça considerou que a mãe não tinha condições de criar os filhos, Gerson e os quatro irmãos foram destinados à adoção. Todos foram acolhidos — menos ele. “Começou ali uma saga para ele ser acolhido”, lembrou Verônica.

Ela cita um episódio marcante: ''Em 2017, ouvimos de uma coordenadora de uma instituição de acolhimento que ninguém iria adotar uma criança como ele. Esse menino foi negligenciado, privado do direito de ter uma família e de um acompanhamento digno’’, acrescentou.

O laudo

Somente em 2023, Gerson recebeu seu primeiro diagnóstico. O documento, datado de 2 de março daquele ano sugeria retardo mental associado a transtorno de conduta e recomendava assistência contínua. “Esse laudo só veio quando ele já tinha sofrido todos os horrores de violências e violações”, lamentou Verônica à coluna.

Detenções e vulnerabilidade

Ao longo da vida, Gerson foi apreendido diversas vezes por delitos leves e passou por unidades socioeducativas. “Ele gostava de estar lá, se sentia seguro e era medicado”, relatou a conselheira.

Com a maioridade, porém, os atos tiveram consequências mais graves. “Ensinaram ele a ligar motos achadas na rua. Ele pegava, andava e depois deixava na delegacia. Todo mundo aqui o conhecia e ligava pra gente, porque o caso dele era de saúde mental, não de segurança.”

Na semana anterior à morte, ele havia sido preso após tentar arrombar um caixa eletrônico e atirar pedras ao ver uma viatura. Levado ao Presídio do Roger, foi liberado no dia seguinte, após audiência de custódia, e encaminhado para tratamento psiquiátrico. O documento mais recente citava também diagnóstico de esquizofrenia.

Em nota, o Parque Zoobotânico informou que o animal receberá os cuidados necessários e, em nenhum momento, foi considerada a hipótese de eutanásia.

"É importante reforçar que em nenhum momento foi considerada a possibilidade de eutanásia. A Leona está saudável, não apresenta comportamento agressivo fora do contexto do ocorrido e não será sacrificada. O protocolo em situações como essa prevê exatamente o que está sendo feito: monitoramento, avaliação comportamental e cuidados especializados”, informou o Zoo.

Confira nota na íntegra

“A Leona, a leoa do Parque Arruda Câmara, está bem e continuará recebendo todos os cuidados necessários. Após o incidente, ela foi imediatamente avaliada pela equipe técnica e segue em observação e acompanhamento contínuo, já que passou por um nível elevado de estresse.

É importante reforçar que em nenhum momento foi considerada a possibilidade de eutanásia. A Leona está saudável, não apresenta comportamento agressivo fora do contexto do ocorrido e não será sacrificada. O protocolo em situações como essa prevê exatamente o que está sendo feito: monitoramento, avaliação comportamental e cuidados especializados.

A equipe da Bica, médicos veterinários, tratadores e técnicos está dedicada integralmente ao bem-estar da Leona, garantindo que ela fique bem, se estabilize emocionalmente e retome sua rotina com segurança.”

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