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Vinte pediatras pedem demissão após ‘pressão’ e ‘falta de condições de trabalho’ em UPAs de BH

Grupo criou comitê e cobra solução da prefeitura

Profissionais denunciam más condições de trabalho e assédio moral em meio a pedidos de demissão

“Existe uma pressão enorme sobre o pediatra e falta de condição de trabalho para exercer a profissão”. O relato é de um pediatra que trabalhou durante anos em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte. Na segunda quinzena de junho, ele relatou que pediu demissão, mas o número de médicos a deixar o cargo pode ser ainda superior.

Com o colapso batendo à porta de UPAs da capital, um comitê de enfrentamento foi criado por alguns trabalhadores para alertar sobre o que está ocorrendo dentro das unidades. Em denúncia recente, o comitê disse que 14 pediatras pediram demissão na UPA Norte no início de junho e que seis pediatras deixaram a UPA Leste na semana passada.

Ainda em relato, o pediatra, que optou por não se identificar, disse que os médicos têm deixado as unidades por vários motivos. “Um dos principais fatores foram os abusos provocados pelo gerente da unidade, principalmente da UPA Norte, mas também outros fatores agregaram isso, a falta de condição de trabalho e a precarização dos vínculos, eu sei que junto comigo saíram mais de 10 pediatras”, desabafou.

“Eu gostaria muito que a prefeitura soubesse o que acontece dentro das UPAs e, a partir de então, tomasse providências para que os profissionais pudessem se fixar mais, não só nas UPAs, como também nos centros de saúde. Existe uma pressão enorme sobre o pediatra e falta de condição de trabalho para exercer a profissão. É um desabafo pessoal, mas creio que representa muito dos meus colegas”, completou.

Polly do Amaral, doula e integrante do grupo que denuncia a situação nas UPAs de Belo Horizonte, explicou à Itatiaia como está a situação e quais foram os principais impactos já percebidos.

“A situação nas UPAs de Belo Horizonte é gravíssima, com superlotação, falta de profissionais de várias especialidades e um longo tempo de espera por parte dos usuários para conseguirem atendimento. É um problema que vem acontecendo há algum tempo, e se agravou muito no último mês. Está um verdadeiro caos, principalmente o atendimento de pediatria, que está concentrado nos finais de semana em apenas três UPAs da cidade”, destacou.

“A falta de profissionais e a forma como a prefeitura resolveu estruturar o serviço têm gerado um grande transtorno na vida das crianças doentes que buscam atendimento com suas mães”, completou Polly. Ela define como “inadmissível” o fato de uma criança doente chegar a uma UPA e, sem a disponibilidade de pediatras, ser obrigada a buscar atendimento em outra unidade, arcando com as despesas de transporte.

Polly do Amaral sustenta que o comitê “CRM no SUS-BH, não” é favorável à mudança na Secretária Municipal de Saúde, atualmente comandada por Cláudia Navarro. “Nós já denunciávamos isso desde o começo, acreditamos que precisamos ter uma secretária comprometida com o SUS e experiente em gestão pública. O que não é o caso da secretária atual, que é uma representante do CRM, entidade historicamente contrária aos princípios do SUS”, pontua.

Ela diz que é preciso também apurar os motivos que levaram a tantas demissões na rede, e segundo relatos, há denúncias de más condições de trabalho e assédio moral. "É imprescindível ter equipes completas em número adequado. Contratar apenas médicos como a prefeitura tem feito, não resolve. Acreditamos que o fortalecimento das equipes multiprofissionais tanto na tensão primária como nas urgências é essencial pra qualificar assistência aos usuários e melhorar as condições de trabalho dos próprios trabalhadores”, conclui.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de BH afirmou que “não foi oficialmente comunicada sobre a existência de tal comitê e irá se pronunciar assim que receber uma denúncia formal”. Disse ainda que “está aberta ao diálogo e tem conversado pessoalmente com os profissionais, com o Sindicato dos Médicos e SINDIBEL, discutindo com os mesmos sobre as ações que estão sendo tomadas para enfrentamento da crise”.

Jornalista formado na PUC Minas. Experiência com reportagens, apresentação e edição de texto em televisão, rádio e web. Vivência em editorias de Cidades e Esportes.
Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.