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Suspeita de explorar crianças em BH manteve filha e netos em cárcere privado por sete meses

Boletim de ocorrência descreve que vítimas apresentava lesões por diversas regiões do corpo e tiveram suas roupas queimadas”

Terezinha estava de lenço no cabelo, óculos escuro e máscara

Terezinha Pereira dos Santos, presa nessa terça-feira no Centro de Belo Horizonte por suspeita de explorar e abandonar crianças, foi denunciada pela própria filha, em 2012, por cárcere privado. Conforme boletim de ocorrência registro na época, a filha e os netos eram obrigados a realizar trabalhos domésticos (buscar lenha, cozinhar e limpar a casa) em troca de comida. Além disso, conforme a ocorrência, Terezinha batia na filha e nos netos.

“Segundo as vítimas, elas foram agredidas por Terezinha, apresentando lesões por diversas regiões do corpo e tiveram suas roupas queimadas”, diz trecho do documento.

As agressões ocorreram no bairro Vale do Sol, em São Joaquim de Bicas, na Grande BH.

Como informado em primeira mão pela Itatiaia, Terezinha foi presa nessa terça-feira (18), em um ponto de ônibus da avenida Amazonas, no Centro de Belo Horizonte, após um popular informar policiais militares sobre a mulher, que estava com duas crianças, de 5 e 7 anos, e tinha mandado de prisão em aberto.

Terezinha é apontada como falsa avó de duas crianças, de 6 e 9 anos, encontradas abandonadas em um apartamento do bairro Lagoinha, em fevereiro deste ano. Na ocasião, de acordo com a PM, as crianças deram nomes falsos aos policiais, seguindo orientação da suspeita, que não foi encontrada no local.

As crianças estavam há três dias sem comida e banho. Os militares envolvidos na ocorrência só descobriram que os nomes falsos quando foram ao hospital Odilon Behrens para saber informações sobre o estado de saúde. A mãe e as crianças exploradas vieram de Goiás. A suspeita é que a mulher foi atraída por Terezinha com a promessa de emprego.

Silêncio

Terezinha permaneceu em silêncio durante quase todo o interrogatório feito pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), nessa terça-feira (18).

Segundo os investigadores, a mulher só se pronunciou para se defender das acusações e “explicar” o ocorrido.

“Em determinado momento, ela negou explorar os menores e disse que as crianças teriam vindo sozinhas (de Goiás) para Belo Horizonte. Depois, voltou a continuar em silêncio.”

Entenda o caso

O caso envolvendo a suspeita é complexo. As crianças são filhas de uma mulher que está presa em razão da morte de outro filho, de quatro anos, que deu entrada na Upa São Joaquim de Bicas, na Grande BH, com fraturas, queimadura nos tornozelos e desnutrida, no dia 6 de fevereiro. Todos moravam no mesmo endereço e a mãe das crianças seria sogra de Terezinha.

As crianças foram encontradas abandonadas no imóvel do bairro Lagoinha após uma vizinha acionar PM e denunciar que elas estavam há três dias sem comida e banho.

A vizinha que encontrou as crianças afirmou nunca as ter visto no prédio. No apartamento estavam duas mulheres, Terezinha e uma filha, que não foram encontradas em no imóvel.

Filho morto

Conforme registro policial sobre a ocorrência do dia 6 de fevereiro, a mãe disse que dormia com duas crianças em um quarto e o filho que morreu estava em outro cômodo. A mulher contou que as crianças acordaram para fazer xixi e ela encontrou o filho de quatro anos caído no chão de barriga para baixo, com os olhos roxos e sem responder aos chamados. Ela então teria chamado o namorado, que estava no quintal, e levado o menino para a UPA, onde chegou morto.

A mãe apresentou versões diferentes para justificar os ferimentos do filho: ele teria caído e sido queimado por uma lagarta.

Acionada, a PM foi até a casa da família e encontrou as outras crianças com sinais de desnutrição, na casa de uma vizinha. Elas foram levadas ao Conselho Tutelar.

O namorado dela, filho de dona Terezinha, foi preso no dia seguinte por suspeita de participação no crime e, no dia 17 de fevereiro, teve o pedido de revogação da prisão preventiva negado pela Justiça.

Dopada

A mãe das vítimas, que está presa desde o dia 6 de fevereiro. O advogado da mãe das crianças, Gregório Andrade, disse que a cliente era dopada e estuprada pelo namorado.

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Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.